DNA de placa nos dentes revela que Neanderthal usava "aspirina"

Publicado em 08/03/2017, às 23h41

Redação

Depois de estudar geneticamente a placa bacteriana encontrada nos dentes de homens de Neanderthal, um grupo de cientistas conseguiu desvendar novos aspectos sobre a dieta e o comportamento dos mais próximos parentes extintos dos humanos - incluindo um surpreendente conhecimento sobre plantas medicinais.

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Mandíbula superior de um homem de Neanderthal encontrada em caverna de El Sidrón, na Espanha; este indivíduo apresentava um abcesso dentário em um dos molares e a análise das bactérias ali depositadas revelou que ele também tinha uma doença gastrointestinal, cujos sintomas eram tratados com álamo - uma fonte natural do princípio ativo da aspirina - e vegetação com mofos que incluíam o fungo Penicillium, um antibiótico natural.

Além de diferenças regionais na dieta dos Neanderthais, com níveis distintos de consumo de carne, a pesquisa revelou que alguns deles se medicavam com álamo, uma planta que contém ácido salicílico - o princípio ativo da aspirina - e com Penicillium, um gênero de fungo antibiótico.

O novo estudo, publicado nesta quarta-feira, 8, na revista Nature, foi realizado por uma equipe internacional liderada por cientistas da Universidade de Adelaide (Austrália) e da Universidade de Liverpool (Reino Unido).

De acordo com a autora principal do artigo, Laura Weyrich, estudos anteriores sobre a dieta dos Neanderthais já indicavam que sua variedade dependia da disponibilidade local de alimentos. Mas essas pesquisas forneciam poucos dados sobre animais e plantas que eles consumiam.

"As placas bacterianas dos dentes confinam os micro-organismos que viviam na boca e nos tratos respiratórios e gastrointestinais - além de restos de comida presos nos dentes -, preservando seu DNA por milhares de anos", disse Laura, que é pesquisadora do Centro Australiano de DNA Antigo  (ACAD, na sigla em inglês) da Universidade de Adelaide.

"A análise genética do DNA pregado na placa dentária é uma janela única para observarmos o estilo de vida Neanderthal e nos revela novos detalhes sobre o que eles comiam, qual o estado de saúde deles e qual o impacto do ambiente em seus comportamentos", afirmou a pesquisadora.

Vegetarianos e carnívoros. Os cientistas analisaram e compararam amostras de placas bacterianas dentárias de quatro homens de Neanderthal encontrados nas cavernas de Spy, na Bélgica e nas cavernas de El Sidrón, na Espanha. As idades das quatro amostras variam entre 42 mil anos e 50 mil anos. Segundo os autores, são as mais antigas placas dentárias já analisadas geneticamente.

"Descobrimos que os Neanderthais da Bélgica comiam carne de rinoceronte e de ovelhas selvagens, além de cogumelos. Na Espanha, porém, não há nenhum vestígio de consumo de carne, apenas de uma dieta totalmente vegetariana, incluindo pinhões, musgo, cogumelos e cascas de árvore", disse Alan Cooper, também autor do artigo e pesquisador do ACAD.

Paleontólogas trabalham na caverna Túnel de Ossos, em El Sidrón, na Espanha, onde foram encontrados 12 espécimes de homens de Neanderthal que viveram há cerca de 49 mil anos.

Uma das descobertas mais surpreendentes, segundo os cientistas, ocorreu quando eles identificaram um homem de Neanderthal de El Sidrón, que sofria de um abcesso dental visível na mandíbula.

Antibiótico e analgésico

"A análise da placa mostrou que ele também sofria com um parasita intestinal que causava diarreia aguda. Claramente ele estava bem doente. Descobrimos que ele comia álamo, que contém o analgésico ácido salicílico - o ingrediente ativo da aspirina. Também detectamos o uso de Penicillium - um bolor antibiótico natural -, que não foi encontrado nos outros espécimes", contou Cooper.

Segundo Cooper, aparentemente os homens de Neanderthal se automedicavam e possuíam um bom conhecimento sobre plantas medicinais e sobre suas diversas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias.

"O uso de antibióticos seria muito surpreendente, levando em conta que eles viveram mais de 40 mil anos antes do desenvolvimento da penicilina. Com certeza nossas descobertas contrastam muito com a visão simplista que a imaginação popular tem dos nossos mais antigos parentes", disse Cooper.

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