Ana Bottallo/Folhapress
Pesquisadores do Museu Nacional de História Natural (NMNH, na sigla em inglês) do Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos, nomearam um fóssil de anfíbio em homenagem ao famoso sapo verde Caco, dos Muppets, que no original em inglês se chama Kermit.
LEIA TAMBÉM
A semelhança do crânio do sapo fóssil com o personagem da TV está no focinho levemente afilado e nos "olhos esbugalhados" -na verdade, no fóssil estão preservadas as duas grandes órbitas oculares, mas, como o topo do crânio após os olhos é curto, o fóssil tinha uma aparência de uma cabeça pequena com olhos enormes.
O achado descrevendo o novo fóssil foi publicado na última quinta-feira (21) na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society.
O nome na nova espécie vem de Kermitops gratus, do grego "ops" (cara de) e Kermit, nome do boneco da TV, e o epíteto "gratus", do latim gratidão, um gesto para agradecer ao trabalho de Nicholas Hotton III, paleontólogo já falecido e que por quatro décadas contribuiu para o trabalho de pesquisa no setor de paleontologia do Smithsonian. Foi em uma de suas expedições que o material foi descoberto.
O crânio de apenas três centímetros estava havia 40 anos em uma gaveta na coleção do departamento de paleobiologia do museu. Ele fez parte de escavações da equipe do Instituto Smithsonian para a formação Clear Fork, no Texas, em 1984, mas pela quantidade de microvertebrados (ossos relacionados a animais vertebrados menores e de difícil identificação) encontrados a equipe não conseguiu estudar todo o material escavado.
Para Calvin So, doutorando na Universidade de George Washington e primeiro autor do artigo, a ideia de homenagear o famoso Muppet foi para chamar atenção ao achado. "Esperamos sinceramente atingir um público maior ao nomear a espécie em homenagem ao sapo Kermit", disse ele à reportagem por email.
Kermitops é considerado um representante primitivo dos tetrápodes -grupo que inclui todos os anfíbios, répteis (junto com as aves) e mamíferos, recentes ou já extintos- e viveu há 270 milhões de anos, no Permiano (de 299 a 251 milhões de anos atrás), último período da era Paleozóica, que precedeu a Era dos Dinossauros ou Mesozóica (de 251 a 66 milhões de anos atrás).
É provável que o animal, que não devia passar dos 15 cm de corpo, fosse um representante do grupo ancestral dos anfíbios atuais, conhecido como temnospôndilos, se alimentasse de pequenos insetos e vivesse em uma área quente e com estações úmidas e secas sazonais, como ocorre nas regiões de monções hoje no Sudeste Asiático.
Na análise filogenética do estudo, o novo fóssil teve sua "posição" na árvore evolutiva "mudando várias vezes", mas sempre dentro do grupo único Amphibamiformes, que inclui os ancestrais e todos os descendentes dos anfíbios modernos.
Ele está, porém, muito distante do clado que inclui os sapos, salamandras e cecílias (conhecidas também como cobras-cegas) que são encontrados hoje, os representantes da linhagem Lissamphibia. Atualmente, existem mais de 8.000 espécies de anfíbios, vivendo principalmente nas regiões tropicais do planeta.
A pesquisa contou também com a colaboração de Arjan Mann, pesquisador de pós-doutorado no departamento de paleobiologia do Smithsonian e orientador de So, e Jason Pardo, do Field Museum de Chicago.
Para So, o fato de o fóssil estar há tanto tempo guardado e ser uma espécie distinta revela como as coleções científicas são uma janela para o tempo. "Em nosso contexto, as coleções são importantes porque fósseis não estudados são dados não utilizados que podem mudar potencialmente nossa compreensão da história natural dos organismos, como o Kermitops fez", afirma.
Por fim, ele espera que o alcance da descoberta científica seja grande, mas entende que há barreiras no acesso ao conhecimento científico, principalmente nos Estados Unidos e em outros países onde o ensino superior não é gratuito e questões socioeconômicas impedem a participação em níveis anteriores. "Resolver isso é um primeiro passo importante entre muitas mudanças sistêmicas necessárias."
LEIA MAIS