Como pedir perdão e perdoar a traição? Distância da internet e paciência ajudam

Publicado em 11/03/2019, às 21h12
Casal | Pixabay -

Folhapress

Você provavelmente leu ou ouviu falar, em algum momento da última semana, sobre as supostas traições de José Loreto, ator da Rede Globo. O caso provocou uma crise no casamento de Loreto com a atriz Débora Nascimento e virou um assunto.

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Fora as fofocas, o que há de concreto é um texto publicado pelo ator no Instagram em que diz ter dado motivos para que Débora ficasse magoada, diz que, apesar das evidências, nada aconteceu, e pede perdão a ela e à filha.

"Nós somos seres de rituais. Tornar público é o ritual de zerar o pecado", diz a psicóloga Renata Toledo, pesquisadora da USP que estuda o tema.

Mas, para especialistas, a exposição pode só piorar as coisas. Ao postar o pedido de desculpas, o objetivo é dar magnitude ao arrependimento, mostrar ao mundo como você se sente mal -a ponto de se expor dessa maneira. O problema é que a pessoa que foi traída também acaba com a ferida exposta, o que pode ser prejudicial a ela.

Segundo Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Br (International Stress Management Association), a exposição pública nas redes sociais quase sempre é má ideia, tornando vulneráveis os envolvidos. Nos casos em que o casal reata, por exemplo, muitas vezes a pessoa traída passa a ser julgada pelos outros.

O mesmo vale para quem quer desopilar a raiva e expor o traidor. Nesse momento, é essencial respirar fundo e refletir com frieza.

O mesmo vale para casos de fofoca e rumores. Não alimentar a polêmica é o melhor remédio.

Mas isso não quer dizer que as duas pessoas da relação precisam engolir e guardar todos os sentimentos. É aconselhável se abrir, mas com as pessoas próximas e de confiança, que realmente podem ajudar a atravessar com mais calma o momento difícil.

Caso a postagem na internet já tenha ocorrido, o melhor é tentar fazer uma gestão de danos. Ignore ou corte qualquer tentativa não solicitada de interferência. "Não tome a iniciativa de tornar público e, se isso acontecer, não incentive ou discorra quanto à situação", diz Rossi.

O perdão em casos de traição é mais complexo do que só aceitar ou não desculpas. O que pode ocorrer é uma tentativa de compreender e justificar o que houve.

O desejo por outras pessoas, um dos motivadores da traição, é normal. O que é feito dessa sensação é o que importa para o relacionamento, diz Toledo.

Segundo dados de 2008 da pesquisa Mosaico Brasil, sobre comportamento sexual, 26% dos homens e 32% das mulheres não sabem como reagiriam se encontrassem o parceiro com outra pessoa. Mais da metade dos homens e 40% de mulheres terminariam a relação.

A reincidência é certamente um fator que prejudica o perdão, afirma Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Para tentar compensar a quebra da confiança, a pessoa que trai muitas vezes pode apelar para presentes, viagens e excesso de demonstrações de carinho, em tentativas quase sempre infrutíferas.

"O relacionamento precisa ser cultivado com pequenas ações que talvez tenham um valor maior do que algum objeto adquirido", diz Rossi.

A verdade é que não há muito segredo para um pedido de perdão após uma traição.

A conversa é o primeiro passo para qualquer tentativa de reconciliação. Se o casal não desejar, não é necessário incorrer nos porquês da infidelidade, mas é importante assumir o acontecimento e planejar como lidar com as consequências.

"Só não pode falar que nunca teve a intenção, porque isso é mentira. Falar que não quis fazer é a mesma coisa que não se implicar na situação, dizer que a culpa é do mundo e ele que fique com a culpa", afirma Toledo.

O segundo passo é a paciência. Não adianta pedir desculpas e tentar apressar que o outro volte ao normal quanto à relação -um "normal" que, possivelmente, nunca retornará ao que era. A pressão para essa suposta normalidade e por maior intimidade pode ser ainda pior para o relacionamento.

Para quem foi traído, a reflexão sobre a relação é essencial para saber qual caminho tomar e o que levou o casal àquela situação. "Talvez seja importante até pedir uma distância para pensar se você deseja que a relação tenha uma sequência", afirma Abdo.

Por fim, também é necessário levar em conta os acordos preexistentes dentro do relacionamento, considerando que alguns casais podem ter maior flexibilidade em relação ao assunto, afirma

"As pessoas podem ter o entendimento de que um caso extraconjugal pode acontecer, que faz parte", diz Abdo. O importante é todas as regras fiquem claras: se é aceitável ou não ter casos extraconjugais, se deve-se ou não compartilhá-los.

De toda forma, deve-se tomar cuidado ao apontar culpados, já que a relação é construída em conjunto, tantos os acontecimentos positivos quanto negativos. Ou seja: esqueça a ideia de apontar um pivô. Os responsáveis pelo relacionamento são as pessoas que fazem parte dele.

Caso a pessoa traída aceite a continuidade, a calma mais uma vez é elemento essencial.

"Não adianta a pessoa hoje aceitar que foi traído e, no dia seguinte, em qualquer situação de conflito retomar o assunto. Esse tem que ser um combinado do casal e precisa ter muito equilíbrio principalmente em momentos de fúria", diz Toledo.

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