Jucá nega acusações de barrar Lava Jato e diz que continua no cargo

Publicado em 23/05/2016, às 16h28

Redação

O ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) convocou uma coletiva de imprensa às 12h desta segunda-feira (23) para apagar o primeiro grande incêndio da gestão do presidente interino Michel Temer. Jucá negou que tenha tentado barrar a operação Lava Jato, conforme sugere um diálogo publicado hoje pelo jornal Folha de S.Paulo.

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— O diálogo foi feito de uma forma extensa. O que vemos na Folha são frases soltas dentro de um diálogo que ocorreu, portanto, é importante registrar o contexto.

O jornal publicou hoje uma gravação entre Jucá e Sérgio Machado, ex-senador do PMDB e indicado do partido para presidir a Transpetro entre 2003 e 2014.

Na conversa, Machado afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “está a fim de pegar vocês [do PMDB]. E acha que eu sou o caminho”.

Jucá então sugere uma saída “política” para encontrar uma solução e “estancar a sangria”.

Na versão do ministro, o diálogo tratava da crise econômica e política do País, e não da Lava Jato.

— Sempre defendi e explicitei com atos a operação Lava Jato. Sempre reafirmei que considero a operação uma mudança positiva na política brasileira. Uma mudança de paradigma da relação entre candidatos e empresas. Segundo, eu votei no Senado para ajudar na recondução de Janot [procurador-geral da República] ao cargo, quando existiam resistências para tal. Ele faz um excelente trabalho. Estamos numa democracia plena. Do presidente a qualquer servidor, todos podem e devem ser investigados se houver qualquer dúvida.

Segundo Jucá, “não há nenhum demérito em ser investigado. O demérito é ser condenado”.

— Não tenho nenhum temor em ser investigado na Lava Jato ou em qualquer processo. Não tenho nada a temer e não devo nada. Se tivesse telhado de vidro, eu não teria assumido a presidência do PMDB num momento de confronto com o PT.

O ministro afirmou ainda que é preciso “celeridade” nas investigações, para que a classe política não continue sob suspeita.

— É no mínimo desconfortável que a maioria da classe política esteja com uma nuvem negra sobre a cabeça por conta de qualquer menção [nas delações] ou qualquer dúvida sobre a investigação. Quem tiver culpa deve pagar por isso, mas é inadmissível que passem 10, 15 anos com dúvida sobre a classe política sem qualquer manifestação da Justiça. É importante que se separe joio do trigo, mas não se pode pairar uma desconfiança generalizada. Fazer com que todos os políticos pareçam iguais não é uma saída para a crise política.

Senador licenciado, Jucá reafirmou que não renunciará ao cargo de ministro e que o mandato pertence ao presidente, e que ele continuará no cargo enquanto tiver a confiança do presidente interino.

Ele fez um apelo ainda para que o jornal publique toda a transcrição da conversa.

— Quando for transcrito, eu faço uma mesa-redonda.

Machado é alvo de inquérito no STF no âmbito da Lava Jato. Ele foi citado em duas delações como operador de um esquema de desvio de verbas que beneficiaria o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).

Jucá também é formalmente investigado pela PF em decorrência da Lava Jato, no inquérito 3989, ao lado de dezenas de outros políticos, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o ex-ministro Mário Negromonte e o atual presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA).

A conversa está em poder da PGR (Procuradoria-Geral da República), segundo a Folha. Ao ser questionado sobre como a conversa teria sido gravada (já que não se trata de uma conversa telefônica, mas sim de uma gravação na residência do senador em Brasília), o ministro disse que era preciso perguntar "para a Folha e para o Machado".

Ponto a ponto

Na coletiva, Jucá usou termos citados na conversa vazada para tentar explicar sua versão sobre eles.

“Ali [na reportagem] não está a questão de como é o governo de salvação nacional, ou a sangria da economia”, diz Jucá.

Na gravação, o termo é utilizado em referência à uma saída “política”. Veja:

MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.

MACHADO - Odebrecht vai fazer.

JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.

MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.

JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.

Em outro trecho, Jucá sugere uma estratégia para “delimitar” as investigações, segundo a interpretação da Folha:

“[...]

MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. "Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha". Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.

MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto”.

Na coletiva, Jucá afirmou que ele se referia a delimitar os responsáveis pela corrupção, para que não se paire as dúvidas sobre a classe política de forma generalizada.

— Delimitar responsabilidade é decidir quem tem culpa e quem não tem culpa. Não é paralisar a investigação.

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