Manipulação: Bauermann se ofereceu para levar cartão em Santos x Avaí

Publicado em 10/05/2023, às 13h54
Foto: Reprodução -

GE

Réu na operação Penalidade Máxima II, que investiga a manipulação de jogos no futebol brasileiro, o zagueiro Eduardo Bauermann se ofereceu para fazer parte do esquema na partida entre Santos e Avaí, no dia 5 de novembro do ano passado, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro.

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No processo ao qual o ge teve acesso, há prints da conversa em que Bauermann chama o apostador Leandro Almeida, que não está entre os denunciados, dias antes da partida e propõe:

 "Fala irmão, tudo na paz? E aí, bora pra esse jogo de sábado?".

Leandro responde que "esse jogo é muito bom", mas que só conseguiria levar o dinheiro ao zagueiro na segunda-feira, dois dias depois da partida. Bauermann, então, sugere que ele transfira e avisa:

"Vou dar outro rumo nesse dinheiro". 

No dia da partida, marcada para 16h30, Bauermann recebe uma mensagem de Leandro Almeida às 13h, em tom de cobrança:

" Irmão, você combinou isso com mais alguém? Sua cotação caiu de 5.00 pra 3.60 e agora 2.50 e agora ficou até suspenso o cartão". 

Bauermann, então, nega que tenha negociado com outra pessoa.

Mas o zagueiro foi ameaçado por outro apostador justamente por conta desse jogo e depois por ter sido expulso após o apito final do duelo com o Botafogo, o que não conta para os sites de aposta.

Na sequência da conversa, o jogador do Peixe propõe deixar o esquema de levar um cartão amarelo para outro jogo, na sequência do Brasileirão. Só que o apostador insiste em Santos x Avaí.

" Mano se abrir, fazemos assim. Tá doido. Você ganha 50 mil e eu ganho 80 mil. Não tem como recusar né". 

Às 13h10, pouco mais de três horas antes de a bola rolar, Bauermann avisa Leandro que só vai ficar com o celular até 14h40. O apostador, então, desiste do esquema. E o zagueiro responde:

" Melhor então, mano... Por isso falo que tenho medo. Combinei com ninguém e parece que sim".

Afastamento - O Santos decidiu na manhã desta terça-feira afastar o zagueiro Eduardo Bauermann. O presidente Andres Rueda se reuniu com o atleta e depois convocou o grupo para falar sobre o assunto no CT Rei Pelé.

Veja a nota publicada pelo Santos:

O Santos Futebol Clube informa que o atleta Eduardo Bauermann foi comunicado que está afastado preventivamente dos treinos com o elenco profissional, a partir desta terça-feira (9), diante dos novos desdobramentos divulgados na Operação Penalidade Máxima 2, do Ministério Público de Goiás.

O jogador permanecerá fazendo atividades físicas no CT Rei Pelé. O Clube aguardará se a Justiça aceitará a denúncia para definir novas ações, sempre com o pensamento voltado a preservar a instituição.

O Santos FC não tolera desvios de conduta e de ética.

Entenda o caso - O Ministério Público de Goiás fez uma nova denúncia sobre manipulação de jogos no futebol brasileiro. Estão sob investigação partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro de 2022, além de confrontos dos estaduais que aconteceram neste ano.

São pelo menos 20 partidas sendo analisadas pelo MP. A nova denúncia foi acatada pela Justiça na última terça-feira e os 16 investigados viraram réus.

Os clubes e casas de apostas são tratados como vítimas.

Os casos investigados envolvem apostas para lances como punições com cartões amarelo ou vermelho e cometer pênaltis. Bruno Lopez de Moura, apostador que havia sido detido na primeira fase da operação, é visto pelo MP como líder da quadrilha no esquema de manipulação de resultados. Outras 16 pessoas podem virar réus no caso.

Na fase anterior da operação, alguns jogadores foram alvos de uma operação de busca e apreensão: os zagueiros Victor Ramos, da Chapecoense, Kevin Lomónaco, do Bragantino, Paulo Miranda, ex-Juventude, e Eduardo Bauermann, do Santos, os laterais-esquerdos Igor Cariús, do Sport, e Moraes, ex-Juventude e hoje no Atlético-GO, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS.

Na fase atual, foram adicionados os nomes dos volantes Fernando Neto, ex-Operário-PR e hoje no São Bernardo, e Nikolas, do Novo Hamburgo-RS, e do atacante Jarro Pedroso, do Inter-SM.

