Passeio com animais é proibido em três destinos turísticos do Nordeste

Publicado em 11/01/2024, às 15h08
Reprodução -

Folhapress

Alguns dos destinos turísticos mais badalados do litoral nordestino, Jericoacoara, no Ceará, e Morro de São Paulo e Boipeba, ambos na Bahia, proibiram o transporte com tração de animais -como cavalos, burros e jumentos- em suas praias e em áreas das vilas.

LEIA TAMBÉM

A medida foi adotada pelas prefeituras de Jijoca de Jericoacoara (278 km de Fortaleza) e Cairu (175 km de Salvador) após denúncias de maus-tratos a animais nos últimos meses. No caso da cidade cearense, o decreto, que entra em vigor no próximo dia 12, também proíbe passeios de montaria.

Em Jericoacoara, a ouvidoria da prefeitura afirma que colheu diversos relatos de turistas que se disseram impactados negativamente com a situação precária em que os animais foram encontrados.

Em um dos relatos, um turista de São Paulo afirmou que a mulher dele e as filhas choraram ao ver os cavalos ofegantes e sem ar puxando uma charrete na subida de um morro íngreme. Em outra denúncia, uma turista mineira disse ter visto um jumento com a pata fraturada puxando uma carroça.

A carioca Fernanda Marçal de Rivoredo, 45, frequenta as praias do Ceará há três anos e está entre as pessoas que denunciaram os maus-tratos.

"A minha indignação maior foi o passeio na pedra furada, em Jeri. Bichos passando mal debaixo do sol, um monte de gente em cima das charretes, não se vê galão de água, comida, nada. Saí chorando desse passeio", conta.

Os relatos motivaram uma recomendação do Ministério Público do Ceará, que alega que a proibição do transporte de tração animal para passeios turísticos cumpre a política estadual de proteção animal e garantia do bem-estar.

Na recomendação, o promotor cita que a utilização dos animais para passeios configura a prática de maus-tratos, o que inclui falta de descanso, ausência de água, trabalho sob o sol e alimentação aquém da necessária, além de castigos físicos e açoites.

A veterinária Talita Zehuri, 48, que há 13 anos faz um trabalho voluntário com os equinos na região de Jericoacoara, afirma que os animais não recebem qualquer tipo de assistência médica, nem cuidado ou respeito.

"Os animais que fazem esse tipo de passeio de tração bebem água só à noite. Muitos desmaiam nos trajetos, além de [adquirir] uma série de feridas e machucados", afirma a veterinária, que defende a proibição do uso de animais em atividades turísticas em todo o território nacional.

Quem trabalha com os animais na vila, contudo, afirma que não há maus-tratos, caso do cavaleiro Dione Julião Teixeira, que possui três cavalos usados em passeios de montaria.

"Não usamos chicotes nem equipamentos para bater nos cavalos. Os passeios são muito tranquilos", afirma. Ao menos 45 trabalhadores que atuam no segmento na vila ficarão sem fonte de renda.

O charreteiro Gustavo Anselmo Vasconcelos, 29, afirma que sempre respeitou as normas locais, fazendo rotas de quatro quilômetros, entre ida e volta, com intervalos para o animal descansar. "Estou de mãos atadas. Não sei o que faço, preciso sustentar dois filhos pequenos", diz.

A gestão do prefeito Lindberg Martins (PSD) afirma que os trabalhadores afetados pela proibição serão inseridos em outras atividades econômicas.

Presidente do Conselho Empresarial de Jericoacoara, Delphine Estevenet diz que grandes empreendimentos hoteleiros na região oferecem passeios de montaria aos seus hóspedes.

"Sou contra o animal ser obrigado a puxar uma charrete ou ser colocado sem a saúde adequada para os passeios de montaria. O passeio de charrete tem uma rota sofrida. Eu adoro os cavalos, cuido deles e acho que a montaria é o passeio mais lindo e sustentável da Vila de Jeri", afirma.

Medida semelhante foi adotada em 3 de janeiro em Morro de São Paulo e Boipeba, destinos turísticos da Bahia que receberam mais de 400 mil visitantes no ano passado.

O prefeito de Cairu (BA), Hildecio Meireles (União Brasil), assinou o decreto depois que viralizou um vídeo no qual um cavalo aparece passando mal na praia depois de puxar uma charrete cheia de turistas.

Claudio Brito, secretário de Turismo do município, afirma que a decisão foi tomada em conjunto com associações locais e que a prefeitura vai estudar medidas para amparar os donos das carroças.

Quem descumprir a regra estará sujeito a multas que variam de R$ 350 a R$ 1.100, além da apreensão da charrete.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

MPT resgata 163 operários chineses em condições de escravidão na Bahia Turista de SP morto em Jericoacoara foi confundido com membro de facção rival, diz polícia Estilista morre em incêndio no apartamento onde vivia no Ceará Casal e bebê de 1 ano que estavam em ônibus na BR-116 iam passar Natal na Bahia