Redação
A perda de uma ou das duas pernas depois de um acidente ou alguma complicação relacionada a uma doença não significa necessariamente o fim de uma carreira esportiva. As próteses especiais para corredores, também conhecidas como lâminas, revolucionaram as competições de paratletas, utilizando a ciência para devolver a esses velocistas uma performance comparável a atletas que ainda possuem as duas pernas.
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Como funcionam as lâminas?
As primeiras lâminas foram criadas nos anos 70 pelo inventor americano Van Phillips, que perdeu uma das pernas aos 21 anos. A tecnologia evoluiu bastante e as versões mais modernas são construídas com cerca de 80 camadas de fibra de carbono, cada uma mais fina que um fio de cabelo, e não contam com nenhum tipo de circuito eletrônico ou robótico. O processo é puramente mecânico: A cada passo dado pelo corredor, a prótese se contrai, como uma mola, e armazena energia cinética, relacionada ao movimento dos corpos e diretamente ligada à massa e à velocidade. Quando a lâmina retorna ao formato original, a energia é liberada, impulsionando o atleta.
O design das lâminas, em formato de J, é revolucionário. Áreas de alto estresse, como o ápice da curva do J, são reforçadas com mais camadas de fibra de carbono, enquanto outras áreas, que demandam maior flexibilidade, são mais finas, conferindo à prótese um grande dinamismo que não seria possível caso fosse uma peça construída de forma uniforme.
Para cada atleta, uma prótese
As próteses também são customizadas para se adequarem às particularidades de cada atleta, especialmente a altura, calculada a partir de uma projeção do comprimento que teriam suas pernas no caso de dupla amputação. “As lâminas são de tamanhos diferentes porque as pessoas tem alturas diferentes”, explicou Donna Fisher, da Ottobock, empresa alemã fundada em 1919 e uma das pioneiras no ramo das próteses ao portal Evening Standard. Donna, no entanto, afirma que é difícil dizer se a variação no tamanho das lâminas pode configurar uma desvantagem injusta em competições. “Perguntar se o tamanho gera uma diferença no desempenho dos atletas é como perguntar se um atleta mais alto é um corredor melhor que um mais baixo. Não sabemos”, disse.
Lâminas x Pernas
A discussão sobre as supostas vantagens e desvantagens do uso de lâminas por corredores ainda divide os cientistas, com diversos estudos publicados oferecendo visões conflitantes. Um dos pontos mais críticos envolve o tempo de reposicionamento dos membros, ou seja, o tempo que o atleta leva para mover a perna de trás para frente. Atletas de elite, em média, levam 0,37s no movimento, com uma redução para 0,34s se forem considerados apenas os cinco recordistas mais recentes. Oscar Pistorius, atleta sul-africano que foi o primeiro corredor com lâminas a disputar em competições tradicionais, atualmente em prisão domiciliar após matar sua namorada em 2013, por outro lado, leva apenas 0,28s para fazer o mesmo movimento. Isso acontece principalmente pelo peso: enquanto a parte inferior de uma perna pesa em torno de 5,7kg, as lâminas Flex-Foot Cheetah usadas pelo corredor pesam apenas 2,4kg.
Isso é importante porque, Pistorius poderia, em tese, manter os “pés” no chão por mais tempo, um dos fatores cruciais para determinar a velocidade de um corredor. Quanto mais tempo o atleta mantém o pé no chão, mais força para impulsioná-lo para frente ele gera. Quanto mais força, mais velocidade. Por outro lado, alguns pesquisadores afirmam que isso é compensado pelo fato de que, por serem mais leves, as lâminas não transmitem tanta força para o chão quanto uma perna humana, ou seja, o atleta amputado teria que compensar essa desvantagem para correr tão rápido quanto um atleta com as duas pernas. Além disso, as próteses não sofrem cansaço muscular, um fator diferencial em provas mais longas, como as disputas de 400m rasos.
F1: próteses de primeira linha
Ainda que sejam obras de engenharia fascinantes, as lâminas usadas por Pistorius e outros atletas ainda não são perfeitas. O corredor americano Blake Leeper, que nasceu sem as duas pernas, em parceria com as empresas Altair, do ramo de design e desenvolvimento de produtos, e Eastman, fornecedora de materiais químicos e plástico, está trabalhando em uma nova versão das lâminas, focando em resolver principalmente quatro problemas chave: Velocidade, conforto, tração e agilidade.
O resultado do trabalho é a prótese F1, com algumas mudanças bem grandes em relação a outras lâminas, como a Flex-Foot Cheetah, de Pistorius. Para conferir maior conforto, reduzindo o risco das pernas saírem durante a corrida, a F1 conta com uma manga no topo, que cobre sua perna e o encaixe, com uma válvula de sucção que garante firmeza. No entanto, a maior diferença está na curvatura da lâmina: em vez de um design mais reto, que gera perda de energia nas curvas, as lâminas F1 têm uma curvatura, simulando um calcanhar.
Outra inovação é no formato da prótese, garantindo que a energia cinética armazenada a cada passada impulsione o atleta para frente, não para cima, como é comum em lâminas tradicionais.
Afinal, atletas amputados podem competir em provas comuns?
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De acordo com a regulamentação vigente, sim, mas a discussão está longe de ter uma resposta definitiva. Ainda que Pistorius tenha conseguido derrubar a proibição de seus modelos de lâminas, o atleta está afastado das pistas devido a seus problemas com a Justiça.
Outros competidores esbarram em um problema muito mais prático: Eles simplesmente ainda não são rápidos o bastante, especialmente em corridas mais curtas. Ainda que atinjam velocidades competitivas, o arranque de atletas com lâminas ainda é muito lento e eles ainda atingem marcas abaixo do mínimo necessário para a classificação.
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