Imitar voz de criança para falar com bebês beneficia desenvolvimento cerebral, indica estudo

Publicado em 13/12/2016, às 21h32

Redação

Se você é um daqueles que criticam os mais velhos por imitarem a fala de uma criança ao conversar com bebês, um estudo pode ser a prova de que, na verdade, eles sempre estiveram certos.

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Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conduzem uma pesquisa com bebês e suas mães para entender como funciona o desenvolvimento do cérebro das crianças.

Os cientistas já descobriram que eles aprendem melhor quando suas ondas cerebrais estão em sincronia com as dos pais. E mais que isso: quando a comunicação é feita por uma conversa com voz de criança ou por músicas infantis.

O estudo, que foi feito com o escaneamento dos cérebros dos bebês, também sugere que eles precisam se sentir seguros e amados para que as conexões no cérebro se formem propriamente, levando ao aprendizado efetivo.

Ganhando foco

Para um recém-nascido, o mundo é como diversas ondas de imagens e sons, uma sobrecarga de informações.

Mas com o tempo ele vai ganhando foco - os bebês logo aprendem a reconhecer rostos e vozes e, ao longo dos meses, aprendem a engatinhar, entender a língua e se comunicar com quem está ao redor.

Esse é um momento crucial em nossas vidas, quando conexões importantes começam a ser formadas no cérebro.

É para entender em detalhes como isso acontece é que os pesquisadores de Cambridge estão escaneando os cérebros dos bebês e de suas mães enquanto ambos estão interagindo e fazendo novas atividades.

As primeiras descobertas mostram que as crianças não aprendem tão bem quando suas ondas cerebrais e as da mãe estão fora de sintonia. Mas, quando ambos estão plenamente sincronizados, a assimilação de informação ocorre de maneira muito eficiente.

A pesquisadora Victoria Leong, que está liderando a pesquisa, afirma que o estudo tem mostrado que os bebês tendem a aprender melhor quando as mães se comunicam com eles usando uma voz bem calma e tranquila, que até imita um pouco o jeito dos próprios bebês - ela costuma chamar essa "língua" de "motherese" (linguagem de mãe, em uma tradução livre).

Ela também aponta que rimas musicais infantis também são uma forma efetiva de sincronizar o cérebro das mães com o dos bebês.

"Pode soar estranho para nós, mas os bebês realmente amam ouvir o "motherese", até mais do que o estilo adulto normal de falar. Prende a atenção deles melhor e também soa mais claro. Então já sabemos que, quanto mais o bebê ouvir "motherese", melhor será o desenvolvimento de sua linguagem", explicou.

Leong explica que a mesma máxima vale para os pais, avós e outras pessoas próximas - sempre que ouvem rimas infantis ou a chamada "voz de criança", eles conseguem se conectar melhor com o interlocutor.

A pesquisa, porém, é focada apenas na interação entre mães e filhos por enquanto.

"O cérebro do bebê está programado para responder ao "motherese" e é por isso que essa é uma forma muito efetiva de ensiná-los sobre coisas novas", diz.

A equipe de Leong também descobriu que os bebês respondem melhor a interações quando elas são acompanhadas de um contato visual, no olhar, mais prolongado.

Mães que cantavam músicas infantis olhando diretamente nos olhos de seus bebês conseguiam a atenção deles de maneira significativamente melhor do que outras que desviavam um pouco o olhar, ainda que ocasionalmente.

Isso quer dizer que pais "multitarefas" deveriam ficar preocupados se, de vez em quando, dão uma olhada no celular enquanto estão cuidando de seus bebês?

"Não, nada disso", esclarece Leong. "A maioria dos pais faz um trabalho ótimo quando cuidam de seus filhos. O desenvolvimento do cérebro só será afetado em casos extremos de negligência ou falta de atenção."

O próximo passo é tentar entender o que acontece no cérebro desses bebês quando eles estão recebendo uma "atenção de qualidade".

"Meu trabalho é compreender os fundamentos neurológicos desses efeitos", diz a pesquisadora.

"Como o cérebro do bebê trata as interações sociais com sua mãe e como isso ajuda na aprendizagem?", exemplifica.

Aprendizado

O cérebro humano demora muitos anos para se desenvolver - afinal, há muito o que aprender.

Os bebês exploram formas diferentes de reconhecer o mundo - primeiro por meio de brincadeiras -, até que, de repente, uma conexão é formada e fortalecida no cérebro. É aí que podemos dizer que ele "aprendeu".

Mas de acordo com Kirstie Whitaker, pesquisadora do Departamento de Psiquiatria de Cambridge, algumas vezes essas conexões podem ocorrer rápido demais.

"Se os bebês têm experiências mais estressantes logo no início da vida, seus cérebros acabam se desenvolvendo de maneira muito rápida. E aí, em vez de desenvolverem as melhores conexões, eles ficam com essas instantâneas", diz.

"É, portanto, uma das razões pelas quais eu insistiria para que as pessoas criem um ambiente de apoio e cuidado para permitir que as crianças explorem e permaneçam nesse período de desenvolvimento do cérebro, que é particularmente curioso e flexível, pelo maior tempo possível."

A pesquisadora Leong acrescenta que o comportamento gerado pelo amor é essencial.

"Estimular a conversa, dar atenção e passar um tempo junto é muito bom para o aprendizado dos bebês."

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