No Nordeste, Alckmin defende Bolsa Família, mas faz ressalvas a programa

Publicado em 07/05/2018, às 16h54

Redação


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Na metade do percurso, ele olhou pela janela e anunciou: "Estamos no Piauí". Todos o encararam surpresos. "As nuvens sumiram. Mudamos de bioma. Em São Luís é amazônico, chove muito. Teresina é caatinga", explicou.

O pré-candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) voava em um King Air de 1983, avião com capacidade para nove pessoas fretado para levá-lo da capital do Maranhão à do Piauí no sábado (5) à tarde.

No colo, um mapa da região com anotações a caneta.

"Estamos preparando um grande projeto para o Nordeste", contou. "Tasso [Jereissati, senador pelo PSDB-CE] que vai pilotar. Cada estado está mandando as suas propostas."

Em sua primeira visita à região desde que deixou o governo paulista, há um mês, Alckmin começou por dois dos estados mais pobres do país.

Em ambos, elogiou, sempre com ressalvas, o Bolsa Família, programa lançado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que ajudou a tirar o Brasil do mapa da fome e, de quebra, alavancou a popularidade do petista.

"O Bolsa Família é importante. Vamos manter e, tendo necessidade, até ampliar. Agora, você tem que fazer crescer a atividade econômica. O agronegócio vai crescer", afirmou.

Em terras onde Lula lidera as pesquisas com folga –apareceu com 50% no último Datafolha, quatro posições à frente do tucano, com 3%–, Alckmin manteve o estilo.

Questionado inúmeras vezes sobre como atrairia o eleitorado petista, repetiu: "Emprego e renda, emprego e renda, emprego e renda".

Como reverterá a rejeição do PSDB no Nordeste, indagou um jornalista piauiense. "Verdade, verdade, verdade", respondeu. "Mentira tem perna curta. Segundo, coragem. Só não vou chegar ao exagero que ouvi em São Luís de que é preciso ter coragem de mamar em onça parida", brincou.

Nos dois dias de viagem, o ex-governador falou de São Paulo diversas vezes por discurso, citou as referências costumeiras (o ex-governador Mario Covas, especialmente) e lembrou sua cidade natal, Pin-da-mo-nhan-ga-ba. Assim, pausadamente.

Teve o cuidado de tentar não soar paulistamente arrogante. "São Paulo é igualzinho ao Brasil. Tem regiões muito ricas e outras muito pobres. É investir em infraestrutura, hospital, universidade, tudo nas regiões que precisam mais. Nas mais ricas, você faz com o setor privado."

Em Teresina, no diretório do PSDB, um homem quis saber "a receita de tucano para não ser preso". "Não sei se entendi bem a pergunta", reagiu Alckmin. A investigação que corria contra ele na Operação Lava Jato foi enviada à Justiça Eleitoral. Nessa nova condição, as punições, se houver, serão mais brandas.

"A rigor, a Justiça não tem cor. É para todos. Não desacreditamos da Justiça nem passamos a mão na cabeça de criminoso", respondeu o ex-governador, recorrendo a mais um de seus bordões.

Depois de 40 minutos de voo, duas latas compridas de Coca-Cola, dois sanduíches de pão de forma com frios e alguns tabletinhos de doce de leite, o pré-candidato tirou um cochilo.

Acordou dez minutos depois, já em procedimento de descida. Na saída do avião, afivelou o cinto (não o de segurança, o da calça), sacudiu migalhas da camisa e se despediu do piloto.

"Parabéns, comandante." O voo havia sido tranquilo.
Em São Luís, na véspera, a chegada em avião de carreira, como costuma viajar, fora pacata se comparada às imagens de seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) em aeroportos país afora.

No caso do pré-candidato de posições controversas, simpatizantes se aglomeram para recebê-lo aos gritos de "mito". Tudo é exibido em tempo real nas redes sociais.

Alckmin foi saudado por duas dezenas de aliados políticos maranhenses. Jornalistas foram convocados para uma coletiva lá mesmo no aeroporto, mas muitos não chegaram a tempo.

Em um debate com universitários, o ex-governador abusou do linguajar técnico, o que frustrou até aliados.
Ao final, o empresário Mauro Fecury –amigo de José Sarney, figura da elite local e dono do grupo educacional Ceuma, que promoveu o encontro– fez seu diagnóstico.

