Uma pesquisa da Universidade de Michigan que analisou 98 milhões de abordagens policiais a motoristas nos Estados Unidos em um período de 18 anos mostra que pessoas negras tem o veículo revistado com mais frequência do que pessoas brancas.
O estudo considerou as abordagens nas quais nada de ilegal foi encontrado –ou seja, em que o abordado era inocente e houve alarme falso. Nesses casos, motoristas negros que nada haviam feito de errado tinham uma chance de 3,4% a 4,5% de serem revistados. Essa probabilidade caía para para de 1,9% a 2,7% no caso de motoristas brancos.
Maggie Meyer, uma das autoras da pesquisa, disse que o extenso levantamento "mostrou que há um viés muito presente em vários estados [dos EUA]" que ainda precisa ser melhor estudado. "Nós não somos as primeiras pessoas a encontrar viés racial na polícia e não seremos as últimas, mas esperamos que isso aponte onde é possível intervir."
Utilizando uma base de dados compilada pela Universidade Stanford, os pesquisadores analisaram informações de blitze em 25 departamentos de polícia entre 1999 e 2017. Em um município específico no estado da Carolina do Norte, por exemplo, 11 mil pessoas negras inocentes tiveram o carro revistado, enquanto apenas 2.500 motoristas brancos inocentes passaram pelo mesmo procedimento.
"Com esses dados em mãos, podemos seguir em frente e dizer: há, sim, um problema", diz Richard Gonzalez, outro autor do estudo. "É preciso entender por que policiais revistam negros inocentes com mais frequência que brancos, mas é inegável que o viés existe."
Casos de pessoas negras mortas nos EUA durante abordagens policiais ainda são frequentes no noticiário –no último dia 18, um homem negro morreu em Canton, no estado de Ohio, depois que a polícia foi chamada para atender a uma ocorrência de um acidente de carro.
Frank Tyson, 53, foi detido e algemado e disse a frase "não consigo respirar" enquanto era imobilizado. O episódio lembrou os assassinatos de Eric Garner e George Floyd, ocorridos em 2014 e 2020, respectivamente. Em comunicado, as autoridades locais disseram que uma investigação será feita para averiguar se o uso da força utilizada pelos policiais foi justificado.
No último dia 21, policiais atiraram 96 vezes em homem negro durante uma abordagem de trânsito na cidade de Chicago, no estado de Illinois. Dexter Reed, 26, morreu no local, e a polícia alega que ele teria atirado primeiro. Um dos agentes chegou a disparar 50 vezes, mesmo com Reed fora do carro e caído no chão.
A polícia de Chicago disse em notas que o que motivou a abordagem policial foi uma violação do uso do cinto de segurança. Um órgão que atua como ouvidoria da polícia questionou a veracidade do relato, dizendo que "não tem certeza de como os policiais poderiam ter visto esta violação do cinto de segurança, dada a sua localização em relação ao veículo e a tonalidade escura nas janelas".
No ano passado, Tyre Nichols, 29, foi parado pela polícia em Memphis, no Tennesse, por supostamente dirigir de forma imprudente. Ele foi retirado do veículo pelos agentes, atingido por sprays de pimenta enquanto estava no chão e depois, quando tentou fugir, por armas de atordoamento. Na sequência, Nichols foi espancado pelos policiais a poucos metros da casa de sua mãe e morreu três dias depois –a autópsia apontou que ferimentos na cabeça foram a causa da morte.