Enfrentamento da esporotricose demanda políticas públicas específicas

Publicado em 26/04/2023, às 20h59

Deisy Nascimento

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Doença tem chamado atenção de médicos-veterinários em Alagoas

Esporotricose é uma doença ocupacional, muito comum em pessoas que exercem atividade profissionais ligadas ao solo como jardinagem, por exemplo; além de médicos-veterinários, estagiários e tratadores de animais infectados por esporotricose em seu ofício.

Acidentalmente, as infecções ocorrem tanto para pessoas quanto para animais. A doença é causada por um tipo de fungo que habita naturalmente alguns solos, troncos de árvores e vegetações envelhecidas em climas tropicais. A contaminação ocorre por meio de perfurações na pele por objetos traumáticos como lascas de madeira e arame farpado, que estejam em contato com o solo onde o fungo habita.

A enfermidade tem chamado atenção de médicos-veterinários em Alagoas, tanto nos serviços públicos quanto privados, e merece atenção governamental para o enfrentamento preventivo desta doença – que também é uma zoonose (doença capaz de ser transmitida do animal ao homem).

Na epidemiologia da transmissão da doença, o felino doméstico ocupa uma posição preocupante, devido às suas particularidades comportamentais de afiar unhas em troncos de árvores e de escavar o solo para enterrar suas fezes e urina, o que acaba por abrigar o fungo em suas unhas e acidentalmente, em situações de arranhões, transmitir o fungo a si próprio (autoinfecção), a outros animais e a pessoas em momentos de manejo.

Em humanos, a doença pode causar feridas ulceradas na pele e grande absenteísmo devido ao prolongado tempo de infecção o que a torna doença crônica e de difícil tratamento. Em animais o aspecto também é crítico e, normalmente, a cabeça e braços é a parte mais afetada, onde é possível verificar feridas ulceradas e sanguinolentas.

Pelo impacto zoosanitário, a médica-veterinária e pesquisadora Evelynne Marques de Melo acredita que a prioridade é a prevenção. Uma publicação científica da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 2014, já sinalizava que o fungo é presente no Estado e possui caráter acidental zoonótico.

Atualmente, médicos-veterinários têm observado aumento nos diagnósticos e, dada a realidade de elevada presença de colônias de felinos domésticos em vida livre a intensa atividade de proteção animal civil, com pouca atenção governamental, Evelynne, que também é doutoranda em Políticas Públicas, lembra que o assunto pede por instituição das principais políticas públicas para o enfrentamento à doença.

Dentre elas, ela cita a prioridade na política de investimento financeiro para programas de castração em massa e permanentes. Quanto menos felinos nascem, menos indivíduos infectados. “Essa política deve vir alinhada à política pública do método CED-Captura, esteriliza e devolve, que é um método importante para impedir procriação de felinos que estão em vida livre, gerando menos descendentes enquanto eles atingem suas expectativas de vida sem se reproduzir”, pontua.

A médica-veterinária também acrescenta a necessidade de ações voltadas ao reconhecimento do cão e do gato comunitário, onde o cidadão torna-se parceiro na vigilância e cuidados para com os animais que habitam ambientes coletivos, como praças, ruas, parques, estacionamentos de lojas e campus universitários, por exemplo.

“A política de educação ambiental também é o meio mais eficaz de ensinar as pessoas os cuidados básicos com a criação de cães e gatos, incluindo principalmente as noções de manejo que previnem doenças, tal como a esporotricose”, afirma.

Outro ponto importante de acordo com ela é a política de incineração de cadáveres de animais infectados. “Uma vez o agente causal da doença ser um fungo que é natural do solo, os felinos mortos não devem ser enterrados, porque isso potencializa o fungo no local, no bairro onde for enterrado”, diz e acrescenta: “ O recomendado, por segurança sanitária, é a incineração – e o poder público deve se organizar para dar suporte à população neste sentido, tanto orientando quanto recepcionando o cadáver uma vez que se trata de zoonose”.

Esta última é relevante, conta Evelynne, pois é muito comum populares no Brasil descartarem cadáveres de animais em lixões e, pelo valor sentimental, também enterrarem no jardim das residências: “Isso merece atenção por meio de orientações e educação ambiental”.

A doença exige estratégia terapêutica com antifúngico e tem duração de meses até a cura. O tratamento com felinos é delicado e necessita de manejo técnico adaptado para isolamento e prevenção contra mordidas e arranhões dos que serão os cuidadores.

A prevenção básica é importante: pessoas que trabalham com jardinagem devem usar luvas ao manter contato com o solo. Tratadores e cuidadores de animais devem manejar felinos com cuidado, evitando serem arranhados ou mordidos.

A orientação também envolve não dar banho em gatos recém resgatados da via pública, como forma de evitar se arranhado ou mordido e sempre levar o animal antes a um médico-veterinário; além disso, todos devem proteger suas mãos em caso de ferimentos já presentes, evitando contato com o solo ou animais com feridas na pele.

Tutores de gatos também não devem usar areia ou terra de jardim para as caixas de areia dos felinos em residência, o indicado é o uso de areia higiênica específica para essa finalidade.

Atualmente, a UFAL desenvolve uma pesquisa no Mestrado Ciência Animal voltada à esporotricose felina. Gestores públicos e políticos devem se manter em contato com ambiente técnico a fim de alinhar as necessidades de atuação.

A médica-veterinária Maria Clara Carlos, que atua em serviço público, destaca que a unidade de vigilância em zoonoses dispõe de atendimento ambulatorial de triagem para recepção dos animais com suspeita de zoonoses, onde é realizado o exame para confirmação da doença.

Fonte: UFAL, adaptado pela equipe Cães&Gatos.

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