Ascom Santa Casa
Pedagoga, Isabel tem 33 anos e ensina crianças surdas no atendimento educacional especializado. Aos 33, Gabriel trabalha no estoque de uma loja no Centro de Maceió. Em comum, além da idade, está o fato de serem deficientes auditivos e terem se tornados pais, na última segunda-feira (23), de uma menina.
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Para auxiliar na hora do parto, realizado na Santa Casa Nossa Senhora da Guia, no bairro do Poço, o casal contou com intérpretes de libras, que foram a ponte entre os futuros pais e a equipe médica e assistencial. A presença desse profissional é estabelecida pela Lei Brasileira de Inclusão.
“As profissionais foram enviadas pela Secretaria da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (SECDEF) após contato com o Serviço Social do hospital, que fez o acolhimento e mediação. Nos certificamos de que a paciente se sentisse acolhida em um momento tão importante de sua vida. Demos espaço e condições para o trabalho das intérpretes, sempre pensando na humanização na assistência ao parto e no puerpério”, disse Thaísa Costa, assistente social da Santa Casa Nossa Senhora da Guia.
Isabel relatou que as intérpretes chegaram em uma determinada fase do pré-natal. Até lá, sem ter alguém para traduzir seus questionamentos e lhe repassar o que era dito, as consultas eram só com a enfermeira, o que tornava a comunicação complicada. “O posto de saúde me atendia bem. Mas, no início, sem a intérprete, o atendimento era só com a enfermeira e nem tudo ficava claro para mim, pois a profissional não sabia a linguagem de libras. Quando eu consegui a intérprete foi muito melhor, não tive mais prejuízo. Me senti segura em cada detalhe. Tudo o que ela me explicava, me era passado exatamente igual. Foi uma relação de parceria e cooperação. Foi muito bom”, contou.
O momento do parto, para Isabel, foi um capítulo à parte: maravilhoso. “Tive duas intérpretes, a Patrícia e a Bárbara, que se revezaram e me acompanharam em tudo. Durante o parto, a Patrícia ia me descrevendo o que eu não poderia saber sem ela. Por exemplo: os médicos conversavam, ela escutava e me passava as orientações do obstetra, da anestesista. Eu não posso dizer que tive traumas no meu parto, ao contrário, foi muito tranquilo com a presença da intérprete. Da Santa Casa Nossa Senhora da Guia, a avaliação é ótima. A comunicação foi clara. Sempre que alguém da equipe passava e perguntava se eu estava bem ou ia fazer algum procedimento, Bárbara colocava sua voz e me deixava segura”, destacou a mãe de primeira viagem.
Patrícia Gonçalves, que trabalha há 9 anos como intérprete, viveu a experiência de atuar pela primeira vez em um parto. “A acompanhei no posto de saúde, onde a referência era a Santa Casa Nossa Senhora da Guia. A maior dificuldade é ter acesso livre do intérprete no espaço que ele precisa, mas, através da SECDEF, pudemos reativar esse serviço, assim proporcionando acesso em qualquer lugar que o surdo precise. As pessoas precisam entender quem é o profissional e a importância dele na vida do surdo”, conta Patrícia.
A profissional destaca que a necessidade do intérprete é crucial em diversas situações. “Acredito que as principais são na saúde, justiça, e em delegacias, que são as nossas maiores solicitações de atendimento. No caso da Isabel e do Gabriel, se eu não estivesse no momento no parto, eles não teriam acesso claro às informações que ela precisava, bem como entender a importância da decisão médica da cesariana, a importância da amamentação, dentre outros assuntos. O surdo tem sua cultura e língua, eles precisam e têm o direito de uma comunicação fluída, é um momento delicado e único da vida deles, quanto mais acessível, melhor”, concluiu.
Mas, como duas pessoas nascidas no mesmo ano e com a mesma deficiência poderiam se aproximar durante a pandemia? Isabel tem a resposta. “Conheci meu marido pelo Instagram. Já tinha visto algumas fotos dele, mas sem contato. Foi então que começamos a interagir durante a pandemia, até que marcamos de nos encontrar. Começamos a namorar, noivamos e casamos. Estamos juntos há 3 anos e 3 meses”, finalizou Isabel.
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