BBC News
Longe de sair triunfantemente da África, os humanos modernos foram extintos várias vezes antes de continuar a povoar o mundo, segundo revelaram novos estudos.
A nova pesquisa com base em análise de DNA também lançou luz sobre o papel que nossos primos neandertais desempenharam em nosso sucesso.
Embora estes humanos europeus primitivos tenham sido vistos por muito tempo como uma espécie que dominamos com sucesso após deixar a África, novos estudos mostram que apenas os humanos que cruzaram com os neandertais prosperaram, enquanto outras linhagens foram extintas.
Na verdade, os genes neandertais podem ter sido cruciais para o nosso sucesso, nos protegendo de novas doenças com as quais não havíamos nos deparado antes.
A pesquisa identifica pela primeira vez um curto período, há 48 mil anos, quando os Homo sapiens cruzaram com os neandertais depois de deixar a África, após o qual eles se espalharam para o resto do mundo.
Os Homo sapiens já haviam atravessado o continente africano antes disso, mas a nova pesquisa mostra que estas populações antes do período de cruzamento com os neandertais não sobreviveram.
Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Biologia Evolutiva, na Alemanha, afirmou à BBC News que a história dos humanos modernos vai ter que ser reescrita agora.
"Vemos os humanos modernos como uma grande história de sucesso, saindo da África há 60 mil anos e se espalhando por todos os ecossistemas para se tornar o mamífero mais bem-sucedido do planeta", diz ele. "Mas no início, não éramos, fomos extintos várias vezes."
Durante muito tempo, decifrar como a única espécie sobrevivente de humanos evoluiu se baseou na análise das formas de restos mortais fossilizados de nossos ancestrais que viveram há centenas de milhares de anos, e na observação de como sua anatomia mudou sutilmente ao longo do tempo.
Os restos mortais antigos são escassos e, muitas vezes, danificados. Mas a capacidade de extrair e ler o código genético a partir de ossos com milhares de anos abriu uma janela para desvendar nosso passado misterioso.
O DNA dos fósseis conta a história dos indivíduos, como eles estão relacionados entre si e seus padrões de migração.
Mesmo após nosso cruzamento bem-sucedido com os neandertais, nossa população na Europa não estava livre de problemas.
Os primeiros humanos modernos que haviam cruzado com os neandertais e viveram ao lado deles foram extintos completamente há 40 mil anos na Europa, mas não antes de seus descendentes terem se espalhado pelo mundo.
Foi a prole destes pioneiros desbravadores internacionais que acabou voltando à Europa para povoá-la.
A pesquisa, publicada na revista científica Nature, também oferece uma nova perspectiva sobre o motivo da extinção dos neandertais logo após a chegada dos humanos modernos da África. Ninguém sabe por que isso aconteceu, mas as novas evidências nos afastam das teorias de que as ações da nossa espécie os levaram à extinção ou que, de alguma forma, éramos física ou intelectualmente superiores.
Em vez disso, Krause afirma que a pesquisa corrobora a visão de que isso se deveu a fatores ambientais.
"Tanto os humanos quanto os neandertais foram extintos na Europa nessa época", ele observa. "Se nós, como espécie bem-sucedida, desaparecemos da região, não é uma grande surpresa que os neandertais, que tinham uma população ainda menor, tenham sido extintos."
O clima era incrivelmente instável naquela época. Podia mudar de quase tão quente quanto é hoje para um frio intenso, às vezes durante a vida de uma pessoa, de acordo com Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, que é independente da nova pesquisa.
"O estudo mostra que, perto do fim da sua temporada no planeta, os neandertais estavam em um número muito baixo, eram menos diversificados geneticamente do que os humanos modernos com os quais conviviam, e talvez não fosse preciso muito para levá-los à extinção", ele afirmou.
Um estudo separado sobre DNA, publicado na revista científica Science, mostra que os humanos modernos mantiveram algumas características genéticas importantes dos neandertais que podem ter dado a eles uma vantagem evolutiva.
Uma delas está relacionada ao sistema imunológico. Quando os humanos saíram da África, eram extremamente suscetíveis a novas doenças que nunca haviam encontrado. O cruzamento com os neandertais ofereceu proteção aos seus descendentes.
"Talvez a obtenção do DNA neandertal tenha sido parte do sucesso, porque nos proporcionou uma capacidade de adaptação melhor fora da África", explicou Stringer. "Nós havíamos evoluído na África, enquanto os neandertais haviam evoluído fora da África."
"Ao cruzar com os neandertais, obtivemos uma solução rápida para nossos sistemas imunológicos."
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