João Arthur Sampaio
Matéria atualizada em 26-01/2024
LEIA TAMBÉM
Um homem negro se tornou réu em uma ação judicial por injúria racial após uma discussão familiar com um italiano branco, de 62 anos, por conta de uma cobrança de dívida. A tia do acusado é casada com o estrangeiro há cinco anos. A denúncia foi aceita pelo juiz Mauro Baldini, da 1ª Vara de Justiça do município de Coruripe, no último dia 12 de janeiro.
Iniciado em setembro de 2023, o processo foi publicado no Diário Oficial do Tribunal de Justiça da segunda-feira, 15, e tramita como “prioritário”, além da ação ter um valor de R$5 mil. O caso seguiu para o Ministério Público, uma vez que, após a sanção da lei que enquadra injúria racial ao crime de racismo, o processo se tornou público.
A denúncia foi feita no dia 5 deste mês pelo MP à Justiça de Alagoas, na qual a promotora compreendeu que houve crime na fala do homem negro.
O TNH1 teve acesso aos autos e, de acordo com o documento, a briga começou quando a tia pediu que o italiano aceitasse que o sobrinho, que havia acabado de sair do presídio, fosse morar com eles, pois precisava se recuperar e não tinha onde ficar. Em fevereiro, aconteceram casos de chantagem não especificados no processo e foi quando a “vítima” vendeu uma parte do terreno ao denunciado.
A partir disso, xingamentos, ameaças e difamações à família do italiano começaram a ficar mais intensos e frequentes. Até que, no dia 6 de julho do ano passado, houve uma discussão pelo WhatsApp, na qual o homem negro falou que o estrangeiro tinha uma “cabeça europeia branca escravagista”.
Em um boletim de ocorrência, o italiano disse que fez um contrato com o sobrinho da companheira e mais três pessoas. Além das palavras referidas ao local de origem, o denunciado teria mandado várias mensagens dizendo que ele era uma pessoa má, que queria dar golpe nas pessoas e que iria espalhar mentiras sobre ele para a família na Europa.
As capturas de tela que o TNH1 teve acesso mostram a mensagem enviada pelo denunciado ao europeu. No texto, ele acusa o homem de o fazer trabalhar para ele por dois anos de graça. “Recebemos humilhação, desmerecimento e ingratidão”.
Segundo o Artigo 140, inciso 3, que tipifica a prática, a pena é de reclusão de um a três anos e multa.
Italiano se pronuncia: "Nunca fui escravagista. Trabalhei em ONGs que alimentavam a solidariedade e o antirracismo"
Em nota enviada à redação do TNH1, o italiano A.P., autor da ação que motivou a reportagem, questionando algumas informações constantes no processo.
Entre eles que tinha apenas "um relacionamento aberto" e não um casamento com a tia do acusado. Ele ainda reforça que nunca foi uma pessoa "racista", tendo trabalhado por quase 20 anos com ONGs e instituições na Itália e internacionais alimentando uma cultura de solidariedade e antirracismo. Leia a nota na íntegra:
"Informo que: 1) não é verdade quando se fala que "a briga começou porque a tia queria que aceitasse em casa o sobrinho", nunca aconteceu isso. A discussão era devida ao fato que eu não queria vender a minha parte, comprar dele, mas dividir e por isso ele, junto com outros, abriram um processo civil contra mim em agosto 2023, nesse âmbito saíram as injurias.
2) A tia do acusado teve um relacionamento aberto comigo. Nunca fomos casados.
3)Nunca me recusei a pagar ninguém pra algum serviço prestado e nunca foi escravagista ou racista na minha vida. Ao contrário, trabalhei quase 20 anos com ONG e Instituição na Italia e instituições internacionais alimentando uma cultura de solidariedade e antirracista, levando e distribuindo cadernetas, canetas, bolas, fardas, comida para muçulmanos, cristãos ortodoxos, ciganos, negros, amarelos e brancos, seja na Italia,Europa, África e Oriente Medio e nunca me interessou a cor da pele, da religião ou etnia, também porque não acredito que existe raça ,mas sim etnia. A raça é una: a raça humana. Atenciosamente. Brasil 24.02.2024
LEIA MAIS