TNH1 com TV Pajuçara
O pesquisador com pós-doutorado em Ciências Aquáticas, professor da Universidade Federal de Alagoas, Emerson Soares, alertou que os órgãos e gestões governamentais precisam adotar políticas de ordenamento de atividade, além de outras ações, para que a pesca e a reprodução do sururu possam ter ciclos normalizados nas lagunas do estado.
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Em entrevista nesta segunda-feira, 19, ao programa Fique Alerta, da TV Pajuçara/Record TV, o especialista explicou o que tem motivado o sumiço do sururu nas lagoas.
"O problema na lagoa é muito sério. Temos um acúmulo de muito sedimento, de muita matéria orgânica, de muitos poluentes. Isso prejudica o desenvolvimento da espécie nativa. Além desse fator, tem a diminuição da salinidade nesta época. A gente já vem alertando que o sururu nativo vem diminuindo o seu estoque, precisa de políticas de ordenamento da atividade, haja vista que estão também com uma ou mais espécie exótica, mas está caracterizado que eles têm a competição como a espécie exótica. Então, além dos problemas que o complexo lagunar tem, em especial a Lagoa Mundaú, essa laguna de 27 km², ali tem a competição com essa espécie exótica, que faz com o que o animal consiga competir pelo mesmo alimento, lembrando que esse alimento, que é o fitoplâncton, microalgas, plantinhas aquáticas que eles filtram e se alimenta, está cada vez menor a quantidade no ambiente. Adicionalmente a essa questão, a diminuição da salinidade faz com que o sururu não consiga recuperar o seu estoque e ter aquela produção de anos e décadas anteriores, que chegavam a seis mil toneladas por ano na laguna".
Foto: Reprodução / TV Pajuçara |
Segundo o professor, questões de esgotamento sanitário precisam ser tratadas na região do complexo lagunar.
"A laguna Mundaú tem cinco fontes de poluentes muito intensas: três são de Maceió, são esgotos. A outra é o Rio Mundaú. A outra área é próxima à região de Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte. Então, tem que combater primeiramente esses esgotos, esse lançamento de poluentes agroquímicos que aparecem ali. Essa é a primeira opção. Tratamento de efluentes, saneamento básico, recuperação da área florestada marginal, porque vem muito assoreamento, esse assoreamento fica depositado na laguna com mais de três metros de depósito de sedimento. E o animal fica sendo coberto por essa quantidade de sedimento na região", disse o professor, continuando em seguida.
"Consequentemente, medidas de ordenamento da atividade para que a gente respeite o tamanho mínimo desse sururu e ele consiga reproduzir e gerar novos estoques. É isso que precisa fazer. Além disso, é preciso combater a espécie exótica. Ela não vai ser extinta ainda, está se adaptando a região, mas tem como trabalhar também para usufruir dela, dela ter alguma viabilidade econômica, justamente para o pescador conseguir tirá-la da laguna e diminuir o estoque desta espécie exótica que compete com a espécie nativa".
Pesca desordenada em outras lagunas pode gerar o mesmo problema - "Por isso que políticas de ordenamento têm que ser feita na região. Uma vez que você entra num ordenamento da atividade, isso pode ser regulado, trabalhado com as colônias, com o Ministério da Pesca, que foi criado recentemente, com políticas inclusivas para ouvir o pescador falar também da questão do defeso. Para se ter o defeso, tem que entender o ciclo reprodutivo dele e saber o momento de parar de tirar o animal para ele reproduzir. O de Roteiro, quando as pessoas não têm (na lagoa Mundaú), vão atrás do Roteiro, o que encarece também, mas daqui a pouco a gente vai ver problema com Roteiro. Porque se não controlar o estoque de Roteiro, não tiver medidas de ordenamento, daqui a pouco vai acontecer a mesma coisa que está acontecendo na laguna Mundaú, com um diferencial: a Mundaú é a laguna mais poluída que nós temos, em relação à Manguaba e a de Roteiro. Se tivermos todas essas medidas atreladas, com políticas sérias em relação à proteção do estoque, vamos conseguir ter sustentabilidade da atividade. Enquanto isso, vamos viver nesta situação, que ano após ano vem prejudicando a classe dos pescadores e marisqueiras que dependem realmente deste recurso para sobreviver".
Parceria com os órgãos - "Sim, o Ministério Público Federal criou um fórum em defesa da Lagoa Mundaú. Envolve mais de 20 instituições para debater políticas para tentar solucionar os problemas ou trazer políticas públicas para resolver os problemas, que não são apenas em relação ao sururu, mas envolvem planejamento urbano, saneamento básico, monitoramento dos organismos aquáticos. No dia 5, estivemos coletando material lá. Encontramos uma grande quantidade de peixes mortos. Ali é constante e comum, porque é um problema grave de poluição e ausência do poder público. Temos uma parceria com o MPF, com o Ministério da Pesca e Agricultura, que vai se efetivar em um projeto na laguna, estive em Brasília semana passada debatendo recursos para trazermos para a laguna. Temos o contato com a Classe de Marisqueiras, entre outras instituições".
Medidas imediatas - "O que a gente precisa ter é medidas mais efetivas. O povo da laguna Mundaú não pode esperar tanto tempo. A gente tem que ser mais efetivo para que essas políticas se tornem robustas na resolução do problema. Muitas vezes sair daquela parte de demora, de burocracia, e ser mais ágil na resolução do problema. Monitoramento a gente já tem, dados a gente já tem confiáveis. O que falta agora é unir esforços e termos medidas efetivas para que isso se torne realidade e venha a ajudar a população dos marisqueiros e os organismos que estão ali e vão nutrir e gerar emprego ao pessoal que vive na laguna".
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