Justiça cassa liminar que suspendia uso do glifosato

Publicado em 03/09/2018, às 22h29
O glifosato, por exemplo, é um herbicida usado em larga escala no Brasil, onde a soja e o milho transgênicos resistentes ao agroquímico são dominantes nas lavouras | Cristiano Mariz/VEJA -

VEJA.com

O Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1) derrubou nesta segunda-feira (03) liminar do início de agosto, da Justiça Federal de Brasília, que determinava a suspensão de registros de produtos à base de glifosato e de outros dois agroquímicos, abamectina e tiram.

LEIA TAMBÉM

Caso a decisão não fosse cassada, os registros dos produtos que utilizam essas substâncias seriam suspensos a partir desta segunda-feira, trazendo problemas para agricultores. O glifosato, por exemplo, é um herbicida usado em larga escala no Brasil, em cultivos de soja.

No começo de agosto, a juíza federal substituta da 7ª Vara do Distrito Federal, Luciana Raquel Tolentino de Moura, havia determinado a não concessão de novos registros de produtos que contenham como ingredientes ativos glifosato, abamectina e tiram, presentes em agroquímicos, em processo movido pelo Ministério Público.

Em sua decisão, o presidente em exercício do TRF1, desembargador Kássio Marques, acatou recurso da Advocacia-Geral da União por entender que está caracterizada a “grave lesão à ordem pública” na suspensão do uso dos produtos.

“Nada justifica a suspensão dos registros dos produtos que contenham como ingredientes ativos abamectina, glifosato e tiram de maneira tão abrupta, sem a análise dos graves impactos que tal medida trará à economia do país e à população em geral”, disse o desembargador.

Ele lembrou na decisão que tais produtos questionados “já foram aprovados por todos os órgãos públicos competentes para tanto, com base em estudos que comprovaram não oferecerem eles riscos para a saúde humana e para o meio ambiente”.

No recurso ao TRF1, a AGU tinha defendido a revogação imediata da proibição e destacado que o impedimento, se mantido, geraria “grave risco de lesão à ordem econômica”.

Repercussão
O glifosato é um herbicida utilizado em importantes lavouras brasileiras, especialmente na soja, o principal produto de exportação do Brasil, o maior exportador global da oleaginosa.

A decisão judicial veio em momento em que produtores se preparam para o plantio da nova safra, a qual deve ser recorde, podendo superar os 120 milhões de toneladas, segundo algumas consultorias.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comemorou a decisão em sua conta no Twitter.

“Agora sim, a boa notícia!! Enfim, o TRF1 suspendeu a liminar que proibia o uso do glifosato!”, afirmou Maggi.

No fim do mês passado, ele, que também é um importante empresário do setor agrícola, havia dito equivocadamente que a liminar fora derrubada.

Para o gerente de Economia da Abiove, associação que representa a indústria de oleaginosas, Daniel Furlan Amaral, a sentença do desembargador Kássio Marques foi “bastante ponderada” e ocorreu a tempo de os produtores se prepararem para o plantio.

“O setor agora tem condição de se preparar adequadamente, para que o produto seja repensado ou validando que ele não oferece riscos à saúde. O importante é que essa decisão garante que o glifosato continue sendo usado e que novas discussões sejam feitas de maneira adequada, sem suspensões abruptas”, afirmou.

A gigante Bayer, que recentemente adquiriu a norte-americana Monsanto, que comercializa transgênicos resistentes ao glifosato, também comemorou a decisão.

“Isso é realmente uma boa notícia para os produtores brasileiros, que usam herbicidas à base de glifosato para controlar ervas daninhas e ajudar suas lavouras a crescer de modo seguro e efetivo”, afirmou em nota Liam Condon, integrante do Conselho da Bayer e presidente da Divisão de Crop Science.

“O glifosato ajuda os produtores a cultivarem suas safras com menor impacto no solo e reduzida emissão de carbono.”

A indústria de agroquímicos tem afirmado que décadas de uso do glifosato e avaliações de órgãos oficiais comprovam que o herbicida é seguro.

A liminar contra o glifosato no Brasil surgiu na mesma época em que a Monsanto foi condenada a pagar uma indenização milionária a um jardineiro que trabalhava com o produto nos Estados Unidos.

Já o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ponderou que a derrubada da liminar “não é garantia” e que outras “decisões absurdas” podem ser tomadas.

Logo após a suspensão dos registros dos produtos, Carvalho havia dito que a Justiça estava “brincando com o que não conhece”.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Justiça condena homem que chamou artista de 'traveco' em post de casa de shows, em Maceió Justiça proíbe condomínio de usar galinhas contra praga de escorpiões Justiça manda indenizar mulher que contraiu HPV após traições do ex-marido STF nega liberdade condicional a ex-deputado Daniel Silveira