Folha Press
Uma proposta de introdução alimentar que dá autonomia para o bebê. Assim é o Baby Led Weaning (desmame guiado pelo bebê, em português), abordagem criada pela britânica Gill Rapley e que tem ganho cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo.
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Nesse método, não há papinhas amassadas nem pais ou cuidadores dando a comida para os filhos em colheres. A ideia, segundo explica a fonoaudióloga Aline Padovani, especialista na técnica, é que a própria criança construa o seu aprendizado de alimentação por meio da exploração dos alimentos. Como conseguir isso? Deixando que ela coma com as mãos.
De forma geral, funciona da seguinte forma. O bebê vai comer na mesa, sentado em um cadeirão, junto com o restante da família. Ele também deve ter a opção de escolher o que e quanto comer dentre os alimentos oferecidos pelos pais. Para facilitar esse processo, os alimentos são cortados em pedaços, tiras ou bastões.
"Por volta dos seis meses, quando o bebê começa a adquirir os movimentos de prontidão para se autoalimentar, ele ainda não tem a habilidade para segurar os talheres e levá-los até a boca. Os alimentos em pedaço são a forma como a gente consegue dar autonomia para ele, são a forma pela qual a gente consegue interferir menos nos processos dele", afirma Padovani.
Para ela, o BLW quebra paradigmas da alimentação ao se basear no entendimento de que aprender a comer é só mais uma das etapas do desenvolvimento infantil, assim como a falar e a andar. "Hoje, a gente acaba entendendo que comer é engolir comida. Temos falsa impressão de que a introdução alimentar é sobre engolir comida, é sobre ter medo da criança ficar desnutrida, é sobre ter medo da criança engasgar."
Engasgar, aliás, é um dos principais medos dos pais ao adotar o método. Para Padovani, o ideal é que todos os cuidadores soubessem fazer a manobra de desengasgo. Além disso, a especialista explica que muito mais comum que o engasgo é o reflexo de gag, um reflexo de ânsia, que funciona como um mecanismo de defesa do corpo para que o alimento volte à boca.
"No momento em que a criança está aprendendo a comer, esse reflexo está lá para protegê-la, só que não estamos acostumado com isso", diz a fonoaudióloga. Ela explica que os reflexos são parte do aprendizado de comer. É como, compara ela, os tropeços que a criança vai dar quando começa a andar. Por isso, são normais, mas após algumas semanas vão diminuindo. "Os bebês que acompanho, com sete e oito meses, cospem o caroço da laranja", conta.
Outra preocupação comum dos pais é achar que o bebê está comendo pouco. A nutricionista Christiane Bergamasco, especialista em BLW, afirma que dos seis meses até por volta de um ano, os alimentos sólidos são um complemento. "Quem vai sustentar é o leite."
No começo, explica ela, é normal a criança comer pouco, afinal o estômago dela é pequeno mesmo. Com o tempo e o aprendizado, diz a nutricionista, o bebê vai se alimentando melhor. Mas é importante não pular etapas e respeitar que cada um tem o seu ritmo.
Padovani salienta também que cada família tem que entender a sua rotina e as suas limitações. Para ela, o BLW só é legal quando funciona para todos. "O ambiente tem que estar positivo. Se eu tenho medo do engasgo, se fico preocupada com a bagunça, se começo a gritar quando ele joga comida longe, criando um ambiente negativo, então tem que repensar e fazer do melhor jeito para todos."
Como nem sempre há disponibilidade para os pais adotarem o método 100%, muitos têm optado por um meio-termo entre o BLW e o tradicional, que vem sendo chamado de introdução alimentar ParticipAtiva. Nesse caso, o bebê pode manipular os alimentos com a mão, mas os pais também oferecem na colher, sempre com o cuidado de ser responsivo e respeitar, não forçando a criança a ingerir o que não quer.
Foi o que fez a fisioterapeuta Talita Oliveira de Paula, 31, mãe de Esther, de oito meses. Ela afirma que a filha teve muitos engasgos e dificuldades para comer no início do BLW. Por isso, ela optou por um meio-termo. "Deixo ela pegar parte da comida com as mãos, como couve-flor e brócolis, mas também ofereço na colher."
A fisioterapeuta Dora de Almeida Fischer Fernandes, 37, mãe de Antonio, conta que procurou adotar o BLW, porque queria um desenvolvimento alimentar mais adequado e independente para o filho. Por questões práticas, como ter que deixá-lo na escolinha, ela não conseguiu adotar 100% o método, mas separou alguns momentos para se dedicar a abordagem. "Se os pais não estiverem dispostos, perdem a paciência."
CONTRAPONTO
O BLW não é unanimidade entre os especialistas. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por exemplo, não vê vantagens no método, e indica engasgos e deficiências de nutrientes como pontos negativos da abordagem. Uma das críticas é a falta de pesquisas científicas que comprovem a sua eficácia a longo prazo, como no combate a obesidade. Até agora, o estudo mais importante sobre o tema é realizado na Nova Zelândia, mas ainda está em fase inicial.
Segundo a médica Virgínia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da SBP, papinhas amassadas são recomendadas na introdução alimentar, assim como desfiar a carne. "O que não é indicado é passar na peneira ou no liquidificador", diz. Pedaços podem ser dados a partir de oito meses, e alimentos inteiros só depois de um ano.
Apesar das divergências, a SBP e os especialistas em BLW concordam que a refeição do bebê deve ser feita com a família e que os pais são modelos para os filhos. "É de suma importância que os pais sejam orientados a ser o exemplo de hábitos alimentares saudáveis e a munirem-se de paciência, respeitando os limites impostos pela baixa idade, sempre agindo como um facilitador no processo de alimentação, o que proporciona ambiente tranquilo sem a utilização de estratégias coercitivas ou punitivas", afirma Weffort.
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