Médico é indiciado por lesões em paciente em procedimentos estéticos

Publicado em 15/10/2024, às 16h29
Foto: Reprodução/NSC TV -

G1

Um cirurgião com atuação em Florianópolis foi indiciado pela Polícia Civil, na noite de segunda-feira (14), por lesão corporal gravíssima contra uma paciente. Marcelo Evandro dos Santos foi denunciado criminalmente por mulheres atendidas por ele após casos de queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido em procedimentos estéticos que realizou.

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A reportagem não conseguiu contato com o médico. Além do indiciamento, em que vai responder por crime, o cirurgião já foi condenado na área civil, anteriormente, ao menos quatro vezes. No caso mais grave, indenizou familiares de uma paciente que morreu após lipoaspiração, em 2021 (leia abaixo).

Uma das pacientes que denunciou o médico foi a neuropsicopedagoga Letícia Mello. Ela fez a primeira consulta em janeiro. Ela queria trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma uma técnica de lipoaspiração. O médico também indicou outros procedimentos.

“Disse que poderia tirar a flacidez da barriga. Logo em seguida já tocou no meio das minhas pernas, falou que também poderia ser possível tirar essa flacidez que a academia não tira, e que eu tinha uma depressão lateral" contou.

Segundo ela, ele ainda indicou tirar gordurinha das costas para colocar na depressão lateral, o que deixaria o glúteo mais redondo.

"Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos", relatou a paciente.

Letícia passou por 12 cirurgias no mesmo dia com o médico. Foram 10 horas no centro cirúrgico e 7 quilos de gordura retirados. Concluído o procedimento, ela demorou a ter alta. Passou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

“O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca" disse.

Além disso, conta que começou a "queimar". "Meu corpo começou a criar bolhas, começaram a aparecer umas secreções. Eu comecei a ficar totalmente queimada na barriga, nas pernas, nos braços, foi subindo para os seios e eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, contou.

Investigação

Depois de sair do hospital, em abril deste ano, Letícia fez uma denúncia na Delegacia-Geral da Policia Civil de Santa Catarina. O inquérito, instaurado no mesmo mês, foi concluído na noite de segunda.

A Polícia Civil, ouviu pessoas da área técnica, concluindo que o prazo para a finalização de uma cirurgia de caráter estético tem uma duração limite menor do que Letícia foi submetida. A quantidade de gordura retirada também tem uma quantidade específica, explicou a polícia.

"Nesse caso, o delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima", explicou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.

A equipe da NSC TV também conversou com uma funcionária que trabalhou em um dos hospitais em que ele operou, em Florianópolis. Ela não quis se identificar, mas relatou o que presenciava.

“Eu via que era muito comum as pacientes que operavam com ele saírem de cirurgia e irem direto para a UTI, o que não é tão comum com os outros cirurgiões plásticos que operam no mesmo hospital”, comentou

“Outro ponto também que eu via nas cirurgias dele era a quantidade de litros de gordura aspirados da mesma paciente, que era muito comum ultrapassar os 7% do peso corporal da paciente. Juntando tudo isso, a paciente saía da cirurgia descompensada”, disse.

Processos

Embora tenha sido indiciado nesta semana, anteriormente ele já enfrentou a Justiça ao ser processado por pacientes, porém, na área civil. Contra ele foram movidos pelo menos sete processos de indenização por dano moral em Santa Catarina e no Paraná. Quatro vítimas conseguiram a condenação.

No caso mais grave, o médico foi condenado a indenizar a família de uma paciente do Paraná que morreu após uma lipoaspiração. A juíza do caso afirmou que Marcelo foi responsável pelo óbito, que ele fazia propaganda enganosa sobre sua especialidade e foi negligente na cirurgia estética.

A sentença, de 2021, afirmou que ele já tinha condenação prévia por erro médico, fazia procedimentos sem ser especialista nem associado a sociedade brasileira de cirurgia plástica e que operava em clínica onde não havia condições de atender questões urgentes.

A auditora de saúde Andréa Pieper também foi paciente do médico. Em 2022, passou por duas cirurgias com ele: lipoaspiração e mamoplastia. Os procedimentos começaram perto das 9h e só terminaram às 22h.

“Eu fiquei muito tempo no centro cirúrgico. Quando eu cheguei no quarto, eu já senti que eu não estava bem", disse.

Ela suspeitava de uma infecção, mas recebeu alta. Dias depois, voltou a ser internada. Foram 3 meses de idas e vindas ao hospital e 10 dias na UTI. Andréa perdeu a mama esquerda e a prótese da mama direita.

“Meus colegas médicos também tentavam contato, pediam para ele vir até lá para me assistir. E ele nada", completou.

O que diz o CRM

Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina informou que apura a conduta do médico em uma sindicância, mas que não pode se manifestar sobre processos em tramitação.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná também disse que não pode se manifestar, e afirmou que o cirurgião está regularmente inscrito nos conselhos dos dois estados.

“Hoje eu faço acompanhamento psicológico, acompanhamento psiquiátrico para não entrar em uma depressão e entender que tem um propósito eu estar viva”, disse Letícia.

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