João Victor Souza
Os depoimentos de Leandro dos Santos Araújo, 23, e da adolescente M. S. dos S. C., 13, que admitiram a autoria do crime contra a garçonete Flávia dos Santos Carneiro, encontrada morta dentro de uma geladeira em Maceió, chocaram os alagoanos nessa quarta-feira (06). O TNH1 deu com exclusividade trechos do interrogatório que os namorados foram submetidos após prisão e apreensão, respectivamente. Agora, você vai poder comparar a fala de cada um deles.
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Dia do crime
A filha da garçonete contou que encontrou o companheiro na casa da mãe após chegar da escola. Ela disse que sabia que Flávia ia chegar mais tarde do trabalho, porém foi surpreendida com o retorno da mãe mais cedo. M. S. dos S. C. então afirmou que Flávia "surtou" ao ver o genro e pegou uma faca para ir para cima dele, momento em que supostamente o namorado se feriu com um corte no dedo. Em seguida, o jovem teria dado um empurrão na mulher, o que teria feito ela cair desacordada, e depois usado a faca contra ela.
"Na noite da sexta-feira, eu estava em casa, cheguei da escola, meu namorado estava lá, arrumando as coisas lá em casa. Por volta das 20h, ela chegou em casa, só que nesse dia ela falou que ia chegar tarde, por volta das 22h. Quando ela chegou, ela surtou em casa, foi no armário, pegou uma faca e foi para cima dele. Nisso que ela foi para cima dele, a mão dele cortou, abriu aqui no dedo, ele empurrou ela e ela caiu desacordada. Ele pegou a faca e [inaudível".
Durante os 20 minutos de relato, Leandro deu a sua versão dele sobre o que aconteceu na noite do dia 1º de março. Ele também disse que Flávia pegou a faca para atacá-lo, mas não citou ter se ferido com o corte no dedo. O jovem também expôs a relação conturbada com a sogra.
"A minha sogra disse que não queria ver a minha cara, que eu só iria pra lá quando ela não estivesse na residência. Eu só ia pra casa da minha mulher quando ela não estava em casa. No dia em que aconteceu isso aí [o crime], eu estava no quarto com a minha mulher, e ela disse que a minha sogra iria largar do trabalho às 10 horas. Aí eu fui beber água na cozinha, quando a minha sogra entrou e eu me escondi pra ela não me ver, mas quando eu saí ela acabou me vendo. Normalmente, eu pulava a janela, para não passar na frente da casa e ela não me ver. Eu não queria olhar na cara dela, pois ela disse que queria me matar por conta da última briga. Nesse momento, ela me chamou pra conversar e disse que estava cheia de ódio da minha cara, pelo que eu havia feito. Ela continuou dizendo que eu havia quebrado a casa dela todinha, eu dizendo que não havia quebrado. Eu questionei ela, dizendo que ela havia agredido a própria filha, a minha mulher. Eu ainda disse pra minha sogra que ela tinha idade pra ser a minha mãe, mas que não poderia bater em mim. Ela ainda me acusou de bater na cara da minha mãe e ainda chamar a filha dela de puta. Eu não fiz isso e quem fazia isso era a Flávia. Durante essa discussão, eu disse pra minha sogra que foi ela que veio pra cima de mim e, quando a minha mulher também disse o mesmo, a minha sogra começou a xingar. Ela foi pro quarto e disse que tinha que encher a minha cara de bala. Foi aí que ela levantou e foi na cozinha, pegou uma faca e veio pra cima de mim. Eu me esquivei, peguei a faca, apertei o pescoço dela e dei um mata leão nela".
Leandro também destacou a participação da adolescente no crime, que teria entregado a arma branca a ele, dado uma pancada na cabeça da mãe, e também a segurado. A versão é diferente do relato da menina, que afirmou não ter presenciado o assassinato. "Eu saí de perto para não ver". (Delegado: Não participou?) "Não". (Delegado: Tem certeza?) "[Balança a cabeça positivamente]". (Delegado: Você chamou a polícia logo após?) "Não". (Delegado: Quem estava dentro da casa? Você, o Leandro e a sua mãe?) "[Adolescente balança a cabeça positivamente]", mostra trecho do depoimento da menor. Veja abaixo o que disse Leandro:
"Ela começou a se debater e gritar, eu tive que segurá-la. Se eu a soltasse, ela sairia dizendo que eu havia tentado matar ela. A minha mulher segurou ela e eu também. Nesse momento, a minha mulher pegou a faca que estava no chão, mas antes ela já havia dado uma pancada na cabeça da mãe. A minha mulher me deu a faca e eu, com a cabeça quente, acabei matando ela. Depois disso, quando eu vi a bagaceira, fiquei sem acreditar no que fiz".
Briga no Carnaval
A filha de Flávia confirmou que a mãe não gostava de Leandro e que os dois tiveram uma briga no Carnaval, período em que os desentendimentos foram intensificados.
Delegado: Porque ela surtou? "Porque ela já tinha falado que a gente podia namorar, só que ela não queria vê-lo em casa quando ela estivesse. (Delegado: Por quê?) Porque eles dois brigaram. [Inaudível] [...] ele saiu para um bloco de Carnaval, eu tinha ficado em casa, não queria ir. Quando ela chegou, a gente saiu para um barzinho, ele [namorado] chegou lá e os dois brigaram".
O jovem afirmou que a confusão no Carnaval aconteceu porque ele deixou a adolescente em casa e saiu para um bloco. Leandro destacou que conversou com a sogra, e ela o mandou ir só para a festa, pois a filha não queria ir.
