Jogar óleo usado na pia mata peixes e polui rios; veja onde descartar

Publicado em 17/08/2022, às 09h10
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O que fazer com aquele resto de óleo de fritura na panela? Mesmo sabendo que não deve, muita gente ainda despeja no ralo pensando que "só um pouquinho não faz mal". Na melhor das hipóteses, é comum guardar a sobra num recipiente por meses a fio, esperando uma oportunidade de dar fim ao resíduo.

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O óleo usado pode parecer pouco no fundo da panela, mas traz problemas para o meio ambiente e para a rede de esgoto quando não é descartado corretamente.

"Nunca se deve jogar o óleo de cozinha na pia. Isso causa inúmeros impactos ambientais para o tratamento correto do esgoto e mais impacto ainda caso este esgoto não siga para uma estação de tratamento", disse a Ecoa Roseli Ferrari, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.

O óleo causa o entupimento dos canos das casas e prédios e também prejudica o escoamento para as estações de tratamento, o que pode levar ao refluxo do esgoto. Isso gera custos de manutenção e torna necessário o uso de químicos poluentes para desobstruir o encanamento.

Quando atinge os cursos d'água, o estrago é ainda maior. Sendo menos denso, ele se acumula na superfície da água e diminui a oxigenação, a entrada da luz e pode se alojar na superfície de organismos vivos como aves e peixes, causando danos que podem ser fatais.

De assassino de rios a biodiesel

Ao ser descartado de maneira inadequada, o óleo continua gerando impactos ao longo do tempo. Ele libera gás metano, um dos responsáveis pelo efeito estufa, ao entrar em decomposição. Quando acaba nos cursos d'água ou em aterros após ser descartado no lixo comum, ele ainda impermeabiliza o solo e agrava o problema das enchentes.

Todos esses problemas tornam o descarte correto do resíduo mais que necessário. Além disso, o óleo coletado pode se tornar matéria-prima para novos produtos, como biodiesel, sabão, tintas e outros.

A transformação em biodiesel tem sido uma das formas principais de reaproveitamento do óleo pós consumo no Brasil. Segundo a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil, cerca de 30 milhões de litros do resíduo são utilizados na produção do biocombustível, que contribui para a reduzir emissões de gases do efeito estufa.

Duas mil piscinas olímpicas de óleo por ano

Em 2021, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o consumo de óleo comestível no Brasil foi de cerca de 3,8 bilhões de litros, o que equivale a mais de duas mil piscinas olímpicas cheias. Se 25% desse volume vira resíduo, como calcula o IBGE, 950 milhões de litros poderiam ter sido coletados e reaproveitados no ano passado.

Mas o volume recolhido costuma estar bem abaixo disso: em 2019, a coleta rastreada correspondeu a 108 milhões de litros, menos de 10% do volume que poderia ter sido destinado a outras cadeias de produção naquele ano. O valor real de óleo reaproveitado deve ser maior, já que inclui também a coleta informal e a produção caseira de sabão. Ainda assim, milhões de litros seguem indo para o ralo ou para o lixo.

Esse cenário é ainda mais preocupante quando se considera a estimativa de que cada litro de óleo tem potencial de contaminar até 25 mil litros de água, divulgada pela Sabesp.

O que fazer então?

Reutilizar o óleo para cozinhar não é recomendável porque traz riscos à saúde: a prática leva à formação de substâncias que causam problemas gastrointestinais e são potencialmente cancerígenas.

A sobra deve ser armazenada em um recipiente como uma garrafa PET, que precisa ficar fechado e guardado em um lugar seguro, longe de crianças e animais e da exposição a fontes de calor. O próximo passo é encontrar o ponto de entrega mais próximo da sua casa.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela lei 12.305 de 2010, não obriga os fabricantes e comerciantes de óleos comestíveis a implementarem logística reversa, procedimento em que empresas recolhem materiais depois do consumo para serem reaproveitados ou outra destinação adequada do ponto de vista ambiental. Mas alguns estados incluem o óleo no plano estadual de resíduos sólidos, exigindo dos fabricantes a logística reversa e estabelecendo metas de coleta.

Há uma série de iniciativas da indústria e de governos voltadas para a reciclagem do óleo e várias outras de cooperativas e projetos socioambientais. Entre essas iniciativas, está o programa Óleo Sustentável, coordenado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) para promover a coleta e a reciclagem do resíduo.

Atualmente, o programa tem pontos de entrega voluntária em nove estados e 150 cidades brasileiras e quer atender futuramente todo o Brasil, principalmente através da instalação desses pontos em escolas.

O programa nasceu oficialmente em 2012, mas desde 2006 as empresas associadas à Abiove já registraram mais de 10 milhões de litros de óleo pós-consumo coletado em 16 estados e no Distrito Federal, através de pontos de entrega instalados em redes de supermercados, escolas, condomínios, estabelecimentos comerciais, parques, hospitais e igrejas. A meta para 2022 é recolher 800.000 litros. O óleo coletado é comercializado com a indústria de transformação em biodiesel.

Pelo site, é possível inserir o CEP e encontrar o ponto de entrega mais próximo. O programa incentiva a adesão dos comércios e outros estabelecimentos, enfatizando que ela é gratuita, sem custos para a aquisição do coletor, transporte e destinação do produto e que a instalação atrai novos clientes.

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