Joelmir Tavares e Carolina Linhares/FolhaPress
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) vão disputar o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo.
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A projeção feita pelo Datafolha às 19h35 com base na votação computada até então foi confirmada por volta das 21h10 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Com 99,52% das urnas apuradas, Nunes tinha 29,49%, Boulos, 29,06%, Pablo Marçal (PRTB), 28,14%, Tabata Amaral (PSB), 9,92%, Datena (PSDB), 1,84%, e Marina Helena (Novo), 1,38%.
A corrida chegou à reta final indefinida, em um empate triplo nas pesquisas com Marçal, que chegou a ser recebido com entusiasmo entre os eleitores de direita e, depois de factoides e ofensas pessoas contra os rivais ao longo da campanha, divulgou um laudo falso contra Boulos na última sexta-feira (4) para associá-lo ao consumo de drogas.
Nos últimos dias, o clima foi de apreensão nas campanhas de Nunes e Boulos, já que ambos corriam o risco de serem substituídos pelo influenciador que roubou o protagonismo do pleito na capital, mas acabou fora da disputa, alvo de repúdio inclusive de adversários do deputado do PSOL devido ao laudo falsificado, além de ter perfis em redes sociais derrubados pela Justiça e entrar na mira de investigações policiais e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O enfrentamento entre o candidato de Jair Bolsonaro (PL) e o de Lula (PT) no segundo turno confirma a previsão inicial das campanhas, que foi colocada à prova diante do fenômeno Marçal e das reviravoltas em uma disputa marcada pela agressividade verbal e até física, com uma cadeirada e um soco em debates tensos.
A presença dos dois padrinhos, no entanto, foi menos ostensiva do que se pretendia, o que acabou por esvaziar, ao menos no primeiro turno e também graças ao terceiro oponente do PRTB, o caráter nacional da eleição na capital paulista, antes pintada como um terceiro turno da polarização entre lulistas e bolsonaristas vista em 2022.
Na véspera da eleição, Boulos despontou à frente das pesquisas numericamente, o que levou até o momento final a dúvida de quem seria seu oponente na segunda etapa, Nunes ou Marçal.
O prefeito passou por pouco, apostando em uma estratégia de evitar a ideologia e exaltar entregas e obras, enquanto pôde contar com a verba e tempo de TV da maior coligação, além da máquina municipal.
O que não estava previsto era que o apoio de Bolsonaro seria quase inexpressivo, algo que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) buscou compensar. O governador se dedicou além do esperado e bateu ponto nas agendas, na TV e na articulação de bastidores —troca que acabou comemorada pela coligação, dada a menor rejeição do governador em relação a Bolsonaro.
Apesar de ter indicado o vice, o coronel bolsonarista Ricardo Mello Araújo (PL), Bolsonaro resistiu a se engajar na campanha de Nunes, o que não seria ruim para um MDB cujo plano era justamente evitar a nacionalização pretendida pela dupla Boulos-Lula e posicionar o prefeito ao centro.
Não seria ruim se não fosse a chegada arrasadora de Marçal entre o eleitorado conservador com sua versão modernizada do discurso "Deus, pátria e família", que Nunes demorou a abraçar e que Bolsonaro evitou combater.
Empatado com Marçal em diversos momentos da disputa, Nunes foi obrigado a fazer concessões para a direita bolsonarista, como voltar atrás na defesa da obrigatoriedade da vacinação contra Covid, e teve uma campanha no fio da navalha, como definiu um deputado apoiador.
Para viabilizar sua reeleição, Nunes obteve o apoio do PL de Bolsonaro e outras 11 siglas, alcançando 65% do tempo de propaganda no rádio e na TV —trunfo que não vale para o segundo turno, quando essa divisão é por igual entre os candidatos.
Para Boulos, a ida à próxima fase representa um alívio momentâneo após o risco de ficar fora do segundo turno e, com isso, impor uma derrota também a Lula, principal fiador de sua candidatura e incentivador da nacionalização da eleição paulistana.
Na primeira eleição municipal sem o PT com cabeça de chapa em uma candidatura, Boulos enfrentou dificuldade para ser associado ao padrinho Lula e também para atrair eleitores que apoiaram o petista em 2022 e que historicamente votam no
PT, como os de baixa renda e moradores da periferia. A expectativa agora é que o mandatário tenha no segundo turno uma atuação mais forte nas ruas e na articulação política.
O presidente foi menos presente na cidade do que a própria campanha de Boulos esperava, apesar de ter aparecido nas propagandas. Desmarcou a presença em um dia de atos e adiou uma live, o que foi atribuído a compromissos da agenda. O presidente esteve em apenas dois comícios, no dia 24 de agosto, e em uma caminhada na avenida Paulista neste sábado (5), véspera da votação.
Em sua segunda candidatura a prefeito de São Paulo —a primeira foi em 2020, quando acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB) no segundo turno—, Boulos tem como vice a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que retornou ao PT numa costura de
Lula para ocupar a vaga. Ela, que integrou a gestão Nunes até o fim do ano passado, acoplou à chapa um discurso de experiência que se combina com a juventude do deputado.
O candidato, que foi catapultado à vida política pela atuação por mais de 20 anos no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), iniciou meses antes do processo eleitoral uma operação para suavizar a imagem, em tentativa de superar os adjetivos de radical e invasor.
As pechas, intensamente exploradas por adversários, foram responsáveis por manter sua rejeição em alta ao longo da campanha —o deputado terminou o primeiro turno com 38% dos eleitores paulistanos respondendo que jamais votariam nele.
Segundo pesquisa Datafolha deste sábado (5), véspera do primeiro turno, em uma simulação de segundo turno entre Nunes e Boulos haveria 52% de intenções de voto para o prefeito e 37% para o deputado. Uma parcela de 10% optaria pelo voto branco ou nulo e 1% disse não saber como votaria.
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