"Isso tudo começou durante uma briga no Carnaval, porque eu havia deixado a minha mulher [a adolescente] em casa e ido para um bloco. Eu chamei ela pra ir e ela não quis ir, dizendo que estava com dor de cabeça. Eu até comentei com a minha sogra [Flávia] que ela [a adolescente] não queria ir comigo e a Flávia me disse pra ir só, já que a filha não queria ir. Eu fui para o bloco e, quando voltei, as duas não estavam em casa, estavam num churrasquinho. Eu fui atrás delas, sentei na mesa onde elas estavam comendo. Nesse momento, a Flávia começou a falar um monte de coisa pra mim, disse que eu havia deixado a minha mulher sozinha em casa e ido curtir. Ela ficou brigando comigo, colocando dedo na minha cara, me xingando e falando um monte de coisa. Foi aí então que ela me expulsou da casa dela, onde eu também pagava aluguel para morar. Nós morávamos todos juntos, e todos pagavam aluguel"
O genro de Flávia continuou dando a versão dele no depoimento e confessou que quebrou a porta de um quarto e a janela da casa da mulher no dia da briga.
"Após essa discussão de Carnaval, ela pegou a minha mulher e o parceiro dela, um colombiano, e foi pra essa casa. Quando eu cheguei lá, ela voltou a me acusar e disse que eu queria matar o filho dela, o meu cunhado, que também estava em casa. Aí começou o fuzuê, ela veio pra cima de mim, pra tentar me agredir, mas o colombiano não deixou. Não vou mentir, pois nesse momento eu quebrei uma janela lá. Ela continuou vindo pra cima de mim, e eu empurrei ela. Foi uma briga feia. O filho dela saiu do quarto e disse que não aguentava mais morar naquela casa. Ele foi e quebrou uma garrafa de vidro e a minha sogra disse que havia sido eu. Disse que eu vivia quebrando as coisas dentro da casa. Nessa confusão, o colombiano acabou pisando na garrafa e sujando o chão de sangue. Nesse dia eu também quebrei uma porta, pois a Flávia queria bater na minha mulher dentro do quarto. Nós queríamos pegar uma roupa para irmos embora de lá"
O que fizeram depois do assassinato?
Leandro e M. S. dos S. C. também contaram o que fizeram com o corpo da garçonete após a morte dela. Flávia foi encontrada com marcas de facadas e enrolada em um lençol dentro de uma geladeira numa área de mata, em Guaxuma, após o pai de Leandro acionar um serviço de frete.
Confira o que disse o genro da vítima:
"Depois disso tudo, nós limpamos a bagunça. Eu disse pra minha mulher que teríamos que limpar aquilo tudo. Eu disse para enrolar a minha sogra em um edredom. A minha mulher limpou a casa, a gente puxou o sangue para o banheiro e limpamos tudo. Eu disse pra minha mulher que não sabia o que fazer, e ela me respondeu que a gente teria que dar um fim nela. Foi nesse momento em que disse que a gente precisaria de ajuda, de alguém pra ajudar nós. Nós enrolamos ela e deixamos o corpo no quarto, para não ficar fedor. Enrolamos ela todinha e a amarramos. E pra não ficar fedor, decidimos colocar o corpo dela na geladeira. Isso tudo foi feito no mesmo dia, na sexta-feira. Não ficamos em casa, fomos dormir em outro lugar. Voltamos no outro dia e o corpo estava na geladeira. Aí pegamos os restos dos móveis e a mudança. E foi isso. Na terça, eu falei com o cara do frete, que eu já conhecia, e ele me disse que iria ajudar. Mas ele não sabia que tinha um corpo dentro da geladeira. Como o corpo era pesado, eu paguei 20 reais para um cara na rua nos ajudar. Ele nos ajudou e colocamos o corpo dentro de uma Pampa. Eu pedi ajuda para o meu pai, pois era muito pesado. Disse que levaríamos a geladeira para casa do meu irmão, mas, no meio do caminho, disse que jogaria ela fora. Foi aí que o cara do frete disse que ficaria com a geladeira, pois tinha valor e ele queria vendê-la no ferro velho. Por conta disso, eu tive que abrir o jogo com ele e contar que havia um corpo dentro da geladeira. Ele ficou nervoso e eu disse que ele teria que ajudar. O meu pai estava no carro e também ficou nervoso, ele não sabia. Aí o cara da pampa disse que iria fazer, mas que se a polícia fosse atrás dele, era para eu confessar o crime e dizer toda a verdade. Foi aí que entramos em uma rua do bairro de Guaxuma, e jogamos a geladeira fora".
A menina afirmou que o namorado e o sogro teriam colocado o corpo de Flávia na geladeira e que o casal nos dias seguintes se mudou para um endereço no Benedito Bentes. A adolescente também disse que limpou o sangue, enquanto o corpo foi enrolado pelo companheiro dela.
"A geladeira ficou na outra casa. A geladeira ficou lá até hoje (terça-feira, 5 de março). Eles dois e o cara do frete foram buscar [...] Eu limpei o sangue. O corpo, ele [namorado] pegou e enrolou em um lençol".
Arrependimento?
Mesmo depois de toda a repercussão do crime bárbaro, e da prisão e da apreensão dos envolvidos, o casal se limitou a dar uma declaração breve sobre um possível arrependimento. "Estou me sentindo mal, tinha um futuro pela frente e destruí tudo isso", disse a garota. Enquanto o jovem afirmou: "Eu me arrependo, né? Eu levava a vida normal, trabalhava".
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