Motoristas de aplicativos denunciam série de assaltos no Benedito Bentes

Publicado em 31/12/2019, às 14h45
Peter Fazekas/Pexels -

João Victor Souza

Arthur Isley Santana da Silva, conhecido como “Pato Rouco”, é o principal suspeito de uma série de assaltos contra motoristas de transportes por aplicativo, no bairro Benedito Bentes, em Maceió. Somente em dezembro, três casos foram registrados na delegacia, por meio de de boletins de ocorrência. Segundo as denúncias, Pato Rouco teria sido o responsável por todos eles. Nesta terça-feira, dia 31, um grupo com dez motoristas procurou o TNH1 para denunciar os crimes contra a categoria e pedir mais segurança.

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O principal suspeito chegou a ser preso no último sábado (28) com drogas e revólver, dentro de um imóvel, mas acabou sendo liberado após audiência de custódia no dia seguinte. A soltura dele amedrontou os profissionais que fazem serviço de transporte.

Jorge, nome fictício para preservar a identidade do condutor que foi vítima de Pato Rouco, informou à reportagem que reconheceu o criminoso através de fotos compartilhadas nas redes sociais e confirmou que ele apresenta as mesmas características físicas do homem que assaltou e torturou um colega. Jorge sofreu tentativa de assalto na madrugada do Natal. 

"Eu recebi um chamado às 3h do dia 25, na região do Benedito Bentes, próximo ao mercadinho Preço Bom, lembro que foi na Rua C 24. Recebi a solicitação da corrida com o nome de Adrielle, uma mulher. Chegando no local, tinham de 4 a 5 pessoas, já desconfiei e baixei o som do veículo para ter mais atenção ao que ia acontecer”, contou Jorge ao TNH1.

“Foi nesse momento que um integrante do grupo, um rapaz com cabelo pintado de amarelo, de tatuagem nos braços e no pescoço, foi para trás do veículo e o acompanhei pelo retrovisor do carro. Eu vi quando ele tirou uma arma da meia, e fiquei na dúvida se ele ia atirar num cara da frente, pois estava uma discussão, ou ia me assaltar. Quando ele veio para frente, eu já estava com a marcha ré acionada e quando percebi que ele ia apontar a arma para mim, disparei”, continuou.

Jorge revelou que Pato Rouco correu em direção ao carro e atirou contra ele, mas não o acertou. “Meu medo era bater em alguma coisa e o carro parar, e acontecer algo comigo. Eu consegui fugir, procurei uma viatura, mas não encontrei. Fui no 5º Batalhão e uma policial que estava de plantão me orientou. Como não teve dano corporal, eu liguei para o 190 e contei tudo”, explicou.

A vítima também contou o que aconteceu com o colega de trabalho que, abalado com a tortura psicológica que sofreu, deixou de trabalhar e não quis falar sobre o assunto. Jorge detalhou que o crime aconteceu logo depois da tentativa de assalto contra ele e no mesmo local.

"Esse parceiro reconheceu através de foto que foi a mesma pessoa que tentou me assaltar. Quando assaltaram ele, entraram no veículo o Pato Rouco e quatro pessoas. Anunciaram o assalto e torturaram ele dentro do carro. Jogaram garrafa de água no rosto dele, ameaçaram matá-lo. Estavam querendo a senha do cartão, do celular”, disse.

Quando os criminosos já estavam fora do carro e discutiam se iam matar a vítima ou deixá-la viver, o motorista conseguiu acelerar o veículo e fugir. Neste momento, Pato Rouco atirou no carro e o grupo arremessou pedras, o que fez destruir parte da lataria do automóvel. A vítima conseguiu escapar.

Outro crime

Para João (nome fictício), outra suposta vítima de Arthur Isley Santana da Silva, o local de partida foi diferente, mas o destino colocado no aplicativo e a região do assalto foi a mesma onde o assaltante atua, o bairro de Benedito Bentes. “O chamado também foi no nome de uma mulher. Quando cheguei, só estava ele. O passageiro confirmou o nome da mulher e entrou no carro. Eu já estava desconfiado dele, mesmo assim segui viagem”, relatou.

João revelou que o suspeito fez questionamentos a ele durante o trajeto, como o bairro que o condutor morava. “Eu não quis dizer onde morava, porque já queria despistá-lo. Tive medo e menti, disse que morava em outro lugar”, disse.

Quando chegou no Benedito Bentes, próximo ao mesmo mercadinho, Arthur Isley Santana da Silva, conhecido como Pato Rouco, colocou as mãos nos bolsos da calça, o que fez o motorista pensar que ele não ia ter dinheiro para pagar a corrida. Rapidamente, o criminoso desceu do carro e foi até o banco do motorista, com uma faca em uma das mãos.

“Ele anunciou o assalto, pegou meu celular, pegou dinheiro e quando tentou tomar a chave do veículo, eu acabei acelerando e o carro deu partida mesmo com a porta aberta. Foi aí que ele correu para uma grota”, disse. O crime também foi registrado na Delegacia Especializada de Roubos da Capital (DERC).

Polícia investiga

Ao TNH1, o delegado José Carlos Santos, da DERC, confirmou que a polícia já investiga ações criminosas na área do Benedito Bentes. Dois grupos estariam sendo responsáveis por assaltos, não apenas contra os motoristas, mas também com moradores do bairro sendo vítimas.

Ele informou que os grupos são formados por homens e mulheres e atuam de maneira semelhante, com a solicitação da corrida, o embarque dos falsos passageiros e o anúncio do crime em seguida. 

Falta de segurança

Um grupo criado no aplicativo de mensagens Whatsapp se tornou uma ferramenta de comunicação para os motoristas, para também tentar evitar esses assaltos. “A nossa segurança hoje é através do grupo de whatsapp. Não é ideal, mas ajuda quando temos problemas. Sempre há ajuda, há acompanhamento das corridas. Mesmo assim não é suficiente para evitar crimes como esses", disse um dos integrantes do grupo.

Outro condutor destacou que é necessária uma avaliação criteriosa dos usuários dos aplicativos. Para ele, o motorista e o passageiro precisam de segurança nas corridas.

"Hoje há uma rigorosidade para o motorista de aplicativo, mas também tem que ter uma avaliação criteriosa com o passageiro também. Não é só baixar o aplicativo, se cadastrar e pronto, foi liberado. Fica a critério do passageiro colocar foto ou não no aplicativo. Para a gente isso é ruim, pois pode ser um aparelho roubado, por exemplo. E podemos estar transportando criminosos que podem fazer algo com a gente”, destacou.

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