Fator Genético aumenta risco de Alzheimer. Veja como prevenir a doença

Publicado em 30/01/2024, às 22h11
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Folhapress

Há tempos, os pesquisadores sabem que fatores genéticos podem aumentar o risco de Alzheimer, transtorno neurodegenerativo caracterizado por perda de memória e deterioração cognitiva. Mas a boa notícia é que hábitos simples, como prática de atividade física, alimentação saudável e sono adequado são capazes de prevenir o aparecimento da doença em até metade dos casos, segundo pesquisas

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Em abril de 2022, no maior estudo sobre riscos genéticos para o Alzheimer, pesquisadores identificaram 75 genes (porções de material genético com instruções dos seus pais para construir você) associados à doença. Desse total, 33 já eram conhecidos, sendo um dos mais bem estudados o ApoE, localizado no cromossomo (DNA compactado) número 19, tanto o enviado pelo pai como pela mãe – o ser humano tem 46, metade transferido por cada progenitor.

O gene ApoE codifica uma proteína que “trabalha” no transporte de colesterol, nas membranas dos neurônios e na bainha de mielina (substância que envolve alguns tipos de neurônios), além de ter outras funções no sistema nervoso e no restante do organismo. Há três variações (alelos, no jargão da genética) dele: o E2, o E3 e o E4.  

De acordo com estudos, indivíduos com uma cópia da variação E4 (ou seja, só no lado enviado por um progenitor) têm duas ou três vezes mais risco de desenvolver Alzheimer. Agora, se a pessoa tem duas cópias – tanto herdada da mãe quanto do pai –, a probabilidade aumenta em até 12 vezes, conforme um estudo clínico randomizado controlado

“A presença do raro alelo ApoE4 produz uma isoforma (forma distinta) da proteína ApoE disfuncional que gera mudanças metabólicas associadas à essa forma da doença de Alzheimer, como o aumento da expressão da proteína precursora de amiloide, o aumento da formação de emaranhados fibrilares e o agravo na degradação de beta-amilóide”, explica Leonardo Valente, médico neurologista e professor do curso de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A doença de Alzheimer é caracterizada por esses depósitos de beta-amiloides, que causam a morte de neurônios, impedindo a comunicação entre eles.

O caso do “Thor” - De acordo com estudos, cerca de 25% da população tem uma cópia da variação E4 e entre 2% a 5% carregam duas. O ator australiano Chris Hemsworth, conhecido por interpretar o super-herói Thor, é um deles. Enquanto participava da série sobre longevidade “Sem Limites com Chris Hemsworth”, do canal NatGeo, ele fez uma bateria de testes genéticos e descobriu que tem duas cópias.

Após o diagnóstico, Hemsworth contou às revistas “Vanity Fair” e “Men’s Health” que mudou alguns hábitos. Ele começou a fazer meditação, deixou de ficar tanto tempo em frente a telas, passou a dormir melhor, reduziu a carga horária no trabalho para ficar mais próximo da família e manteve a prática de atividades físicas, especialmente exercícios cardiovasculares e de resistência. 

“É tudo sobre controle do sono, do estresse, nutrição, movimento e condicionamento físico”, falou o ator. 

E “Thor” está certo. “A predisposição genética aumenta o risco de desenvolver a doença, mas não é uma sentença definitiva, e nós podemos tentar driblar o Alzheimer de algumas formas, e uma delas é adotar um estilo de vida mais saudável”, diz  Renata Ramina Pessoa, neurologista e professora de medicina da Universidade Positivo, em Curitiba (PR).

10 hábitos para evitar o Alzheimer - Ao longo dos últimos anos, diversos estudos mostraram que a adoção de alguns hábitos poderiam reduzir os riscos da doença, inclusive para quem é predisposto. “Cinquenta por cento dos casos de demência são atribuíveis a fatores modificáveis, então temos 50% dos casos que a gente conseguiria evitar só mudando o estilo de vida”, fala Natan Feter, pós-doutorando em epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que estuda exercício físico e demência.

Confira 10 práticas que podem ser adotadas para prevenir o Alzheimer.

