Raíssa Basílio/Folhapress
Entre os exageros cometidos nas festas de fim de ano e no Carnaval, o mês de janeiro é visto por alguns como uma oportunidade para dar um tempo no consumo de bebidas alcoólicas. O movimento "Dry January" (janeiro seco, ou seja, sem álcool) começou nos Estados Unidos e tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil.
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A prática traz benefícios para saúde física e mental, especialmente entre aqueles que costumam beber em grandes quantidades, explica Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Os impactos positivos refletem na saúde cardiovascular e na função hepática, além de reduzir a resistência à insulina. Também há melhorias na absorção de nutrientes, especialmente das vitaminas do complexo B como a tiamina (vitamina B1), e na recuperação dos níveis de algumas enzimas pancreáticas essenciais para a digestão.
"Eu nunca fui muito de beber, mas desde que me mudei para São Paulo e comecei a sair praticamente todo fim de semana, percebi que comecei a consumir álcool semanalmente", conta Mariana Rosa Larrubia, 23, analista de comunicação. "Às vezes até comprava um vinho no meio da semana para me mimar."
Larrubia está com a meta de ficar sem beber até seu aniversário, em março, e depois, reduzir no geral, optando por tomar bebidas alcoólicas apenas ocasionalmente. Ela conta que, ao reduzir a ingestão de álcool, ganhou mais disposição para estudar e trabalhar, além de começar suas semanas de maneira mais tranquila. Fisicamente, ela percebeu uma significativa redução de inchaço.
A médica psiquiatra Nina Ferreira, especializada em dependência química e neuropsicologia, diz que "passar um mês sem ingerir bebida alcoólica ajuda a regenerar tecidos e órgãos, principalmente o cérebro e o fígado".
"Sem álcool, o cérebro funciona melhor, resultando em melhor concentração, raciocínio mais rápido, reflexos mais ágeis e melhor coordenação motora", afirma a médica. Há também uma melhora no humor, na percepção de felicidade e de prazer, além de redução da irritabilidade e da ansiedade, completa.
Mariana Larrubia cita que saídas sociais em que todos estão bebendo é um desafio, mas maior que isso é manter a decisão de parar de beber. No entanto, após uma semana e meia, ela já havia se acostumado com a nova rotina.
No ano passado, Mariana Oliveira, 25, estudante de direito, passou janeiro sem beber e gostou tanto da experiência que decidiu repetir neste ano. Ela menciona que conseguiu desintoxicar o corpo e a mente, o que ajuda a ficar mais em casa e se concentrar em suas metas para o novo ano.
Desde que começou o desafio, notou melhorias significativas tanto no bem-estar físico quanto mental, incluindo maior foco na academia, redução da ansiedade, mais tempo de qualidade com a família e boas noites de sono.
Durante esse período sem álcool, o médico Durval Ribas Filho explica que o desejo por açúcar pode aumentar devido à influência da substância no metabolismo da glicose. Para mitigar isso, recomenda-se consumir frutas e carboidratos integrais. Frequentemente, bebedores habituais apresentam deficiências nutricionais, especialmente de tiamina (vitamina B1), que podem causar problemas neurológicos. Assim, é aconselhável a suplementação com multivitamínicos, especialmente do complexo B.
Para maximizar os benefícios de um mês sem álcool, é importante enriquecer a dieta com alimentos ricos em vitaminas do complexo B, C, E, e selênio, além de aumentar a ingestão de fibras com frutas, vegetais e grãos integrais. Manter uma boa hidratação é crucial, pois o álcool tende a desidratar o corpo, intensificando os sintomas de ressaca. Essas mudanças dietéticas não apenas compensam os efeitos negativos do álcool, mas também promovem uma saúde geral melhor.
Maikon Bryan, 22, gerente de experiência de cliente, comenta que evitar o álcool em contextos sociais é mais difícil. Mas cita que seus amigos apoiaram sua decisão.
Na adolescência, era bastante ativo nos esportes, o que o desencorajava a beber para não afetar seu desempenho. Com a transição para a vida adulta, ele reduziu a prática esportiva para se concentrar mais no trabalho e nos estudos, o que resultou em eventos sociais mais frequentes acompanhados de consumo de álcool.
A psiquiatra Nina Ferreira destaca que mudar a rotina para evitar o álcool pode causar estranhamento entre familiares e amigos. Ela enfatiza a importância de comunicar claramente que essa é uma decisão pessoal visando a saúde, e que espera-se respeito e compreensão. Durante esse período, ajustes na rotina e distanciamento social podem ser necessários, especialmente se enfrentar reações negativas como críticas ou isolamento.
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