Redação
Dawn Jewell tratou recentemente um paciente assombrado por um acidente de carro. Ele tinha desenvolvido um quadro agudo de ansiedade envolvendo o cruzamento onde o acidente tinha ocorrido, e agora era incapaz de fazer aquele caminho.
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Assim, Dawn Jewell, psicóloga do Colorado, tratou o paciente com uma técnica chamada terapia de exposição, oferecendo orientação emocional enquanto eles voltavam juntos ao fatídico cruzamento.
Mas eles não voltaram ao local fisicamente: usaram a realidade virtual.
Dawn faz parte de um grupo de psicólogos que está testando um novo serviço de uma startup do Vale do Silício chamada Limbix, que proporciona a terapia de exposição por meio do Daydream View, o visor do Google que funciona em conjunto com um smartphone.
“O recurso traz a exposição num formato que os pacientes consideram seguro”, disse Dawn.
O serviço recria locais externos recorrendo a outro produto Google, o Street View, um banco de dados de fotos que mostram cenas de ruas e outros locais de todo o mundo.
O serviço também pode proporcionar tratamentos de outras maneiras, por exemplo, levando pacientes ao topo de arranha-céus virtuais para que enfrentem o medo de altura, ou a um bar virtual, para lidar com o vício em álcool.
Com aporte da empresa de investimentos Sequoia Capital, a Limbix ainda não completou um ano. Os criadores do novo serviço, incluindo o diretor-executivo, Benjamin Lewis, trabalharam nas pioneiras iniciativas em realidade virtual do Google e do Facebook.
A Limbix se vale de mais de duas décadas de pesquisas e testes clínicos envolvendo a realidade virtual e a terapia de exposição. Num momento em que visores como Daydream e Oculus, do Facebook, encontram dificuldade para alcançar um público mais amplo no mundo dos jogos, a psicologia é uma área para a qual a realidade virtual pode trazer benefícios, de acordo com especialistas em medicina e tecnologia.
Já nos anos 1990, testes clínicos mostravam que esse tipo de tecnologia poderia ajudar no tratamento de fobias e outros traumas, como o distúrbio de estresse pós-traumático.
Tradicionalmente, os psicólogos tratam esses traumas ajudando os pacientes a imaginar que estão diante do medo, recriando mentalmente uma situação em que possam lidar com suas ansiedades. A realidade virtual leva as coisas um passo além.
“Temos bastante confiança no efeito positivo da RV no tratamento com a terapia de exposição, suplementando os recursos da própria imaginação do paciente”, disse Skip Rizzo, psicólogo clínico da Universidade do Sul da Califórnia.
Barbara Rothbaum ajudou como uma das pioneiras da prática na Faculdade de Medicina da Universidade Emory, em Atlanta, e o trabalho dela deu origem a uma empresa chamada Virtually Better, que há muito oferece ferramentas de realidade virtual para terapia de exposição destinadas a médicos e hospitais por meio de uma geração mais antiga de visores. De acordo com um teste clínico que ela ajudou a desenvolver, a realidade virtual se mostrou tão eficaz quanto viagens ao aeroporto no tratamento do medo de voar, com 90% dos pacientes superando a ansiedade.
Tecnologias como essa também se mostraram eficazes no tratamento do distúrbio de estresse pós-traumático (PTSD) entre veteranos de guerra. Diferentemente dos tratamentos construídos em torno da imaginação, a realidade virtual pode obrigar os pacientes a enfrentar seus traumas passados.
“O PTSD é um distúrbio que a pessoa evita enfrentar. Ninguém quer pensar nisso”, disse ela. “Precisamos do envolvimento emocional do paciente e, com a realidade virtual, isso é mais difícil de evitar”.
Agora, visores como o Daydream, do Google, que funciona em sincronia com smartphones comuns, e o Oculus, do Facebook, visor completo de US$ 400 que deu início ao novo ressurgimento das tecnologias de realidade virtual, podem trazer esse tipo de terapia a um público muito mais amplo.
A Virtually Better construiu sua tecnologia a partir de hardware de realidade virtual cujo valor unitário era na casa de milhares de dólares. Hoje, a Limbix e outras empresas, como a startup espanhola Psious, podem oferecer serviços muito mais acessíveis. A Limbix começa a disponibilizar suas ferramentas a psicólogos e outros terapeutas fora do grupo de testes iniciais. Por enquanto o serviço é gratuito, e a empresa planeja oferecer ferramentas mais sofisticadas no futuro.
Especialistas alertam que um serviço como o apresentado pela Limbix exige a orientação de psicólogos treinados e ainda está em desenvolvimento.
A Limbix trabalha com seu próprio psicólogo, Sean Sullivan, que ainda atende em seu consultório em San Francisco.
Sullivan está usando o novo serviço para tratar pacientes, incluindo um jovem que tinha medo de voar. Usando o serviço com a orientação de Sullivan, o rapaz, que pediu para não ter o nome revelado, passou várias sessões visitando um aeroporto virtual e, finalmente, pilotando um avião virtual.
Sob certos aspectos, disse o homem, o serviço ainda pode ser aperfeiçoado. Parte do mundo virtual é estática, construída a partir de imagens. Mas essas ferramentas ainda estão evoluindo na criação de cenas mais realistas.
E, mesmo no formato atual, o serviço é convincente. Recentemente o paciente embarcou num voo longo — e real.
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