Redação
Ele foi o navegador da zona V. Outros se aventuraram antes e em diferentes partes. Mas esse chegou a um lugar peculiar. O nome dele era Ernst Gräfenberg, ginecologista e obstetra alemão que em 1950 cogitou haver uma área saliente e enrugada na parte superior interna da vagina, a mais ou menos um dedo de distância da entrada do canal. Gräfenberg acreditava que esse pequeno território pode ser fonte de prazer quando tocado. Décadas mais tarde, essa região ganhou o nome de Ponto G, em homenagem ao médico. Não há comprovação da existência do local, muito menos se manipulá-lo pode trazer satisfação sexual. Para a ciência, o que existe é um enorme ponto D, de discórdia.
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O que interessa é que essa discussão desbrava fronteiras do sexo. Por causa dela, homens e mulheres passam a falar de tabus e tentam descobrir por conta própria se o achado é verdadeiro. Isso é saudável. Só vira problema quando um pontinho no meio desse universo que é o ser humano desemboca na ansiedade ou na cobrança para chegar ao orgasmo. Aí é desperdício. O corpo todo tem potencial erótico, apesar de algumas áreas serem predestinadas ao paraíso, como os genitais.
Lábios
A boca não tem do que reclamar quando o assunto são nervos. “Ela é tão rica em número de terminações quanto a área genital”, diz o ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O beijo mobiliza 146 músculos do corpo e induz a produção de ocitocina, o hormônio da conexão amorosa.
Orelhas
O lóbulo é sensível a estímulos, e a respiração do outro perto do ouvido faz mexer os pelinhos que ficam na entrada do canal auditivo externo. A vibração se propaga, é captada pelas células nervosas da cóclea, no ouvido interno, e transformada em impulsos para o cérebro.
Nuca e pescoço
Beijos e lambidas na nuca causam arrepios, frutos de um mecanismo que era importante para nossos ancestrais peludões. No frio, o cérebro manda os pelos se eriçarem, criando um colchão de ar quente sobre a pele. O medo provoca a mesma reação. Alguns bichos, como os gatos, parecem maiores e mais assustadores diante de inimigos quando ficam arrepiados. Esse sistema não faz tanto sentido para a nossa espécie hoje, mas os comandos continuam ali para o que der e vier. Mesmo que a “ameaça” seja um resfriamento na nuca causado por uma língua atrevida ou um ataque inesperado de beijos na base do pescoço. Ficamos com os sentidos excitados e achamos isso prazeroso, porque, em vez de um inimigo, o causador é alguém que desperta desejo.
Cérebro
Por último e mais importante vem o cérebro, que recebe as informações da pele e das mucosas enviadas por beijos, carícias, lambidas e olhares sexy. Ele dá início ao espetáculo que leva multidões ao delírio.
Quando o sexo começa, o sistema límbico, responsável pelas emoções e pelo comportamento social, passa a concentrar maior atividade, embora existam neurônios fazendo hora extra nos centros sensoriais da visão, da audição, do olfato e, principalmente, do tato, a estrela da equipe.
Aí acontece uma substituição no time. Algumas áreas são ativadas e outras, desligadas. O hipotálamo, que entre outras habilidades sabe como ninguém controlar a temperatura corporal e a liberação de hormônios, entra em sua melhor fase. O hipocampo, relacionado à memória, também fica ali batendo um bolão. A entrada sensorial do cérebro sofre uma exacerbação, em especial para estímulos vindos dos órgãos genitais. A produção de dopamina dispara. O clima esquenta e o suor aparece, na tentativa vã de esfriar os ânimos.
O córtex pré-frontal, que é craque em raciocínio lógico, planejamento e pensamentos complexos, vai para o banco de reservas. O lobo frontal, responsável pela capacidade de prever consequências futuras de atos do presente e por discernir o que é ruim do que é bom ou do que é melhor ainda, vai direto para o vestiário. O racional sai de campo e o emocional domina a partida.
O pequeno, mas cheio de ginga, núcleo acumbens, astro do sistema límbico, faz com maestria a ligação entre o hipocampo, o córtex pré-frontal e a amígdala, levando ao delírio a produção de dopamina. E é gol – goool do acumbens! No orgasmo, a adrenalina faz a torcida vibrar, dilata as pupilas, causa taquicardia, faz os pulmões trabalharem para honrar o ar que recebem. É o auge da ação do centro de recompensa. A circulação de sangue é intensa no cérebro e nos órgãos genitais. A sensação é de perda total de controle.
Até que a endorfina normaliza a atividade cerebral. A amígdala aponta o meio de campo e é fim de jogo.
Tesãometro
O neuropsicólogo Oliver Turnbull, do Reino Unido, pediu a 489 mulheres e 304 homens que dessem notas de 0 a 10 a 41 partes do corpo de acordo com o prazer que despertavam ao serem estimuladas. Como o previsto, em primeiro lugar na lista delas ficou o clitóris, com nota 9,17. Em segundo foi a vagina, com 8,4, e em terceiro a boca e os lábios, com 7,91. Homens elegeram o pênis (9), a boca e os lábios (7,03) e o escroto (6,5).
Outras regiões bem avaliadas pelas mulheres foram nuca (7,51), seios e mamilos (7,35), parte interna das coxas (6,7) e parte de trás do pescoço (6,2). O restante levou nota abaixo de 6, com cotovelo (0,16) em último lugar.
No ranking deles, o lanterninha da fila foi a canela (0,20). Com exceção das três primeiras colocações, todas as outras zonas erógenas deles ganharam menos de 6, como parte interna da coxa (5,84), nuca (5,65) e mamilos (4,89). O períneo (4,81), que fica entre o saco escrotal e o ânus, vem em seguida, à frente de pescoço (4,53) e peito (4,14).
Em homens e mulheres, o ânus e o períneo são regiões altamente sensíveis ao toque, com irrigação sanguínea e terminações nervosas abundantes. Ter prazer com esse tipo de estimulação é uma questão de gosto, e não de preferência sexual.
Segundo uma pesquisa realizada em 26 países, o brasileiro explora (ou diz explorar) mais áreas de lazer no sexo do que a média mundial. Dá uma olhada na porcentagem de pessoas adeptas das práticas a seguir.
Sexo oral
Recebem sexo oral
No Brasil: 50%
Média global: 33%
Fazem sexo oral
No Brasil: 48%
Média global: 32%
Masturbação
São masturbados pelo(a) parceiro(a)
No Brasil: 36%
Média global: 22%
Masturbam o(a) parceiro(a)
No Brasil: 34%
Média global: 21%
Massagem erótica
Fazem ou recebem massagem sensual
No Brasil: 22%
Média global: 16%
Sexo anal
Fazem ou recebem penetração anal
No Brasil: 18%
Média global: 6%
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