João Arthur Sampaio
Na última semana, vídeos circularam na internet de pescadores denunciando a mortandade do sururu na Laguna Mundaú, e fazendo uma correlação com o colapso da mina 18, operada pela Braskem na região do Mutange, em Maceió. A informação gerou preocupação aos que dependem do mexilhão para viver.
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Entretanto, de acordo com dados coletados no local pelo projeto Laguna Viva, realizado pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e IMA (Instituto do Meio Ambiente), até o momento, o afundamento não possui relação com a morte do animal. A informação foi divulgada em coletiva de imprensa, na manhã desta segunda-feira, 18.
O professor e pesquisador, Emerson Soares, detalhou que existem fatores que impedem o desenvolvimento do sururu na laguna, causando diversas mortes e levando à uma possível escassez. Confira abaixo os cinco principais listados:
1- Poluentes e solventes
Durante a coletiva os profissionais presentes reiteraram que a poluição da laguna agride muito o ambiente. O professor explicou que, como o sururu é um organismo filtrador, recebe todo esse impacto dos contaminantes presentes na água.
2- Esgoto e matéria orgânica
Soares aponta como o segundo fator importante a quantidade de esgoto e matéria orgânica presente no ambiente. O que, segundo ele, em certo ponto seria algo positivo, mas em excesso torna-se um problema.
3- Soterramento no período chuvoso
Este se torna mais comum no período de junho, por conta das chuvas que atingem a região da capital alagoana e as cidades circunvizinhas, principalmente pelo acúmulo do Rio Mundaú.
O pesquisador ressalta que a degradação do rio e as margens desflorestadas leva um solo carregado de nutrientes e pesticidas que soterram a lagoa, em uma fase que o sururu está se desenvolvendo [ainda é uma larva] e não tem capacidade de sair do local nadando.
Isso leva a dois cenários, ou é soterrada ou é levada em direção ao mar, onde não consegue se desenvolver. “Esse fator de grande erosão do rio é prejudicial no momento de chuva e de diminuição de alguns compostos, como salinidade, e nutrientes, como magnésio, cálcio, que são necessários para o desenvolvimento da concha”.
4- Alimento
“O sururu não tem o que comer na laguna”, afirma o pesquisador. Segundo ele, vários processos influenciam o fato, como a erosão, o aumento da turbidez e a contaminação. O fitoplâncton é o que serve de alimento e oxigena a água.
Soares fala que a diversidade deste organismo é “baixíssima”, por conta das cianobactérias, em grande quantidade, que produzem toxinas agressivas a este tipo de alga e também aos seres humanos, causando doenças.
“Ele começa a reproduzir no mês de agosto, quando passa o período chuvoso, começa a surgir os sais e nutrientes que precisa para desenvolver a casca e ficar maior. O sururu não morre da noite para o dia, só se for algo extremamente tóxico que passou pelo local. Pela condição do momento, não acreditamos que foi a condição da mina que causou as mortes”.
5- Espécie exótica
O último fator seria uma disputa entre espécies. O sururu branco, que vem do caribe, compete por alimento e espaço e se adapta melhor que o nativo.
Além dos problemas para o desenvolvimento, o mexilhão da laguna tem a exploração dos pescadores. “Para recuperarmos o estoque, temos que reiterar o exótico do local, e assim diminuir a competição”, finaliza.
Mas é seguro comer?
O professor e pesquisador Josué Carinhanha, do Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (Linqa), conta que sim, é seguro comer, apenas em excesso poderia causar problemas.
“Fizemos os cálculos. Seriam necessários de 300 a 500 gramas para afetar as pessoas, ninguém come isso de sururu. Para turistas, o risco é mínimo. Para quem come constantemente, como os pescadores, pode acontecer algo”, explicou.
Carinhanha ressalta que é necessário saber a diferença entre o alimento que chega à mesa do consumidor e o da laguna, uma vez que existe todo um processamento do mexilhão para ser vendido.
O professor Emerson Soares ainda acrescentou que o problema pode acontecer por uma série de fatores, que estão incluídos nas más condições de trabalho dos pescadores [não apenas a alimentação], que refletem na saúde, por meio de verminoses e bactérias presentes no local, um “ambiente insalubre”.
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