Conselho de Ética do COB absolve Marcos Goto e critica Diego Hypolito

Publicado em 31/08/2018, às 18h24
Diego Hypolito | Daniel Ramalho/AGIF/COB -

Folhapress

O Conselho de Ética do COB (Comitê Olímpico do Brasil) anunciou na tarde desta sexta-feira (31) a absolvição do técnico de ginástica artística Marcos Goto e da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) no caso envolvendo as acusações de abuso sexual supostamente cometidas pelo técnico Fernando de Carvalho Lopes. Esse foi o primeiro julgamento da história do conselho, criado em março deste ano.

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Marcos Goto estava sendo investigado porque um dos atletas que, de forma anônima, deu depoimento à Rede Globo acusando Fernando de abuso sexual disse que, depois que se transferiu para o clube de Goto, o treinador passou a fazer chacota dos relatos. Mas, diante do Conselho de Ética, nenhuma das testemunhas confirmou essa versão. Por se tratar de fonte anônima, o conselho não sabe se o atleta em questão negou a versão ao depor ou está entre "aquelas tantas que se recusaram a depor".

Entre os que não aceitaram falar com Conselho de Ética está o medalhista olímpico Diego Hypolito, citado no relatório como o responsável pela "escolha individual e pessoal" de levar Fernando de Carvalho Lopes à seleção brasileira, apontando-o como seu técnico pessoal. Prata na Rio-2016, Diego foi  duramente atacado no relatório.

"Não obstante tenha dado entrevista em veículos de imprensa amplos e conhecidos, deliberadamente recusou-se a ser ouvido pelo Conselho de Ética, injustificadamente deixando de colaborar com procedimento ético. O que é, no todo, deplorável e condenável, até porque a inclusão de Fernando Carvalho na equipe olímpica deu-se por exclusiva escolha do atleta, conforme depoimentos gravados", atacou o conselho.

"Foram inúmeras as tentativas de contato, mensagens enviadas por esse Conselho a Diego, arrolado pelas partes sem que houvesse sequer resposta. Claro que o atleta não está obrigado a atender os convites deste Conselho, mas sendo o atleta pessoa de expressão internacional e, ainda, tendo se prestado-se a falar sobre o assunto em rede nacional, em horário nobre, esse Conselho entende que seu depoimento teria sido importante para ajudar a depurar fatos tão graves na modalidade que pratica", continua, dizendo que a decisão do medalhista olímpico pode ser "imensamente deletéria". Ou seja: ter efeito destrutivo.

O documento, de 22 páginas, também ataca a gestão anterior do COB, apontando que durante o ciclo olímpico passado o conselho viveu uma "cegueira deliberada", em que o objetivo era "tão somente mais medalhas, não tendo exercido nenhum filtro sobre colaboradores deste projeto final", em alusão ao fato de Fernando ter chegado à seleção brasileira como treinador de Diego Hypolito.

Em abril, o Fantástico publicou uma longa matéria na qual ginastas que foram treinados por Fernando de Carvalho Lopes na infância ou juventude relataram casos de abuso sexual. Fernando sempre trabalhou em São Bernardo do Campo, com formação de atletas. No ciclo olímpico passado, porém, a equipe dele passou a ter patrocínio da Caixa Econômica Federal e contratou dois ginastas de seleção, já consagrados: Diego Hypolito e Caio Souza.

Como Diego foi convocado para a Olimpíada, seu treinador da época também o foi. Já na reta final de preparação, dois garotos da equipe de base de São Bernardo do Campo relataram terem sido abusados e o caso chegou ao Ministério Público. A CBG e os demais técnicos da seleção também foram informados da denúncia, mas Fernando demorou um mês para ser afastado da equipe. O Olhar Olímpico contou detalhes dessa demora aqui. O processo no Conselho de Ética foi aberto para investigar se a CBG deveria ter feito alguma coisa para impedir que Fernando chegasse à seleção e para apurar se Marcos Goto de fato sabia das denúncias contra o treinador da cidade vizinha –Goto é de São Caetano do Sul.
Quanto a Goto, o Conselho entendeu que não há provas de qualquer conduta ética indevida. De acordo com o relatório "nada há a desabonar a conduta de Marcos Goto". Em depoimento, o treinador reconheceu que havia comentários sobre a sexualidade de Fernando, mas disse que nada lhe foi relatado, ainda que tivesse perguntado pessoal e sigilosamente a todos os seis atletas que passaram a treinar com ele depois de serem da equipe de Fernando.
Já com relação à CBG, a absolvição veio única e exclusivamente pelo fato de o Conselho só ter jurisdição sobre fatos ocorridos após a sua criação. Ou seja: 23 de março de 2018. "Havia omissão claríssima na data dos fatos (2016). Não há omissão em data posterior à instalação do Conselho de Ética", avaliou o Conselho, que diz, porém, que os movimentos da CBG são "tímidos e insuficientes".

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