Redação
O evento jurídico promovido em Portugal por Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, continua gerando controvérsias.
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O “Gilmarpalooza”, apelido dado ao evento, teve uma defesa velada feita por Flávio Dino, que já foi juiz federal, governador do Maranhão, senador, ministro da Justiça de Lula e atualmente é colega de Gilmar Mendes como ministro do STF.
Essa situação é avaliada por Walter Maierovitch, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo:
“O ministro do STF Flávio Dino havia sido um juiz federal independente, imparcial, equidistante das partes processuais e, também, dos interessados que usam da sedução e exploram aquilo que Santo Agostinho chamou, na Cidade de Deus, de vanglória, a glória vã.
Dino demonstrou, como juiz, que conhecia e dominava os ramos do Direito, mostrou-se culto e justo.
Renunciou à magistratura federal e foi para a vida política partidária. Venceu, politicamente e triunfou, como David, a batalha contra o ‘Golias’, ou melhor, Sarney.
Reduziu a pó de traque a dinastia dos Sarney, conhecida por ações e espírito de senhores feudais, junto aos pobres e esquecidos cidadãos do estado do Maranhão.
Na política, Dino, e basta atentar para a sua trajetória e ao número de eleições ganhas, teve sucesso.
No Ministério da Justiça e Segurança Pública, Dino fez campanha para obter cadeira no STF, junto a Lula. Com o filolulista Ricardo Lewandowski disponível e com currículo invejável para servir no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Dino foi ocupar a suprema vaga aberta.
Com pouco tempo de STF, Dino, como já percebido até pelos ‘capinhas’ que auxiliam nas sessões (usam meia capa preta e não togas talar, ou seja, cumpridas até o talo de Aquiles), aproximou-se do decano, ministro Gilmar Mendes.
Convidado para a 12ª edição do ‘Gilmarpalooza’, o ministro Dino aceitou e aderiu ao grupo liderado por Gilmar Mendes, que tem o ministro Dias Tóffoli como sabujo-mor, dados os infinitos elogios e deferências mostrados, via TV Justiça, nas sessões.
Até aí, vá lá. Agora, defender o ‘Gilmarpalooza’ de unhas e dentes, em uma adesão ao corporativismo togado, Dino sujou a imagem e fez-se parecer a um aderente aos panos de sacripanta.
A defesa feita por Dino ao ‘Gilmarpalooza’ soou um ‘jabá togado’.
Para os que têm olhos de ver e sentir, pareceu um agrado de Dino pelo seu ingresso na “playlist” do ministro Gilmar Mendes, o magistrado e político mais poderoso do Brasil.
Além de elogiar um evento que representa uma violência à sociedade brasileira, — e a respeito não vou repetir o frisado na minha coluna anterior à presente —-, Dino soltou uma pérola. Isso ao tentar inventar uma justificativa para as realizações do ‘Gilmarpalloza’ em Lisboa e não no Brasil.
A propósito, o evento ‘Gilmarpalooza’ nunca despertou o interesse dos portugueses, mas sempre foi de grande interesse a lobistas e pendurados em ações no STF. E até em manutenção da decisão monocrática de Tóffoli a suspender pagamentos em bilionários acordos de leniência.
No ‘Gilmarpalooza’, frise-se, marcou presença a elite predatória brasileira, os oportunistas de todas as ideologias e os ‘donos do poder’, para voltar a usar o título de um dos mais importantes livros explicativos do Brasil, do saudoso jurista gaúcho Raimundo Faoro.
Não havia segurança para a realização do ‘Gilmarpalooza’ no Brasil, sustentou Dino, já ministro da pasta de Segurança Pública. Usou da polarização e do extremismo bolsonarista. Da violência impeditiva, da falta de tranquilidade e segurança aos participantes e quejandos delirantes.
Esqueceu-se Dino das edições anteriores, ocorridas bem antes do golpe de Estado engendrado por Bolsonaro e apoiados por alguns dos presentes nessa 12ª.edição do ‘Gilmarpalooza’.
O argumento atenta à inteligência do cidadão brasileira. No Brasil, qualquer evento é seguro. E o ‘Gilmapalooza’, para a população, não despertaria nenhum interesse. Manifestações de Bolsonaro e Lula ocorreram, recentemente, sem nenhum incidente e com muitos participantes.
Para usar uma expressão da predileção de Gilmar Mendes, infinitamente repetidas, a justificativa de Dino tornaria, pelo caradurismo, rubra a face de um monge de pedra.
Já não bastasse ao brasileiro saber da presença no ‘Gilmarpalooza’ do presidente do STF, um ex-desafeto do ministro Mendes e agora aliado em questões corporativas, tivemos o jabá de Dino.
Quando Dante Alighieri aproximou-se da barca de Caronte, isto no ingresso ao Inferno, ouviu do transportador das almas penadas, Caronte, a expressão: ‘Oi, você vindo a este doloroso lugar, atenção, olhe bem, como entras e em quem vais confiar e não engana-te com a amplidão do ingresso’.
Como realizei uma tradução livre, adaptável ao descrito no comentário, segue o original: ‘Oh tu che vieni al doloroso ospizio… guarda com´entri e di cui tu ti fide, non t´inganni l´ampieza de l´entrare’.
Dino teve as portas abertas do ‘Gilmarpalooza’. Entrou para o grupo, mas, na foto de Lisboa, revela um lado tendencioso e até bobagem grossa falou para defender o indefensável.
Atenção! Nesta coluna fomos um dos primeiros a defender haver sido feliz a indicação do ministro Flávio Dino para o STF.”
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