Morre adolescente que teve mais da metade do corpo queimado em chacina

Publicado em 11/09/2023, às 09h41
Arquivo pessoal -

g1 BA

O adolescente de 12 anos, que havia sobrevivido à chacina em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, morreu neste domingo (10), em Salvador. Ele é a 10ª vítima do ataque a duas casas ocorrido em 28 de agosto. Railan Bispo dos Santos teve mais da metade do corpo queimado e estava internado em estado gravíssimo, no Hospital Geral do Estado (HGE), na capital baiana, desde o dia do crime.

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O corpo dele foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) de Salvador. O pai do jovem fará a liberação do corpo. Ainda não há informações sobre o dia do velório e sepultamento, que será na cidade de Alagoinhas, onde outras três vítimas foram enterradas.

Durante o ataque, Railan se escondeu debaixo de uma cama e, por isso, não foi visto pelos criminosos durante ação. Mesmo com ferimentos causados pelo fogo, ele conseguiu sair na rua pedindo socorro e bateu nas portas de alguns vizinhos, até ser acolhido por duas moradoras em um dos imóveis. Ambas foram mortas a tiros.

No primeiro imóvel atacado estava um bebê com idade entre um ano e meio e dois anos, que, segundo a polícia, foi poupado pelos criminosos e resgatado pelo pai. Não há informações do paradeiro do bebê e do pai.

"Essas duas senhoras são verdadeiras mártires dessa barbárie. Elas abriram a porta para essa criança. Contudo, os executores perseguiram o adolescente e mataram as senhoras", afirmou a delegada Christiane, ressaltando que no segundo imóvel não havia indícios de fogo nem de outros ocupantes.

Ciúmes motivou chacina - A Polícia Civil da Bahia afirmou que a chacina foi motivada por ciúmes e tinha inicialmente apenas uma pessoa como alvo.

O crime ocorreu no dia 28 de agosto e, horas depois, um suspeito de envolvimento com a ação criminosa foi preso. O homem que a polícia aponta como mandante do crime foi morto em confronto com a polícia junto com outro suspeito um dia depois.

O homem considerado o último suspeito de participar da chacina morreu após um confronto com policiais militares, no final da noite de 5 de setembro, durante uma tentativa de fuga para a cidade de Dias D'Ávila.

De acordo com a delegada Christiane Inocência Coelho, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), os quatro autores do crime fazem parte de uma facção criminosa -- embora a delegada não tenha informado qual seria a organização.

No entanto, a delegada responsável pelo caso apontou que o que motivou o crime foi o fato de o suposto mandante sentir ciúmes de uma das vítimas, que seria o ex de sua atual namorada. Este alvo foi identificado como Preá. Ele era procurado pela polícia e tinha mandados judiciais expedidos por lesão corporal, tráfico de drogas, homicídio e violência doméstica.

"Estamos trabalhando com [a hipótese de] crime passional e as diligências permanecem. Não posso informar nomes porque comprometeria o andamento das investigações, mas temos um alvo principal e um 'alvo aleatório'", disse a delegada na ocasião.

Sogra de mandante entre vítimas - A delegada explicou que até a atual sogra do mandante, Cristiane Bispo dos Santos, de 37 anos, foi uma das vítimas. Ela teria sido atingida porque o alvo principal, Carlos Augusto Gonzaga dos Santos, de 41 anos, apelidado de Preá, que é ex-namorado da filha de Cristiane, estava na casa dela.

Ainda não se sabe o motivo de o ex-namorado da filha de Cristiane estar na casa. A mulher que namorava o mandante do crime estava fora de casa quando o crime aconteceu.

Uma vítima segue sem identificação - Cristiane Bispo dos Santos e Carlos Augusto Gonzaga dos Santos, o Preá, foram encontrados na casa incendiada junto de mais cinco vítimas:

Outras duas mulheres, que foram mortas a tiros na casa vizinha, foram identificadas como as irmãs Clícia Costa Magalhães, de 35 anos, e Sara Miranda Magalhães, de 56 anos.

Das dez vítimas, apenas o corpo de um homem ainda foi identificado pelo Departamento de Polícia Técnica.

Entenda o caso - Duas famílias em casas vizinhas foram encontradas mortas no dia 28 de agosto na zona rural de Mata de São João .

Na comunidade de Portal do Lunda, uma das moradias foi incendiada e sete pessoas foram carbonizadas. Na outra, duas mulheres foram mortas a tiros. O homem que a polícia aponta como mandante do crime foi morto em confronto com a polícia

Onde fica a cidade? Com praias paradisíacas, Mata de São João é um importante destino turístico na Bahia. Apesar de ser bastante conhecido pelos distritos de Praia do Forte e Imbassaí, o município, de 46 mil habitantes, também tem uma vasta área rural, longe das praias e da badalação.

Foi justamente nesse trecho mais afastado que ocorreu a barbárie. "Em toda a minha experiência profissional, nunca vi nada parecido. É um fato absolutamente terrível, que também deixou a população local em choque", comentou a delegada Christiane Inocência Coelho, responsável pelas investigações.

A cidade tem quase 47 mil habitantes, mas o local onde as vítimas foram achadas fica a seis quilômetros da sede e é pouco habitado. Conhecida como Portal do Lunda, a área fica na Colônia Juscelino Kubitschek, uma região que foi povoada por japoneses que vieram para o Brasil alguns anos após a Segunda Guerra Mundial.

Ao longo dos anos, os japoneses saíram da colônia em direção à sede do município e à capital do estado, Salvador. Segundo a assessoria de Mata de São João, os matenses, pessoas que nascem no município, estão em sua maioria na zona rural.

De acordo com a prefeitura, a cidade costumava ser pacata, especialmente a área rural. Entretanto, em 2011, houve uma onda de violência na região e um dos crimes mais graves envolvei três adolescentes, mortos a tiros em uma localidade conhecida como Vinte Mil.

Nos anos seguintes, o local voltou a ter a tranquilidade de antes, até que em 2023 fazendeiros com propriedades na zona rural perceberam movimentações estranhas na região. De acordo com a prefeitura, eles relataram que pessoas desconhecidas estavam circulando armadas pela localidade.

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