TNH1 com informações do TJAL
A defesa de Cléa Fernanda Máximo da Silva, ré confessa da morte do namorado, o advogado italiano Carlo Cicchelli, de 48 anos, que teve o corpo encontrado dentro de casa em novembro de 2018, afirmou que a violência sofrida pela acusada durante o relacionamento com o italiano resultou no cometimento do assassinato como a "única saída" para a mulher. A declaração foi dada na manhã desta quarta, 15, antes do julgamento ser iniciado no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, no Barro Duro.
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Para a advogada Júlia Nunes, a ré foi vítima de diversas situações, como uso de drogas, tortura psicológica, e abusos sexuais, praticados por Cicchelli, motivos que teriam levado a cliente a tirar a vida do advogado. "Na verdade, não foram várias versões. É uma versão só que engloba diversos fatores para chegar no crime. Existia o envolvimento com droga, por isso a utilização de tanto dinheiro de fora, pois o falecido era usuário de drogas. E existia a questão de que ele se dizia bruxo, o que violentava bastante o psicológico dessa mulher, que se sentia amedrontada por ele poder saber o que ela pensava", afirmou a advogada.
"É claro que vamos trazer para a realidade, através de provas e testemunhas, que ela foi brutalmente vítima de violência durante muitos anos. Ela foi obrigada a fazer aborto, foi vítima de violência sexual, foi estuprada inúmeras vezes. Nós temos provas da condição física dela antes do relacionamento e posterior, que vai ser esclarecido hoje", adiantou Nunes.
Ainda segundo a defesa de Cléa Fernanda, a expectativa é de que se consiga uma condenação justa, pois a ré não teria tido outra opção para se libertar do italiano. "Hoje a gente vai trabalhar com diversas teses. A gente trabalha para que no mínimo a pena seja justa. Não é colocando ela como uma mulher fria, calculista, que fez tudo pensado e com crueldade. Isso não existiu. Tratava-se de uma mulher que não teve outra saída, se não fosse tirar a vida do seu agressor", concluiu.
Promotoria sustenta crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver - O promotor de Justiça Dênis Guimarães pontuou que o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) sustenta, desde o começo do processo, a prática de homicídio duplamente qualificado e o crime de ocultação de cadáver. "Essa versão foi reconhecida pela própria ré, que confessou no primeiro momento. Então as teses que surgiram ao longo do processo foram defensivas", destacou Guimarães.
"Em um primeiro momento, se colocou que o crime teria ocorrido por conta de um ritual de magia, em que a vítima teria pedido para que o crime ocorresse. Em um segundo momento, colocou ele vinculado a um crime de tráfico de drogas, quando ia casar com a filha de um traficante. Então essas versões são da defesa", continuou o promotor.
Dênis Guimarães acredita que Cléa Fernanda cometeu o assassinato por interesse em ficar com o dinheiro de Cicchelli. "Para o Ministério Público, a versão foi sempre a mesma, não existe dúvida nenhuma que ela cometeu o crime motivada pela ganância, pelo conflito financeiro que existia entre o casal. E após o cometimento do crime com brutalidade, ainda ocultou o cadáver durante 40 dias dentro da própria casa".
Após três anos e um mês de o crime vir à tona, o Tribunal do Júri da 7ª vara Criminal dá início nesta quarta-feira, 15, ao julgamento. Foram reservados três dias para o júri, de quarta à sexta-feira, porém a expectativa do Judiciário é finalizá-lo até o fim do dia. Doze testemunhas foram arroladas para depoimento.
"A pena é aplicada pelo magistrado, em caso de condenação, e a máxima pode chegar até 33 anos. No caso da ré, que é primária e sem antecedentes, é pouco provável que a pena fique na margem dessa máxima. Então não temos como precisar a quantidade da pena, porque a condenação depende dos jurados. Mas vamos brigar para que ela seja justa", finalizou o promotor.
Entenda o caso - O corpo do italiano Carlo Cicchelli foi encontrado pela Polícia Civil de Alagoas no dia 5 de novembro de 2018 e teria ficado escondido por um mês em um dos cômodos da casa, envolvido em sacos plásticos. Para amenizar o mau cheiro, pelo estado avançado de decomposição, e também para não despertar a desconfiança dos vizinhos, a acusada teria colocado carvão, perfume e outros produtos. O crime teria ocorrido em um ritual de magia.
Carlo Cicchelli e Cléa Máximo começaram a namorar em Turin, na Itália, onde eram vizinhos. Até que ele decidiu morar com ela em Maceió, no bairro da Ponta Grossa. Por dois meses a família do estrangeiro ficou sem notícias dele e começou a estranhar. Cléa, por sua vez, passando-se pelo namorado, começou a manter contato pedindo dinheiro.
Horas após familiares e amigos denunciarem o desaparecimento do advogado italiano, Carlo Cicchelli, cujo último contato com a família havia sido feito no último dia 27 de setembro, a polícia prendeu Clea Fernanda Máximo da Silva, com quem Cicchelli tinha um relacionamento desde 2014. Somente após algum tempo, ela confessou ser a responsável pelos contatos e criou versões para convencer a família a enviar os valores pedidos, entre elas que havia se envolvido com a filha de um traficante, estava escondido, ameaçado de morte e precisava do dinheiro para fugir, o que estranharam.
À época, o crime teve repercussão internacional, com diversos portais italianos relatando o assassinato.
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