Revista Crescer
Dentro do útero, os bebês são muito mais ativos do que se imagina! Além de dormir, eles podem fazer xixi, soluçar... e em casos de gestações gemelares, os bebês podem até interagir entre si. "Após a 14ª semana de gestação os fetos interagem com as estruturas que estão próximos a eles, como: parede uterina, cordão e inclusive com o outro bebê. Isso acontece devido a movimentos inicialmente involuntários que com o desenvolvimento fetal pode se tornar intencionais", explica Graziela Canheo, ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana da La Vita Clinic, SP.
LEIA TAMBÉM
Segundo, Camila Bolonhezi, ginecologista e obstetra do Instituto Macabi, SP, a interação é mais comum se eles dividirem o mesmo saco gestacional. "Mas mesmo os gêmeos em sacos gestacionais diferentes mostram movimentos de interação a partir do segundo trimestre de gestação. Os pés e as mãos se movimentam e podem tocar o outro, de forma intencional, já que estão aprendendo a sentir o ambiente à sua volta", explica.
Isso é cientificamente comprovado. Em 2010, foi publicado um estudo realizado por pesquisadores italianos utilizando ultrassonografias 4D, que acompanhou cinco pares de gêmeos a partir de 14 semanas de gestação. "Foi observado que, já nesse período, os fetos interagiam de forma direta, realizando movimentos em direção ao outro. Por volta das 18 semanas de gestação, esses movimentos se tornaram ainda mais frequentes e intencionais", afirma Bolonhezi.
Entenda quais tipos de interação podem ocorrer entre os gêmeos dentro do útero:
1. Sentir o toque um do outro
É possível que os fetos sintam o toque um do outro. "Esta percepção vai além da capacidade de sentir, já é o início para psicologia da capacidade de se perceber e de perceber o outro. Em gêmeos que interagem com movimentos de aproximação existem estudos que comprovam maiores chances de vínculo duradouro e forte na vida adulta entre os irmãos. Além disso, atualmente existem estudos que correlacionam este comportamento a maiores habilidades motoras na vida adulta", explica Natalia Castro, ginecologista e obstetra pela Febrasgo.
Camila Bolonhezi adiciona que isso é mais comum principalmente a partir do segundo trimestre, quando o sistema neurológico e sensorial já está em desenvolvimento, e eles podem inclusive reagir a esse toque. "Os movimentos ficam cada vez mais perceptíveis com o passar da gestação devido a limitação do espaço e a proximidade entre eles", afirma Graziela Canheo.
2. Se abraçar
Há relatos e registros de gêmeos que se "abraçam" ou se tocam de maneira semelhante a um abraço enquanto ainda estão no útero, especialmente em gêmeos que compartilham o mesmo saco gestacional, como explica Camila Bolonhezi. "Esse contato próximo é possível por causa do espaço limitado, que leva os bebês a ficarem muito juntos e frequentemente se tocarem. Com ultrassonografias 4D, pesquisadores e médicos observaram gestos que lembram abraços. Embora não sejam intencionais, esses toques podem ser considerados formas de interação física e emocional primária, pois os gêmeos conseguem se perceber mutuamente e estabelecer contato físico, fortalecendo um laço que já se inicia no ambiente uterino", explica.
Natália Castro concorda que é possível que os fetos façam um movimento próximo ao abraço da vida extrauterina. "As interações consistem em movimentos de aproximação e também de se repelirem e estudos atuais da psicologia inferem que estas interações podem também determinar a relação entre gêmeos durante toda vida", destaca.
3. Acordar o outro
Como os bebês dormem dentro do útero, é possível que sejam acordados com o toque se fizerem um movimento abrupto em direção um ao outro, como explicam as especialistas. "Na vida intrauterina os fetos têm ciclos de sono e vigília, mas não seguem o ritmo circadiano, assim como os bebês recém-nascidos. A movimentação voluntária ou não de um dos fetos pode acordar o outro feto, assim como acontece com a gente quando dormimos com alguém do lado", afirma Graziela Canheo.
4. Imitar movimentos
Ainda segundo Canheo, é possível que gêmeos já em estágios mais avançados da gestação correspondam com movimentos semelhantes às ações do outro feto, por exemplo: um chuta e o outro chuta na sequência, o que pode ser caracterizado como imitação. Mas, Camila Bolonhezi, afirma que nem sempre é intencional. "Às vezes a imitação acontece apenas pois ambos foram submetidos ao mesmo estímulo, como sons e toques no útero", afirma.
5. Competir por espaço e conforto
As brigas não começam só depois do nascimento. Natália Castro afirma que os bebês também podem competir na vida intrauterina. "Esta competição pode acontecer por espaços, recursos maternos oferecidos pela placenta e posições com maior 'conforto' dentro do útero materno", afirma. Camila Bolonhezi acrescenta que eles podem se empurrar ou chutar.
6. Ouvir os batimentos cardíacos do outro
"Além disso, a audição pode ser um sentido estimulado na vida intrauterina. Após a 18ª semana de gestação, a audição começa a se desenvolver e sons como da batida do coração do irmão e da mãe poderão estimular a interação", destaca Graziela Canheo.
LEIA MAIS