1 – Praticar exercícios- A atividade física é benéfica para a saúde cardiovascular e melhora a entrega nutrientes e oxigênio para todas as células do corpo, inclusive para o sistema nervoso central, o que pode estar associada a um sistema de neuroproteção, diz Feter, que também é doutor em Educação Física. Além disso, ele explica que os exercícios liberam proteínas associadas à neurogênese (formação de novos neurônios), plasticidade simpática (resposta do sistema nervoso aos estímulos) e angiogênese (formação de vasos sanguíneos).  

2 – Ter vida social ativa - Manter uma vida social também é uma forma de prevenir o surgimento da doença. Isso significa sair, conversar com amigos, participar de atividades sociais e ir para a academia. Indivíduos socialmente isolados, segundo pesquisa com 462 mil participantes publicada na “Neurology” em 2022, têm probabilidade 26% maior de desenvolver demência.

3 – Evitar o excesso de peso - O excesso de peso e a obesidade, segundo Feter, aumentam o grau de inflação crônica, que está associada a maior risco para o Alzheimer e outras demências. Além disso, conforme pesquisas, a condição leva a déficit cognitivo e prejudica a plasticidade sináptica e o volume cerebral, que também estão relacionados à condição.

4 – Comer de forma adequada - Alguns estudos apontam que a adoção de uma alimentação baseada em frutas, vegetais e fibras, como a dieta mediterrânea, pode ajudar a evitar o Alzheimer, inclusive em pessoas com a variação ApoE4. Para Feter, o que se sabe com certeza até agora é quais alimentos é bom evitar. “Na lista estão alimentos ultraprocessados, açucarados e frituras, por exemplo. Tudo isso a gente sabe que está associado a maior risco para demência.”

5 – Manter uma boa noite de sono - Pessoas com idade entre 50 e 60 anos que dormem seis horas ou menos por noite apresentam risco de 24% a 37% maior de demência na comparação com aquelas que têm pelo menos sete horas de sono. O dado é de um estudo publicado na “Nature Communications” em 2021. No total, foram utilizados dados de quase 8 mil pessoas . 


6 – Manter a mente ativa - Atividades cognitivas, como estudar, ler e escrever, também podem ajudar a prevenir o risco da enfermidade, segundo uma série de pesquisas publicadas nos últimos anos. Em um estudo, os cientistas acompanharam 1.903 indivíduos por quase sete anos. No total, 457 desenvolveram Alzheimer. Eles constataram que pessoas com baixa atividade cognitiva desenvolveram a doença com 88,6 anos, em média, e aqueles que mantinham hábitos educativos passaram a apresentar sintomas de Alzheimer somente aos 93,6. 


7 – Controlar a pressão - Pessoas com a variação ApoE4 e pressão alta têm 13 vezes mais risco de ter alguma deficiência cognitiva em comparação com aquelas sem a variação genética e com pressão arterial normal, segundo um artigo. No entanto, o tratamento para ajustar a pressão reduz o risco de declínio cognitivo para apenas duas vezes, em vez de 13.


8 – Não fumar - Parar de fumar cigarro reduz o risco de demência mesmo mais tarde na vida. Uma meta-análise de 2015, publicada na revista “PLOS ONE” e baseada em 37 estudos diferentes, estimou que os fumantes têm 30% mais probabilidade de desenvolver demência e 40% mais risco de desenvolver Alzheimer. “O cigarro pode piorar a função cardiovascular, comprometer o fluxo sanguíneo cerebral, aumentar a inflamação cerebral, interferir no sono e causar estresse oxidativo. Por isso, cessar esse vício é tão importante para prevenir a doença de Alzheimer”, diz a dra. Renata.9 – Parar de beber - A ingestão excessiva de álcool, segundo estudo publicado na “Lancet” em 2018, é um fator de risco para o aparecimento de todos os tipos de demência, especialmente aquelas de início precoce. Para chegar ao resultado, eles avaliaram 30 milhões de pessoas entre 2008 e 2013. No caso de pessoas com variação no gene ApoE4, o álcool é ainda mais perigoso. 


10 – Evitar a poluição - Exposição alta a dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e partículas finas (chamadas PM2.5) está associada ao aumento do risco da doença, segundo diversos trabalhos, como uma meta-análise divulgada em 2023 por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Algumas dicas para reduzir a exposição é não se exercitar em ruas com muitos veículos, reciclar produtos para que as fábricas não precisem produzir mais, gerando poluição, e optar por bicicletas em vez de carros. 

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