Redação
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Estudiosos e especialistas debatem exaustivamente o reflexo da tecnologia nas relações humanas. Carência, solidão, ou apenas mais um lugar – só que virtual – para conhecer pessoas? O que buscam e o que encontram as pessoas em sites que oferecem "chats", as antigas mas ainda frequentadas salas de bate-papo?
O Portal TNH1 visitou algumas dessas salas para mostrar o perfil dessas pessoas, e o que elas acham desses ambientes. Como elas convivem com o perigo de marcar encontro pela internet, e conhecer histórias desse público que passa horas a fio em conversas virtuais:
Com 6 ou 7 salas movimentas o dia todo por cerca de 30 pessoas cada uma, entramos nas salas com o ‘nick’ (apelido) ‘Jornalista’ e nos identificamos como da equipe do Portal TNH1 para conversar.
O resultado foi em parte esperado – muita gente em busca de sexo – em parte encontrou-se personagens curiosos, como um rapaz que utiliza as salas para pregar o evangelho.
Após ‘bater-papo’ em exatas 10 salas, o TNH1 ouviu o psicólogo Antony Souza, que fez uma análise sobre esse tipo de ambiente e o comportamento de seus frequentadores.
GAROTAS (OS) DE PROGRAMA, HOMENS "KSADOS" QUERENDO SEXO COM HOMEM...
Nas salas abertas durante o último final de semana, com média de 30 pessoas, 20 delas utilizavam apelidos ‘apimentados’, muitos deles de forma bem explícita.
Apesar de portais como UOL disponibilizarem salas para várias cidades, em Alagoas, só encontramos visitantes em Maceió e Arapiraca (nesta, em menor número).
Reproduzimos abaixo algumas listas de participantes das salas visitadas. Vale ressaltar que alguns apelidos são bem "picantes", porém o TNH1 omitiu alguns deles considerados sexualmente explícitos.
ESPECIALISTA: APELIDOS FOGEM DAS CONVENÇÕES SOCIAIS
Para o psicólogo Antony Souza, os apelidos demonstram o que ele chama de "representação de um papel desnudo de convenções sociais".
“A singularidade assim é representada pelo modo que essas pessoas se vêem no momento da criação desse perfil que será utilizado para manter contato com os demais participantes. Nesse momento, existe de fato uma viagem pelo desejo sexual, fantasias eróticas ou apenas uma conversa, é um impulso para: o que eu quero ser ou representar aqui nesse momento”, explica.
"Esses apelidos podem ser criados com infinitos intuitos, mas no geral representam um desejo pela representação de um papel desnudo de convenções sociais, ou seja, o que eu vou fazer aqui, que não poderia fazer no meu ambiente social, já que em tese esse apelido resguardaria a verdadeira identidade do usuário".
UM ESCONDERIJO
O psicólogo avalia também que esses ambientes são uma espécie de "esconderijo". “Também é uma forma de esconderijo, pois o fato de resguardar sua identidade num meio virtual considerado comprometedor já pode causar algum medo ou resistência prévia. Esconderijo pelo fato da representação que estes locais podem ter para seu círculo de amigos, colegas de trabalho ou familiares, temendo a esse tipo de julgamento”, analisa Antony Souza.
DE PREGAÇÃO EVANGÉLICA À PROSTITUIÇÃO
Nas salas visitadas pelo TNH1 encontrou-se personagens inusitados e também muita gente usando as redes para encontrar clientes para programas.
Mas vale atenção o fato de que alguns se declaram GP – garota ou garoto de programa – enquanto que outros não fazem o serviço profissionalmente. Nesse caso muitos colocam símbolos como “$$” e ‘cobro por sexo’, deixando claro que querem o encontro mas com pagamento.
Conversamos com um internauta com o apelido “ksada ker $$’ que negou fazer programa e explicou: curto sexo e aproveito pra descolar uma grana”. Perguntando qual a diferença dele para ela e uma garota de programa ela disparou: “gosto de sexo. Então porque não unir o útil ao agradável”. Porém, estranhamente, ela disse recusar encontros sem pagamento.
