Caso Robinho: os próximos passos para que a pena seja executada no Brasil

Publicado em 18/02/2023, às 15h15
Foto: Divulgação Santos FC -

GE

O Ministério da Justiça brasileiro tem em mãos uma nova solicitação da Justiça italiana sobre o caso de Robinho, ex-jogador condenado a nove anos de prisão por violência sexual. Depois de um pedido de extradição negado, porém, é possível que haja execução da pena em solo brasileiro? O ge falou com o advogado Davi Tangerino, que explicou questões sobre o processo.

LEIA TAMBÉM

O pedido para que Robinho, assim como seu amigo Ricardo Falco, outro condenado, cumprisse a pena na Itália foi negado em novembro do ano passado com base na Constituição brasileira - que não permite a extradição de cidadãos natos. Uma lei criada em 2017, porém, pode abrir possibilidade para a prisão no Brasil.

A Lei de Migração está em vigor desde novembro de 2017. Um trecho dela diz que "nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória, a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem (que proíbe que uma pessoa seja processada, julgada e condenada mais de uma vez pela mesma conduta)".

Quais os próximos passos? - A solicitação será enviada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que tem a atribuição de homologar a sentença italiana - ou seja, averiguar se os requisitos para o cumprimento da pena no Brasil estão presentes.

Entre os requisitos objetivos, o caso se enquadra por também ser considerado crime no Brasil, por ter condenados brasileiros e de residência no país, já ter havido trânsito julgado - ou seja, sentença definitiva - e ser uma pena superior a um ano.

Não há mais julgamento do mérito no caso. Portanto, Robinho poderá se defender apenas a respeito de questões formais, e não, por exemplo, alegar inocência ou falta de provas.

- Por exemplo, ele pode dizer que a lei que autoriza esse cumprimento no Brasil é de 2017, posterior ao ano do crime (2013), e que não pode retroagir contra ele. Se o STJ concordar, não homologa a sentença italiana - analisa Davi Tangerino, que cita precedente na Justiça brasileira.

- O STJ já homologou, por exemplo, o cumprimento de pena de crime patrimonial cometido em Portugal por um brasileiro. Portanto, o STJ já entendeu que isso se aplica a brasileiro nato.

Caso o STJ entenda que todos os requisitos para a homologação estejam cumpridos, então a Justiça Federal do estado onde cada condenado reside emitirá as ordens de prisão.

Relembre o caso - O crime cometido por Robinho aconteceu na Sio Café, uma conhecida boate de Milão, na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013. À época, Robinho era um dos principais jogadores do Milan. Além dele e de Falco, outros quatro brasileiros, segundo a denúncia da Procuradoria da cidade, participaram da violência sexual contra uma mulher de origem albanesa.

Amigos do jogador que o acompanhavam no exterior, os outros quatro brasileiros deixaram a Itália durante a investigação e não foram acusados, sendo apenas citados nos autos. A vítima, residente na Itália há alguns anos, naquela noite foi com uma amiga à boate comemorar seu aniversário de 23 anos – a violência ocorreu dentro do camarim do local.

Em outubro de 2020, o ge publicou com exclusividade interceptações realizadas contra Robinho e seus amigos com a autorização da Justiça - escutas foram instaladas até no carro que o jogador usava na Itália.

As gravações foram transcritas na sentença inicial e confirmam, segundo disse uma juíza que participou do julgamento em primeira instância, a versão da vítima de que houve violência sexual cometida por seis homens contra uma mulher que estava alcoolizada e inconsciente. "A mulher estava completamente bêbada", disse Robinho em uma das conversas gravadas.

A primeira condenação do ex-jogador do Santos e de Ricardo Falco data de novembro de 2017. À época, Robinho jogava no Atlético-MG. Ele deixou a Itália em 2014, quando já tinha sido convocado a depor no inquérito que apurava o crime – o jogador negou a acusação, mas confirmou que manteve relação sexual com a mulher, ressaltando que ela foi consensual e sem outros envolvidos. No caso de Falco, uma perícia encontrou a presença de seu sêmen nas roupas da jovem.

No julgamento realizado na segunda instância, em dezembro de 2020, a Corte de Apelação de Milão manteve a condenação inicial de nove anos de prisão. As três juízas responsáveis pela sessão destacaram o "particular desprezo" de Robinho com a vítima, que foi "brutalmente humilhada", e o que consideraram uma tentativa de enganar a Justiça italiana com uma "versão dos fatos falsa e previamente combinada" com os outros envolvidos.

Depois do Atlético-MG, Robinho passou por dois clubes turcos: Sivasspor e Istambul Basaksehir. Em outubro de 2020, chegou a ser anunciado pelo Santos, mas não entrou em campo pelo clube, já que teve seu contrato suspenso e posteriormente encerrado.

Em janeiro de 2022, a Corte de Cassação da Itália, entidade equivalente ao STF no Brasil, confirmou a condenação em última instância. Além dos noves anos de reclusão, Robinho também foi condenado a pagar uma indenização de 60 mil euros (cerca de R$ 372 mil na cotação da época).

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Torcedores do Peñarol soltos terão que declarar residência fixa no Brasil Torcedor que comprou cabeça de porco tenta evitar punição ao Corinthians CSA anuncia contratação do goleiro Gabriel Felix, ex-Londrina Série B: veja as chances de acesso e riscos de queda após 35ª rodada