Covid-19 - o erro científico que causou mortes

Publicado em 22/12/2024, às 10h20

Flávio Gomes de Barros

Biólogo Fernando Reinach:

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"No dia 19 de março de 2020, quando o Brasil tinha 621 casos de covid e somente 6 mortes, foi publicado um trabalho científico que sugeria que a hydroxychloriquina combinada ao antibiótico azythromicina poderia curar a doença.

Apesar de o trabalho ter sido imediatamente criticado pela comunidade científica, muitos médicos se agarraram ao resultado preliminar e passaram a utilizar essa combinação de drogas. Meses depois, o estudo foi repetido com mais de 30.000 pacientes e foi demonstrado que essas drogas não curavam a covid.

A grande maioria da comunidade médica e científica abandonou o tratamento e tentou divulgar o erro. Mas, era tarde, políticos, como Bolsonaro e Trump, haviam comprado a ideia estimulados por médicos e cientistas incompetentes ou mal-intencionados. Nos meses seguintes, centenas de milhares de pessoas foram tratadas com essa combinação em vez dos tratamentos comprovados que já estavam aparecendo. E pior, essa crença atrasou os investimentos governamentais em vacinas e a adoção de medidas de prevenção. É difícil calcular o número de mortes relacionadas a esse erro, mas não é impossível que sejam dezenas de milhares.

Estou voltando ao assunto pois só agora, mais de quatro anos e meio depois, a revista científica que publicou o resultado resolveu cancelar a publicação original, retirando formalmente o trabalho da literatura científica. A demora se deveu à recusa do autor principal a admitir o erro.

Uma investigação revelou que pacientes que morreram sob o tratamento foram omitidos das estatísticas. Além disso, o acordo dos pacientes para participar do teste não foi obtido. Com essas constatações, três dos autores pediram para ter seus nomes removidos da publicação. Mas, o líder do laboratório, Didier Raoult, ainda se recusava a admitir os erros. Finalmente a revista, a revelia do autor, cancelou a publicação e Didier se aposentou.

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