Maconha é pior para o cérebro do que o álcool, afirma estudo

Publicado em 04/10/2018, às 19h44
Maconha | Pixabay -

VEJA.com

De acordo com um estudo publicado na quarta-feira no periódico científico American Journal of Psychiatry, o consumo de maconha é mais prejudicial para o cérebro de adolescentes do que a ingestão de bebida alcoólica. Segundo a pesquisa, adolescentes que usam maconha regularmente podem sofrer danos duradouros na capacidade de pensamento. 

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Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, acompanharam 3.800 adolescentes (acima dos 13 anos) de mais de trinta escolas canadenses ao longo de quatro anos. Para obter uma descrição mais honesta do consumo de maconha e álcool, os estudantes receberam a garantia de que pais e professores não teriam acesso às informações – a menos que houvesse risco de segurança iminente. 

Os participantes foram submetidos a testes cognitivos que mediam memória (de longo e curto prazo, incluindo recordação), raciocínio perceptivo e controle inibitório. Eles também responderam questionários anuais sobre a frequência do consumo de álcool e cannabis (maconha). 

Entre os entrevistados, 75% afirmaram beber álcool, mesmo que ocasionalmente, enquanto 28% admitiram fazer algum uso de maconha. Embora o uso de maconha tenha sido menor que o de álcool, os pesquisadores concluíram que a cannabis causa mais danos à cognição do que o álcool.

Todos esses prejuízos cognitivos permanecem mesmo após a interrupção do consumo. “A cannabis compromete a cognição e provoca atrasos no desenvolvimento cognitivo dos adolescentes. Nosso estudo mostrou que o uso precoce da maconha causa prejuízos prolongados no cérebro”, disse a psiquiatra Patricia Conrad, principal autora do estudo, à rede americana NBC News.

A equipe ainda apontou que adolescentes que fumam maconha e bebem álcool estão mais propensos a apresentar problemas de cognição – processo cerebral pelo qual adquirimos conhecimento através da percepção, atenção, associação, memória e raciocínio. Já quando o uso do entorpecente é maior que o da bebida alcoólica, os indivíduos mostram efeitos adicionais, como atraso na memória.

“Seus cérebros [dos adolescentes] ainda estão se desenvolvendo e a cannabis está interferindo nisso. Eles [os adolescentes] deveriam postergar o uso de cannabis o máximo possível”, disse Patricia à BBC.

De acordo com a autora, o acompanhamento mostrou uma conexão preocupante entre o uso da cannabis e a redução do controle inibitório – função cerebral que analisa e controla comportamentos impulsivos. O baixo desempenho dos participantes neste quesito mostrou um risco para outros comportamentos aditivos, ou seja, em alguns casos, a maconha tem potencial de se tornar a “porta de entrada” para outros vícios, incluindo drogas mais pesadas como crack e heroína. 

Jean-François G. Morin, co-autor da pesquisa, contou que eles agora pretendem identificar se os efeitos no desenvolvimento cerebral podem estar associados a outras dificuldades, como baixo desempenho acadêmico, danos neuroanatômicos e o risco de futuros vícios ou transtornos mentais. 

Esse não é o primeiro estudo a associar o consumo de maconha a prejuízos cerebrais em adolescentes. Uma pesquisa publicada em junho na revista científica JAMA Psychiatry apontou que pessoas que usam cannabis frequentemente durante a juventude têm maior probabilidade de apresentarem pior desempenho em testes de memória, aprendizado e pensamento complexo (resolução de problemas e processamento de informações), em comparação com pessoas que não consomem a droga. 

Outro estudo publicado recentemente no periódico NeuroImage mostrou que o uso regular da maconha deixa marcas no cérebro, mesmo quando a pessoa não está sob o efeito imediato da droga. Ou seja, os efeitos também são sentidos em períodos de sobriedade. Os pesquisadores descobriram ainda que a cannabis ativa ondas neurais que deixam o cérebro em alerta e diminui a atividade de ondas associadas ao sono profundo e aos sonhos. Todos esses efeitos podem aparecer quando o indivíduo está sóbrio.

Uma pesquisa de 2014, publicada no The Lancet Psychiatry, concluiu que adolescentes que fumam maconha diariamente têm 60% menos probabilidade de se formar no ensino médio ou superior, quando comparados às pessoas que nunca usaram a droga. Sob as mesmas circunstâncias, a probabilidade de tentar suicídio é sete vezes maior.

“A relação entre o uso de cannabis e resultados negativos é significativa mesmo em baixos níveis de uso. Os resultados sugerem que pode não haver um limiar onde o uso pode ser considerado seguro para adolescentes”, disse Edmund Sillins, co-autor do estudo, ao The Washington Post.

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