Opinião “As questões que estão em jogo nas eleições municipais muitas vezes se sobrepõem aos temas nacionais”

Publicado em 10/09/2024, às 17h50

Redação

Nem toda disputa política se dá entre esquerda raivosa e direita radical.

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Muitas vezes um candidato meio termo, do ponto de vista ideológico, consegue convencer um número maior de seguidores e se dá bem.

Na eleição municipal, prevalecem questões mais ligadas à comunidade, como explica Nuno Vasconcellos:

“… Eleições municipais — como comprovam não só os estudos feitos pelos cientistas políticos, mas a própria tradição política brasileira — não se decidem pelos menos critérios que orientam as escolhas no campo federal e estadual. Nelas, de um modo geral, as escolhas são motivadas por problemas muito mais objetivos e visíveis do que as razões que definem os votos no âmbito estadual ou federal. Apresentar a solução para uma cratera pode não eleger um deputado, mas a promessa de tapar os buracos nas ruas de um determinado bairro pode eleger um vereador.

Muitas vezes, a possibilidade de solução de um problema local faz com que os eleitores se unam em torno de siglas e candidatos que não teriam a mesma acolhida numa eleição para deputado ou governador. E isso não acontece apenas nas grandes cidades, como é o caso do Rio, mas também em municípios menores e estados de outras regiões do país.

No início dos anos 1980, para citar um exemplo que anda meio esquecido, nada havia de mais importante no plano nacional do que a redemocratização. Todas as escolhas giravam em torno desse propósito e os políticos se dividiam entre os que queriam e os que não queriam a permanência dos militares no poder. Foi naquele ambiente polarizado que o compositor Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, anunciou a intenção de disputar a prefeitura de sua cidade natal, Exu, em Pernambuco, pelo PDS (partido criado em 1979 para apoiar os governos militares).

Para muita gente comprometida com a redemocratização que admirava Gonzagão pela música, a filiação ao ‘partido da ditadura’ foi um pecado imperdoável e ele foi apontado como traidor. Acontece que o velho Lua, como era conhecido, não estava preocupado com a situação nacional. O que ele queria era simplesmente por um fim à guerra entre as famílias Sampaio e Alencar, que se estendeu ao longo de três décadas, gerou várias mortes e transformou a pequena Exu em sinônimo de violência no Brasil.

Gonzaga não chegou a disputar a prefeitura, mas a simples intenção de se candidatar gerou um debate que, no final das contas, foi suficiente para apaziguar os ânimos na região da Chapada do Araripe. Isso é apenas um exemplo e mostra que as questões que estão em jogo nas disputas municipais, em algumas circunstâncias, se sobrepõem aos temas nacionais e suas soluções dependem de decisões tomadas de baixo para cima.

Ponto final…”

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