O MP-GO pede a condenação do grupo envolvido na manipulação, além do ressarcimento de R$ 2 milhões aos cofres públicos por danos morais coletivos, ainda segundo a Veja.

Entre os detalhes obtidos nesta investigação do MP-GO estão os valores oferecidos para que os jogadores fizessem os atos previstos nas apostas. Veja abaixo quais são:

Foram oferecidos R$ 30 mil para que Moraes, lateral-esquerdo do Juventude, recebesse cartão amarelo. R$ 5 mil foram pagos antes do jogo. O atleta terminou de fato advertido.

Promessa de pagamento de R$ 60 mil, com R$ 5 mil depositados antes do jogo para que Gabriel Tota, atleta do Juventude, fizesse a transferência ao zagueiro Paulo Miranda, a fim de que ele fosse punido com amarelo, como ocorreu no jogo.

Promessa de pagamento de R$ 50 mil, sendo R$ 20 mil antes do jogo, para que o lateral-esquerdo Moraes levasse amarelo.

No mesmo jogo, também havia o combinado de se pagar R$ 50 mil, sendo R$ 10 mil antes do jogo, para que Paulo Miranda levasse amarelo. Romário Hugo dos Santos fez este pagamento à conta de Gabriel Tota, responsável pelo repasse ao zagueiro.

Promessa de pagamento de valor total incerto, mas R$ 5 mil foram entregues a Igor Cariús, do Cuiabá, antes do jogo, para que ele levasse o cartão amarelo. Ele levou a advertência e ainda teve um segundo cartão, que ocasionou sua expulsão.

Pagamento de R$ 70 mil, sendo R$ 30 mil antes do jogo para que o zagueiro do Bragantino Lomónaco levasse o cartão amarelo, como de fato aconteceu.

Pagamento de R$ 60 mil para que Igor Cariús levasse o cartão amarelo.

No jogo da Série B do Brasileirão passado, a promessa era de pagamento de R$ 500 mil, sendo R$ 40 mil pagos antes da partida para Fernando Neto, jogador do Operário, levar o cartão vermelho. Ele não foi expulso do jogo.

Promessa de pagamento de R$ 100 mil, para que Victor Ramos, da Portuguesa, cometesse um pênalti. Como Bruno, Ícaro e Zildo, três dos denunciados pelo MP, aparentemente não encontraram jogadores para manipular resultados na mesma rodada do Paulistão deste ano, não houve depósito antecipado, nem aposta no jogo.

Promessa de pagamento de R$ 200 mil para que Lomónaco, zagueiro do Bragantino, cometesse um pênalti no primeiro tempo. Ele não aceitou.

Promessa de pagamento de R$ 80 mil, sendo R$ 5 mil depositados antes do jogo para que Nikolas, do Novo Hamburgo, fizesse um pênalti no jogo do Campeonato Gaúcho deste ano. Ele cometeu a penalidade.

Pagamento de R$ 70 mil, sendo R$ 30 mil depositados antes da partida para que Jarro, do São Luiz, cometesse um pênalti no primeiro tempo do jogo do Campeonato Gaúcho de 2023. Ele fez a falta aos 15 minutos de jogo e pediu para ser substituído aos 28.

O que é a operação Penalidade Máxima?

As investigações começaram no final do ano passado, depois que o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Ele recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os demais R$ 140 mil após a partida. Como não foi relacionado, tentou cooptar colegas de time – sem sucesso.

A história então vazou e o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, ele próprio um policial militar, investigou o caso e entregou as provas para o Ministério Público de Goiás. A primeira denúncia, feita há dois meses, indicava que havia três jogos suspeitos na Série B do ano passado. Mas, como o ge publicou, havia a suspeita de muito mais jogos, em várias competições, o que faria a operação se tornar nacional. Foi o que aconteceu. As suspeitas agora chegaram à Série A.

Oito jogadores de diferentes clubes foram denunciados pelo Ministério Público e viraram réus por participarem do suposto esquema.

São eles: Romário (ex-Vila Nova), Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).

Eles estariam envolvidos no esquema de cometer pênaltis no primeiro tempo dos jogos Vila Nova x Sport, Criciúma x Tombense e Sampaio Corrêa x Londrina. Isso só não aconteceu na partida entre goianos e pernambucanos, já que Romário e Gabriel Domingos não jogaram.

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