João Pedro Pitombo / Folhapress
A operação da Polícia Militar iniciada nesta segunda-feira (4) nos bairros do Calabar e Alto das Pombas, em Salvador, tem um saldo de oito presos, dez mortos e 17 pessoas que ficaram em cárcere privado sob ameaça de bandidos, mas foram soltas após negociação com os policiais.
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Os confrontos permanecem nesta terça-feira (5) nas ruas dos bairros, deixando escolas sem funcionar, parte do comércio fechado e moradores fugindo de suas casas em busca de um pouso mais seguro.
O conflito começou ainda no fim de semana, quando bandidos ligados à facção Comando Vermelho invadiram os bairros armados com fuzis e pistolas para expulsar criminosos da facção local BDM (Bonde do Maluco) e passar a dominar o tráfico de drogas na região.
Com cerca de 10 mil moradores, as duas comunidades estão encravadas em meio a uma região central da cidade, próxima de bairros ricos como Barra, Ondina e Graça. Na segunda, houve tiroteios nas proximidades do cemitério Campo Santo, um dos maiores da cidade, que fica em uma das entradas do Alto das Pombas.
A ação das forças de segurança da gestão Jerônimo Rodrigues (PT) mobilizou cerca de 60 policiais, que entraram nas comunidades ainda na manhã da segunda-feira. A polícia informou que houve trocas de tiros com criminosos ao menos seis vezes, sendo cinco na segunda-feira e uma na manhã desta terça.
Ao todo, dez suspeitos foram mortos em confronto com os policiais, sendo três deles na manhã desta terça.
Na operação realizada nos bairros do Alto das Pombas, Calabar e Federação, a polícia apreendeu 14 armas de fogo, sendo 6 fuzis e 8 pistolas. Também foram apreendidas granadas, drogas e munição.
Com estas apreensões, chega a 44 o número de fuzis apreendidos pela polícia na Bahia em 2023, o dobro do registrado em todo o ano passado.
Durante a ação da polícia, 17 moradores foram feitos reféns pelos bandidos em três imóveis. Todos os reféns foram libertados sem ferimentos após negociações conduzidas pelo Bope (Batalhão de Operações Policias Especiais).
Os primeiros casos de cárcere privado aconteceram ainda pela manhã após três homens invadirem dois imóveis no Alto das Pombas. Um deles manteve cinco pessoas reféns e outros dois, em uma casa vizinha, mantiveram dois moradores em cativeiro.
No final da tarde, bandidos mantiveram em cárcere privado dez pessoas de uma mesma família, incluindo crianças e idosos.
SECRETÁRIO NEGA POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO FEDERAL - Em entrevista nesta terça-feira, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, classificou a ação da polícia como uma resposta a grupos criminosos que tentam demonstrar poder bélico e desafiar as forças de segurança, causando pânico e temor na população das periferias.
Werner ainda descartou a possibilidade de uma intervenção federal na segurança pública da Bahia: "A gente tem mostrado, pelas ações que estão sendo realizadas ao longo deste ano, que estamos fazendo frente ao crime".
Comandante-geral da Polícia militar da Bahia, o coronel Paulo Coutinho destacou que as ações de policiamento ostensivo no Alto das Pombas e Calabar devem permanecer nos próximos dias e que não há previsão de encerramento.
Ele classificou como natural a saída de moradores das comunidades conflagradas, afirmando que este é um "efeito colateral" do enfrentamento.
"A gente se solidariza com esses moradores. Mas as forças de segurança estarão presentes. Vamos reestabelecer a paz e dar tranquilidade à grande maioria dos seus moradores que em maioria são pessoas de bem e trabalhadores", disse.
A Bahia enfrenta um de seus momentos mais graves na gestão da segurança, com o acirramento da guerra entre facções, chacinas e escalada da letalidade policial, com epicentro nas periferias das cidades, cujas famílias vivenciam a morte diária de uma legião de jovens negros e pobres.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam a Bahia como o estado com maior número absoluto de mortes violentas do Brasil desde 2019. Em 2022, o estado conseguiu reduzir em 5,9% o número de ocorrências, fechando o ano com 6.659 assassinatos.
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