"Muito bom, ele é professor. Professor de cursinho. Só falta dançar mais no palco", disse Fecury, rindo.
A falta de gingado foi notada quando dançou o bumba meu boi com índias maranhenses em um centro de convenções, no dia seguinte. Fixou um semblante alegre, balançou a cabeça sem que o corpo a acompanhasse e bateu palmas ritmadas.

Boa parte da claque, atraída do interior do estado pelo almoço grátis, deixou o evento antes do encerramento, sem ouvir Alckmin falar.

Mas o presidenciável não perde o rebolado, esse seu tipo de rebolado.
"Eu vou encerrar", disse a estudantes no Ceuma, "porque contam lá em São Paulo de um crítico literário que foi apresentado a um jornalista e comentou: "Nós já dormimos juntos". [E o outro:] "Dormimos?" "Sim, na conferência do professor Calmon." Então, eu vou encerrar para não ter o risco de ninguém cochilar."

*

No CE, general quatro estrelas é aposta do PSDB para retomar governo estadual

Numa ofensiva para tentar retomar o governo do Ceará e formar um palanque forte para a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, o PSDB apostará suas fichas num dos principais quadros do Exército brasileiro.

Na reserva desde março deste ano, o general de Exército Guilherme Cals Theophilo de Oliveira, 63, filiou-se ao PSDB e deve ser o candidato do partido ao governo do Ceará.

Nascido no Rio e criado em Fortaleza, Theophilo vem uma família de militares cearenses. Caso seja realmente candidato, será o primeiro general quatro estrelas (maior patente militar em tempos de paz) a disputar uma eleição majoritária no Brasil desde o fim da ditadura militar.

Com discurso moderado, Theophilo se define como de centro. E tem dito que apoiará Alckmin para o Planalto.

Nacionalmente, a filiação do general ao PSDB pode servir como contraponto ao avanço do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que tem ganhado adeptos no meio militar. Localmente, a candidatura dará protagonismo ao tema da segurança, principal problema enfrentado pelo governador Camilo Santana (PT), candidato a reeleição com apoio de Cid e Ciro Gomes (PDT).

O Ceará enfrenta uma escalada dos índices de violência. Foram 5.134 mortes violentas no estado em 2017 –crescimento de 50% em relação a 2016. Como trunfo, os tucanos apostam na experiência do general no combate à violência: ele fez parte do planejamento da intervenção federal na segurança pública do Rio.

Nos últimos anos, exerceu a chefia do Comando Militar da Amazônia e o comando da 12ª Região Militar, em Manaus.

A experiência na Amazônia o aproximou da PSDB –o prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto o convidou disputar uma vaga na Câmara dos Deputados no Amazonas. Mas o general optou pela carreira política em seu estado natal.

A pré-candidatura de Theophilo surge em meio a vazio nas oposições do Ceará. Com a aproximação do senador Eunício Oliveira (MDB) com o governador Camilo Santana, os oposicionistas perderam o seu principal nome para disputar o governo estadual. O senador Tasso Jereissati (PSDB) foi pressionado a disputar o governo, mas defendia um nome novo. Também apontado como candidato, o deputado estadual Capitão Wagner (Pros) optou por pleitear a Câmara dos Deputados.

Mesmo diante desse vazio, a candidatura de Theophilo deve enfrentar resistência entre partidos aliados por ser desconhecido do eleitorado cearense. Já os opositores questionam a candidatura de um militar que passou a maior parte da carreira fora do Ceará.

Vice-líder do PT na Assembleia Legislativa, o deputado Elmano de Freitas diz que a candidatura do general escandara a crise nas oposições diante do favoritismo do atual governador. "É um nome que o povo do Ceará não conhece, não sabe sua história, e que não tem nenhum trabalho desenvolvido na sociedade cearense", diz o deputado.

Além de Theophilo, outros dois generais anunciam candidatura a governos estaduais. O general Paulo Chagas (PRP), no Distrito Federal, e o general Girão Monteiro (PSL), no Rio Grande do Norte. Outros cerca de 50 militares deverão disputar mandatos para Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas.


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