Razões para Acreditar
“Escolhi a fisioterapia porque amo as crianças e idosos, me identifico muito com cadeirantes, pessoas com síndromes, autistas e percebo que tenho a missão de tratar a saúde de todas as pessoas de uma maneira global”.
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Assim começa a discursar Luana Dallacorte de Moura, de 24 anos, jovem com síndrome de Down que se formou em fisioterapia pela Faculdade CNEC na última segunda-feira, 17.
Luana diz que deseja como fisioterapeuta manter um diálogo honesto e correto com a família dos pacientes especiais que atenderá, além de deixar de lado os velhos tabus de comunicação ao fazer um diagnóstico ou propor novos tratamentos.
“Não tenho nenhum preconceito de falar”, afirma com convicção.
Luana Dallacorte Rolim de Moura. Foto: Reprodução / Marcos Demeneghi
“Meu trabalho de conclusão de curso focou no tratamento dos meus futuros pacientes”, conta Luana, ao comentar sobre seu TCC.
A jovem pensa em atuar na teoria e prática da “Gameterapia”, tratamento que consiste na utilização de videogames em sessões fisioterapêuticas, ortopédicas e neurológicas que, além de humanizar o tratamento muitas vezes doloroso e exaustivo, possibilita interatividade e acessibilidade para pacientes com deficiência.
Considerado inovador e recebido com louvor pelos professores, o tema do TCC era “O tratamento de gameterapia nos portadores de paralisia cerebral”.
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Luana conta que as pessoas com dificuldade de locomoção precisam ser incentivadas a mudar certos paradigmas mentais; por isso, ela considera fundamental exercitar o cérebro com ferramentas virtuais, como os jogos.
Além disso, ela entende que muitos pacientes são limitados psicologicamente pelo medo, que os impedem de progredir. “Um cadeirante, por exemplo, pode sentir medo de caminhar,” afirma.
Desta forma, o uso da “gameterapia” pode potencializar as terapias físicas de pessoas com deficiência física.
Superação pessoal
A recém-formada fisioterapeuta disse que ao longo da graduação, nestes últimos quatro anos, passou por “muitos altos e baixos”, que exigiram dela força de vontade para superar as adversidades, e ainda uma dedicação extra para vencer os limites impostos pela síndrome.
“Meu objetivo era passar com dignidade. Sou exigente comigo mesma e, de um modo geral, não olho para os meus limites. Meu pai é testemunha, fechava a porta do meu quarto para estudar”, completou a jovem.
A família é sem dúvidas a base de tudo, diz Luana. Para ela, o pai e a mãe representam um verdadeiro porto seguro, uma fonte de inspiração. “Sou uma vencedora igual a minha mãe. Sigo de cabeça erguida e não tive medo”.
Ela tem sido lembrada como potencialmente a primeira brasileira com síndrome de Down a se formar no curso em todo o país.
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, não há conhecimento “de outra pessoa com a síndrome que tenha se formado em Fisioterapia”.
Uma pioneira, sem dúvidas.
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