Nível da Laguna Mundaú não sofreu alteração após colapso da mina 18, diz pesquisador

Publicado em 13/12/2023, às 16h54
Foto: Arquivo TNH1 -

Theo Chaves

Um gráfico feito pelo Sistema de Informações de Recursos Hídricos de Alagoas (SIRH), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, mostra que o nível da Laguna Mundaú não sofreu alteração após o colapso da mina 18 da Braskem, no Mutange, em Maceió, no último dia 10. As informações foram repassadas com exclusividadepelo professor Carlos Ruberto Fragoso Jr., pesquisador do Centro de Tecnologia (Ctec) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que disponibilizou os dados à reportagem do TNH1, nesta quarta-feira (13). 

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O gráfico (veja abaixo), que contém a média diária (em centímetros) do nível da Laguna Mundaú nos últimos 30 dias, mostra que a laguna vem apresentando um aumento no seu nível desde o último dia 06 de novembro, quatro dias antes do colapso. Os dados, captados em uma estação localizada no município de Coqueiro Seco, entre os dias 13 de novembro a 13 de dezembro, ainda mostram que o nível da laguna continuou a subir mesmo após o colapso da mina 18 da Braskem.

Gráfico (em cm) do nível da Laguna Mundaú nos últimos 30 dias. Reprodução/SIRH

Outro gráfico disponibilizado no Sistema de Informações de Recursos Hídricos de Alagoas (SIRH), feito a partir de dados colhidos no último dia 12, também mostra que não houve alteração do nível da laguna em um intervalo de 24 horas. Os dados, medidos a cada 15 minutos, apresentaram uma variação considerada dentro da normalidade para o atual ciclo de maré. 

Gráfico detalhado (em cm) do nível da Laguna Mundaú no último dia 12 de dezembro. Reprodução/SIRH

Em entrevista ao TNH1, o professor Carlos Ruberto Fragoso Jr, que é doutor em Recursos Hídricos, explicou que o movimento de aumento e diminuição do nível da Laguna Mundaú não foi alterado após o colapso da mina 18. 

"Esse é um movimento natural da lagoa, que na verdade é uma laguna, pois tem conexão com o oceano. No caso da Laguna Mundaú, o nível dela varia de acordo com a maré. O aumento ou diminuição da maré é influenciado pelo ciclo lunar, em intervalos de 7 dias. Entre os dias 28 de novembro até o dia 05 de dezembro, cinco dias antes do colapso, houve uma diminuição de mais de 20 cm na média diária do nível da laguna. Posteriormente, a partir do dia 06 de dezembro, houve um aumento gradativo (de mais de 20 cm) até o último dia de medição, que foi feito nesta quarta-feira (13). Mesmo após o colapso da mina 18, esse aumento continuou. Isso mostra que, mesmo após a cavidade da mina ter sido preenchida pela água, o nível da laguna não deixou de aumentar", disse o engenheiro civil. 

Carlos Ruberto Fragoso Jr é doutor em Recursos Hídricos e professor do Centro de Tecnologia da UFAL. Foto: Arquivo Pessoal.

O professor também descartou uma possível diminuição do nível da Laguna após o colapso da mina 18. 

"Mesmo após a cavidade da mina 18 ter sido preenchida por um grande volume d'água, o nível da Laguna Mundaú foi recomposto de forma imediata. Essa recomposição durou poucos minutos. Isso aconteceu justamente pela conexão da Laguna com o mar. Se fosse uma lagoa, se não houvesse essa conexão, não teríamos essa recomposição imediata, e provavelmente o nível dela diminuiria", completou Carlos Ruberto. 

Entenda a situação - Após a Defesa Civil de Maceió alertar sobre o colapso iminente da mina 18, da Braskem, no Mutange, cerca de 23 famílias tiveram que ser retiradas das casas que estão localizadas na área de risco. A Justiça Federal, inclusive, autorizou o uso de força policial, caso os moradores recusassem a sair. O caso é um desdobramento dos tremores de terra que começaram a ser sentidos pela população do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol em março de 2018, causados pela mineração de sal-gema feita pela Braskem desde a década de 70 naquela região, conforme apontou o Serviço Geológico do Brasil. 

A Prefeitura de Maceió desocupou seis escolas em diferentes bairros da capital para torná-las abrigos temporários aos moradores e também decretou estado de emergência na capital por 180 dias. Depois de registrar afundamento superior a 2 metros ao longo de duas semanas, a mina 18 sofreu rompimento às margens da laguna Mundaú no dia 10 de dezembro. O fato provocou angústia em moradores que ainda seguem residindo em regiões próximas. 

O presidente da Braskem, Roberto Bischoff, afirmou na segunda-feira, 4 de dezembro, que nos últimos quatro anos foram realocadas 40 mil pessoas - a estimativa dos órgãos é que o número seja de quase 60 mil - em 14,5 mil imóveis e mais de 97% das propostas de indenização foram aceitas e pagas por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF). O comentário foi feito ao Estadão durante o 28º Encontro Anual da Indústria Química (Enaiq), evento tradicional do setor químico promovido pela Associação Brasileira de Indústrias Química (Abiquim).

A Justiça Federal determinou, na manhã da quinta-feira, 30 de novembro, que a Braskem adote providências em relação ao novo mapa elaborado pela Defesa Civil Municipal, que inclui no PCF novos imóveis localizados no Bom Parto. A mineradora comunicou aos acionistas e ao mercado que o valor atribuído à causa pelos autores da ação é de R$ 1 bilhão. Desde então o caso tem sido acompanhado pelo Governo Federal e vários órgãos fiscalizadores junto à mineradora Braskem. 

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