Uma transexual oferece serviço de massagens, mas com a opção de sexo também. Em conversa com o TNH1, ela garantiu conseguir clientes pelo bate-papo.
O EVANGÉLICO - Deus me tirou da prostituição!
Em meio à tanto sexo e paquera, encontramos alguém com o apelido “evangélico”. Sua missão? pregar no mundo virtual.
Abordado, o "Evangélico" inicialmente apenas repetia sua pregação:
Em seguida, ele contou que Deus o tirou da prostituição. Perguntado se ele alcançava o objetivo na "pregação online", ele respondeu que conseguia o objetivo de Deus, que era salvar almas perdidas.
ENCONTROS MARCADOS: "gato por lebre"
Alguns internautas entrevistados pelo TNH1 relataram histórias onde a conversa evolui, e somente na hora de marcar o encontro a pessoa revela ser homem e não mulher, como esperava o interlocutor:
APENAS UM PONTO DE ENCONTRO E CONVERSAS COM CONTEÚDO
Como mensurado no início da reportagem, a maioria entra nas salas em busca de sexo. Mas e a minoria, o que procura?
Pelas conversas mantidas com a redação do TNH1, há quem busque uma conversa mais qualificada e que vá além do sexo.
Uma dessas pessoas, uma mulher de 35 anos, usando o codinome "Laura", falou voluntariamente com a reportagem do TNH1 no chat, afirmando que queria ser entrevistada para, na matéria, não aparecesse apenas "vulgaridade". "Aqui tem pessoas esclarecidas tbm", alertou.
Com nível superior e estudando mestrado, "Laura" conta que já fez grandes amizades e compara as salas de bate-papo a um "barzinho", onde se vai para conhecer pessoas.
"Acho que aqui ocorre da mesma forma com se fosse num barzinho ou shopping. Primeiro inicia um bate papo no sentido de buscar afinidades. Daí marca um encontro real. Mas o importante é saber com quem está saindo. Sempre busco saber idade e profissão", conta.
"Sou bastante seletiva no bate papo e somente converso com pessoas de nível de escolaridade próximo ao meu. Então da pra ter um papo legal e sem "capas". Já tive oportunidade de conhecer e ficar amiga de pessoas maravilhosas. Casadas que vêm para o bate papo conversar por se sentirem sozinhas e os maridos nem imaginam", confidenciou.
ESPECIALISTA: CADA UM LEVA PARA O BATE-PAPO SUA CARGA EMOCIONAL PRÓPRIA
Sobre tipos como "Laura" e outros citados por ela, o psicólogo Antony Souza teoriza: "Cada um leva para esse espaço uma carga emocional diferente, tem motivações diferentes e imprimem sua singularidade nessa inter-relação virtual", disse o psicólogo.
"Não basta generalizar algum comportamento, cada um determina sua própria motivação, seus desejos, medos ou angústias que impulsionam a criação de um perfil nas salas de bate-papo".
"As salas de bate papo no geral se apresentam como meio de descarga emocional, onde pessoas tendem muitas vezes a se mostrar do jeito que queriam ser por motivos diversos, sejam eles: encontros casuais, sexo em si, conversa comum para verificar outras possibilidades além bate-papo dentre outras, podendo ser considerada também um esconderijo pois o fato de resguardar sua identidade num meio virtual considerado comprometedor já pode causar algum medo ou resistência prévia. Esconderijo pelo fato da representação que estes locais podem ter para seu círculo de amigos, colegas de trabalho ou familiares", explicou o psicólogo.
ELE REENCONTROU A NAMORADA NO BATE-PAPO
Entre tantas histórias, chamou a atenção um relato do internauta que usava o apelido "Solteiro 36". Entre uma "teclada" e outra, ele reencontrou um antigo amor, uma namorada do passado. Veja a reprodução da conversa:
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