Folhapress
Mergulhado em polêmicas desde o vazamento de documentos internos por uma ex-funcionária, o Instagram lançou na semana passada uma ferramenta que visa auxiliar os usuários que acreditam estar fazendo um uso abusivo da rede social: a Faça uma Pausa.
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O novo serviço está disponível na aba "Sua atividade", no menu lateral do aplicativo. O usuário pode programar lembretes para fazer pausas a cada 10, 20 ou 30 minutos. O lançamento vem após documentos mostrarem que o grupo estava ciente de que o Instagram é potencialmente danoso para a saúde mental de meninas adolescentes, de acordo com reportagem publicada pelo Wall Street Journal.
"Todos esses recursos que visam o uso consciente de tecnologia são válidos", afirma a psicóloga e professora da UFRJ Anna Lucia Spear King, uma das responsáveis pelo Delete, núcleo de detox digital da universidade. A psicóloga diferencia o uso abusivo do transtorno. "Todo mundo, só porque usa uma tecnologia por muitas horas, se acha viciado, mas as pessoas são, na verdade, mal-educadas a usá-la", diz.
No núcleo, os interessados recebem algumas instruções para ter uma relação mais saudável com o celular: reduzir o uso diário, respeitar as horas das refeições e desligar uma hora antes de dormir são algumas delas. São medidas do conhecimento de grande parte da população, que enfrenta dificuldade na hora de colocá-las em prática.
"As redes sociais agem como um jogo no nosso cérebro", afirma a psicóloga. "Esse jogo libera dopamina, endorfina e serotonina, substâncias químicas que dão prazer. Por isso que a gente quer voltar a acessar." Os usuários, muitas vezes, não sabem por que não conseguem diminuir o hábito. "As pessoas só sabem que elas têm que retornar àquilo para se sentir bem", diz ela.
Na impossibilidade de mudar essa realidade, é preciso tentar se educar, diz King. Para a coordenadora de mídias e democracia do Instituto de Tecnologia e Sociedade Karina Santos, é preciso "pensar em desenhos de redes sociais que empoderem os usuários". O conjunto de códigos de comandos que forma a engrenagem das plataformas, conhecido genericamente como "algoritmo", funciona a partir da análise do comportamento dos usuários e tem como um de seus objetivos atrair ao máximo a atenção de quem está online, para que a pessoa assim permaneça.
Dar poder de escolha ao usuário tem o potencial de conscientizar as pessoas sobre o funcionamento das redes sociais. Santos vislumbra uma rede social mais saudável se o usuário puder decidir quais informações são de seu interesse e de que forma elas serão apresentadas.
Medidas educativas como o lançamento da nova ferramenta "são um importante passo", segundo ela, mas é importante observar a implementação do serviço e testar se o design da ferramenta é eficaz em estimular uma pausa.
A gigante de tecnologia Meta, dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, está sob escrutínio público desde que a ex-funcionária Frances Haugen entregou documentos internos da empresa para a imprensa, que ficaram conhecidos como Facebook Papers. De acordo com uma das reportagens com base nesses documentos, a rede social teria sido informada de que o Instagram piorava as questões de imagem de 1 em cada 3 meninas. As adolescentes também culpavam o Instagram por problemas de ansiedade e depressão.
Questionada, a Meta afirma que "realiza esse tipo de pesquisa para fazer perguntas difíceis" e descobrir como "melhorar a experiência das pessoas". "Assim, pesquisas como essa servem para informar, por exemplo, o trabalho que fazemos relacionado a questões como imagem corporal negativa."
O Faça uma Pausa teria sido desenvolvido como parte do compromisso com experiências "positivas e significativas" na rede social. "Seguimos explorando novas ideias, como a de encorajar as pessoas a olhar para outros tópicos se elas estiverem navegando pelo mesmo tema por um tempo", afirmou um porta-voz da Meta.
Em depoimento no Congresso dos Estados Unidos em outubro do ano passado, Haugen pediu a regulamentação da empresa. Para ganhar dinheiro com publicidade, disse Haugen, a rede social deve fazer seus membros permanecerem na plataforma o maior tempo possível, e conteúdos de ódio engajam mais, disse ela.
"Acredito que os produtos do Facebook prejudicam as crianças, intensificam a divisão e enfraquecem a nossa democracia", afirmou na ocasião. "A empresa esconde intencionalmente informações essenciais aos usuários, ao governo dos Estados Unidos e aos governos do mundo todo."
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