Agência Alagoas
As chances de sobreviver a uma parada cardiorrespiratória (PCR) são de cerca de 10%, de acordo com a American Heart Association. E para isso acontecer, é necessário que a ressuscitação cardiopulmonar seja feita rapidamente, garantindo circulação e a oxigenação do cérebro.
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E o que podemos esperar de uma pessoa que sofreu seis paradas cardiorrespiratórias? A resposta mais lógica seria imaginar que ela não sobreviveu, que está com graves sequelas ou internada em um hospital sem nenhuma perspectiva da equipe médica.
Mas nenhuma dessas respostas se encaixa com a história de Adriano Barbosa da Silva, 37 anos, que no dia 27 de setembro sofreu seis paradas cardiorrespiratórias. Foram mais de 60 minutos com os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Alagoas fazendo as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) para salvar a vida do paciente.
A parada cardiorrespiratória aconteceu, provavelmente, em decorrência de um tromboembolismo pulmonar como complicação pós-operatória de uma cirurgia prévia no pé.
Quem esteve ao lado de Adriano desde o início foi Cristina, esposa. “Tudo começou perto das 15 horas, quando o Adriano começou a sentir fortes dores na região do tórax, suando frio e muito pálido. Liguei logo para o irmão dele pedindo ajuda. Assim que o Sérgio chegou fomos em direção ao Ambulatório 24 Roras João Fireman, que fica perto da nossa casa aqui no Jacintinho”, disse a esposa.
Foi nesse momento que Cristina, o irmão e a sogra de Adriano encontraram com a equipe da Unidade de Suporte Avançado (USA) do Samu, formada naquele dia pela médica Myra Leão, pelo condutor socorrista Adriano Macena, pela técnica de enfermagem Aldenice Silva dos Santos e pela enfermeira Ana Claudia Gomes Quirino.
Equipe estava atendendo outra ocorrência
A equipe da USA 05 estava no ambulatório 24 horas porque foi acionada, inicialmente, para fazer a transferência de um paciente que apresentava um quadro respiratório grave, que deu entrada na unidade de saúde e deveria ser transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE).
“Quando estamos nos preparando para o transporte, um segundo paciente deu entrada na unidade de saúde sendo carregado nos braços pelo irmão. E como o Adriano já estava desacordado, a esposa dele entrou na unidade gritando por socorro. Deixamos o primeiro paciente aos cuidados dos profissionais da unidade de saúde e nos concentramos em salvar a vida do Adriano”, lembrou a médica.
Nesse momento, médica, enfermeira, técnica de enfermagem e o condutor socorrista pegaram todos os equipamentos necessários que compõem uma USA, também conhecida como UTI Móvel, como desfibrilador, laringoscópio, medicações, tubos, cilindros de oxigênio e iniciaram ciclos de ressuscitação cardiopulmonar.
Segundo o condutor socorrista Adriano Macena, em um determinado momento, a equipe percebeu que o nível do oxigênio (O2) no cilindro estava baixo, e o paciente precisava de mais O2.
“Nós não tínhamos outro cilindro na viatura, já tínhamos solicitado a substituição para a central de regulação, mas percebi que não daria tempo para esperar, então entrei em todas as salas do ambulatório até que achei um cilindro de O2 para continuarmos o atendimento com a mesma eficiência”, disse o socorrista.
Depois de todos os procedimentos realizados, administração de medicamentos, os socorristas do Samu, em conjunto com os profissionais da unidade de saúde e os familiares de Adriano, fizeram rodízios nas compressões cardíacas. Com isso, o paciente teve ritmo cardíaco e pulso regularizados; e foi encaminhando para o HGE com pressão arterial de 140×90, frequência cardíaca de 110 batimentos por minuto e nível de oxigenação sanguínea em 100%.
22 dias internado
Após a estabilização do paciente, a equipe da USA 05 levou Adriano imediatamente para o HGE, local onde ficou durante 17 dias na UTI e depois foi transferido para o Hospital Vida, ficando mais cinco dias internado, onde precisou fazer sessões de hemodiálise até voltar para casa, em 18 de outubro.
Para agradecer pelo atendimento, Adriano reencontrou com a equipe da USA 05 nesta quinta-feira (21), em casa, e sem nenhuma sequela das seis paradas cardiorrespiratórias sofridas há quase dois meses.
Para Adriano, a visita dos socorristas do Samu tem um significado enorme para ele e para toda a família. “Eles salvaram a minha vida! Recebê-los na minha casa foi emocionante; eles vieram até aqui com toda a atenção e com muito amor. Foi Deus quem colocou essas pessoas para me salvar naquele dia. Sou muito grato a cada um deles por não ter desistido e ter me concedido um atendimento primoroso”, agradeceu Adriano.
Muitos familiares estiveram presentes, entre eles o pai de Adriano, o senhor Francisco Barbosa, que também presenciou as PCRs do filho e estava pronto para fazer as compressões quando Adriano retornou.
“Nós só temos a agradecer por todo o empenho que essa equipe fez para salvar a vida do meu filho. Eu não sabia da qualidade e eficiência dos profissionais que trabalham no Samu; eu nunca tinha visto um amor tão grande pela profissão e em momento nenhum eles desistiram de salvar a vida do Adriano”, agradeceu o pai.
Segundo a enfermeira Ana Claudia Gomes Quirino, encontrar com um paciente é sempre algo muito especial.
“Para nós que estamos diariamente na rua, é gratificante poder encontrar um paciente depois de uma ocorrência. Presenciarmos o Adriano praticamente sem vida e poder vê-lo, abraça-lo e conversar com ele, é algo indescritível”, disse a enfermeira.
Atendimentos cardíacos em 2019
De janeiro a outubro deste ano, os socorristas do Samu Alagoas saíram para mil ocorrências cardíacas, sendo 650 atendimentos feitos pela Central de Regulação de Maceió e 350 assistências pela Central de Regulação em Arapiraca.
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