Maquiagem é aliada de mulheres que querem exaltar ou camuflar o vitiligo

Publicado em 14/10/2024, às 16h09
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Folhapress

Foi na adolescência que Carolina Clarkson, 26, aprendeu a se maquiar. Entre pincéis, bases e corretivos, ela queria camuflar aquilo que hoje chama de arte: o vitiligo, uma doença não contagiosa que causa manchas brancas na pele por causa da diminuição ou ausência dos melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina, responsável pela cor.

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Portadora da condição desde os nove anos de idade, a jovem natural de São Gonçalo (RJ) trabalha atualmente como modelo e é criadora de conteúdo nas redes sociais.

Por volta dos onze anos, ela se lembra da família procurando profissionais que entendessem e soubessem explicar o que eram as manchas brancas que destoavam da cor de sua pele. Com o diagnóstico, optaram por alguns tratamentos como a fototerapia. "Na época, era bem caro e não funcionava muito bem para mim, então desisti e comecei a usar maquiagem para esconder", diz Carolina.
Os cosméticos foram aliados para camuflar o vitiligo até a jovem começar a estudar para a faculdade e, de uma forma despretensiosa, acabar mergulhando em assuntos como opressão feminina, momento em que ela entendeu que poderia sair com as manchas à mostra.

Em busca de evitar julgamento alheio das pessoas que conhecia, ela optou por começar a sair sem maquiagem em uma viagem que fez a Nova York. "Eu não conhecia ninguém, então achei que seria mais fácil sair sem nada no rosto, até que em certo momento um rapaz me deu um buquê de flores, disse que eu era uma mulher bonita e saiu", afirma a jovem que diz ter entendido ali que esse foi o momento divisor de águas em sua vida.

Pouco tempo depois, já abrindo mão do uso da maquiagem para esconder as manchas no dia a dia, foi fotografada por uma amiga e gostou tanto do resultado das fotos que decidiu postar em uma rede social. Em meados de 2019, surgiu o primeiro convite para posar como modelo para uma marca de cosméticos.

"Eu sou a representatividade daquilo que não vi quando eu era criança e que, talvez se tivesse visto antes, não tivesse sofrido tanto na adolescência", completa Carolina.
Hoje, a jovem gosta de utilizar delineados gráficos, coloridos e que até brinquem com as delimitações do vitiligo, assim como iluminador e, sempre, um batom vermelho. "É o que preciso para me sentir poderosa", afirma.

Com uma história semelhante, há cerca de oito anos, em Salvador (BA), Carine Guimarães, 36, participava de uma marcha para empoderamento do cabelo crespo quando chamou a atenção de um olheiro e, dali em diante, começou a trabalhar como modelo para diversas marcas.

Convivendo com o vitiligo há três décadas, Carine diz nunca ter feito tratamento para a condição e conta que ganhou visibilidade justamente por conta dos dois tons de pele.
A relação com a maquiagem é quase diária. Para a maior parte dos trabalhos ela tem que estar maquiada, mas faz questão de sempre deixar claro que não quer uniformizar a pele. "Quando uma marca me convida para posar, já pergunto se vai ser necessário esconder porque dou preferência para maquiagens que ressaltem minha pele", afirma Carine.

Base e corretivo também não fazem parte da sua rotina de cuidados com a pele, mas já fez o uso do produto para algumas campanhas, usando dois tons: um para a parte com melania, outro para a região sem cor.
Já a jornalista, maquiadora e produtora de conteúdo Cinthia Ferreira, 44, também portadora de vitiligo em algumas regiões do corpo, diz preferir utilizar a maquiagem para camuflar o sinal que tem na testa.

Por ser uma pessoa branca, não é todo mundo que percebe que ela é portadora de vitiligo. Então a maquiagem se tornou uma aliada para camuflar as manchinhas das quais Cinthia não gosta. "Não ligo para a minha mancha no cotovelo, nem para a da mão. Mas a da testa me incomoda", relata.

As manchas começaram a aparecer no seu corpo aos 25, após um momento de tensão familiar. A princípio, ela não deu bola. Mas quando viu que as irregularidades aumentaram, procurou ajuda médica e foi diagnosticada com vitiligo.

Ela diz que a mancha na testa atrapalhava na hora de ensinar determinadas técnicas para seu público. A maquiadora lembra, inclusive, de um episódio em que foi criticada por um internauta que disse que ela não sabia se maquiar porque estava com uma marca na testa.

Com o tempo, Cinthia passou a falar abertamente sobre a condição com o seu público e a dar dicas de como camuflar manchinhas que incomodam. "Eu fiz um vídeo sobre o tema e fui até convidada para entrevistas em revistas e na TV", diz.

Hoje, seu aliado é um autobronzeador próprio para pessoas com vitiligo em que usa, especificamente, na testa. Para que o produto funcione, Cinthia o aplica na área limpa e deixa por seis horas, após isso, pode lavar e seguir com a rotina de skincare do dia, ou da noite. Segundo ela, a cobertura dura cerca de três dias.
"Acho até que essa manchinha me incomoda mais por conta do trabalho do que por conta da vida real", relata.

Nas redes sociais, ela diz ter sido vítima de comentários desagradáveis por ensinar como cobrir a área, mas não se importou. "Já me disseram que ensinar a cobrir o vitiligo era um incentivo para as pessoas não se aceitarem", afirma Cinthia.

Fã de produtos cosméticos, a jornalista diz que a relação com a maquiagem até melhorou após o descobrimento da condição. "Não saio de casa sem maquiagem, mas essa é uma coisa minha. Eu me incomodo muito mais de sair sem uma máscara de cílios e sem um blush do que cobrir o vitiligo", diz.

Para a médica dermatologista membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), Daniela Antelo, não há riscos de uma pessoa com vitiligo utilizar maquiagem. Pelo contrário, o item pode ser um aliado para ajudar algumas pessoas a lidarem com a condição.

O item fundamental, no entanto, é o protetor solar. "O paciente pode até optar por um filtro com cor, em especial aqueles com alta cobertura, que por si só acabam sendo melhores até do que a própria maquiagem", explica Antelo.

E para quem tem vitiligo, a exposição ao sol e cuidado com a pele tem que ser redobrado. Antelo afirma ainda que o paciente precisa reaplicar o filtro ao longo do dia.
Outra dica da profissional é uma atenção redobrada em relação à procedência dos itens de maquiagem. "O indicado é usar boas marcas, mas não só porque o paciente tem vitiligo, mas para evitar complicações alérgicas", finaliza.

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