Thales de Menezes / Folhapress
No dia 20 de agosto, dentro de uma série de reportagens especiais sobre os 50 anos do "Fantástico", a edição do dominical global mostrou Maurício Kubrusly e sua mulher, Beatriz Goulart, em sua casa numa comunidade do litoral sul da Bahia. Foi ali a revelação ao grande público de que o jornalista de 79 anos tem diagnóstico de demência frontotemporal.
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Evelyn Kuriki foi uma das produtoras no quadro "Me Leva, Brasil", no qual Kubrusly viajou para centenas de lugares no país durante mais de dez anos de exibição no "Fantástico". Ela dirigiu, ao lado de Caio Cavechini, o documentário "Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí", disponível no Globoplay a partir de quarta-feira (4).
Um dia, ela e Beatriz conversaram sobre qual a primeira reportagem de Kubrusly na Globo. A pesquisa levou até um vídeo do jornal "Hoje", de 1986, com o jornalista entrevistando Cacá Rosset, que encenava "Ubu" com o grupo de teatro Ornitorrinco. Kubrusly interagiu com os atores, insinuando-se numa cena, em atitude performática que praticamente marcou toda a sua carreira na TV.
"Veio então a comemoração de 50 anos do "Fantástico" e a Beatriz entrega para a gente o vídeo dele na praia, quando ela decide assumir pela primeira vez sua condição já diagnosticada", conta a diretora.
A repercussão foi muito grande e deu a largada para a produção do documentário, que alterna cenas de Kubrusly e a mulher em sua casa na praia com material de arquivo e depoimentos de colegas que conviveram com o jornalista.
Caio Cavechini conta como surgiu a ideia da primeira gravação para o documentário. É uma cena na qual um caminhão de mudanças chega à casa na Bahia trazendo de São Paulo, entre outras coisas, milhares de CDs de música.
"A gente percebeu logo que a música tinha esse poder não só de percorrer toda a carreira do Kubrusly, mas também mostrar de uma forma muito imediata como a arte ainda reverbera dentro dele, apesar da condição de saúde", diz o diretor.
A música é realmente um fio condutor. E o filme tem uma dinâmica bem atraente ao alternar as cenas de arquivo, com atuações às vezes quase histéricas de Kubrusly na TV, com a placidez de sua condição atual. Sua mulher é a única pessoa da qual ele ainda recorda o nome.
Mas ele demonstra reações às canções, opinando quais ele acha bonitas e até esboçando um cantarolar dos versos. Assim, além de ser um registro da vida de Kubrusly, o documentário é também uma espécie de celebração à música. E ele converge para, quase na parte final, um encontro com Gilberto Gil. A conversa, entrecortada por trechos de músicas cantadas por Gil ao violão, é emocionante.
"O Gil é uma presença constante na vida dele, e começamos a tentar um encontro", recorda Cavechini. "Gil foi uma pessoa muito acolhedora. Quando o diálogo dava uma estacionada, ele pegava o violão e cantava um pouco, mantendo o contato com Kubrusly. Foi muito marcante."
Os diretores também registraram a visita de Wandi Doratiotto, ator e apresentador de TV que é muito conhecido como músico no grupo Premeditando o Breque. "Eles são grandes amigos. Era uma visita que Wandi faria em algum momento, e a gente só pegou carona nesse encontro", conta Cavechini.
Os diretores foram mapeando os momentos nos quais deveriam estar junto ao casal. "Veio a necessidade de fazer um check-up em São Paulo. Foi muito bacana acompanhar, até para dar um pouco a dimensão do que é a demência. O neurologista certamente falaria, e isso realmente aconteceu", diz Cavechini.
Esse e outros momentos do documentário mostram uma preocupação didática em explicar a demência frontotemporal. "A Beatriz topou fazer algo que transitasse também pelo lado médico", explica Evelyn Kuriki. "E sabíamos que era preciso ter urgência, porque a doença é progressiva. A maneira como nós o encontramos nas primeiras gravações não é a mesma condição que ele tem agora."
Um dos pontos altos do documentário é um "Globo Repórter" com Kubrusly, um dos raros que fez no programa, dedicado a entender o funcionamento do cérebro humano. "O programa ficou uma coisa bem diferente do habitual", analisa a diretora.
"Ele atravessa ruas cheias de gente freneticamente, para simbolizar as sinapses do cérebro. Ele traz esses elementos de performance para um assunto que é todo denso, duro. E temos trechos de uma reportagem na qual ele faz uma resenha de um livro que fala sobre Inteligência Artificial, algo que hoje todo mundo fala o tempo todo. São achados muito importantes para o documentário."
KUBRUSLY: MISTÉRIO SEMPRE HÁ DE PINTAR POR AÍ
- Quando Em cartaz nesta quarta (04) no Globoplay
- Produção Brasil, 2024
- Direção Caio Cavechini e Evelyn Kuriki
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