Caso Amanda: o passo a passo de um crime bárbaro

Publicado em 20/08/2022, às 07h14
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Theo Chaves

Um crime de grande repercussão, e que chocou a população alagoana. A morte da motorista de transporte por aplicativo Amanda Pereira, de 27 anos, que foi estrangulada após sofrer uma tentativa de assalto, na madrugada da última terça-feira, 16, gerou grande revolta nos profissionais da categoria e também provocou vários protestos pelas ruas de Maceió. 

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Nos últimos meses, ao menos três crimes contra motoristas de app tiveram grande repercussão em Alagoas. Em um deles, a motorista, identificada como Alayne da Silva, 28 anos, sobreviveu depois de ter sido baleada por criminosos, o que não aconteceu com Amanda. Para sobreviver, ela teve que fingir-se de morta e aguardar socorro.

No caso de Amanda, três pessoas foram presas suspeitas de cometerem o crime. O primeiro a ser identificado e preso pela polícia foi Jackson Vital dos Santos, que confessou ter estrangulado por cerca de oito minutos a motorista. Já os outros dois suspeitos, identificado como Yuri Livramento dos Santos e Mari "Estelinha, se apresentaram à polícia na manhã dessa quinta-feira, 18.

Para entender melhor como foi a dinâmica da morte de Amanda, o TNH1 se aprofundou no trabalho de investigação e refez o passo a passo do crime. A cronologia abaixo foi montada a partir dos relatos de familiares da motorista e de informações confirmadas pela Polícia Civil alagoana.

Veja, abaixo, uma cronologia do caso Amanda:

Amanda é atraída pelos criminosos para uma corrida em um aplicativo, na tarde de 15 de agosto, às 16:49

De acordo com informações de familiares, Amanda estava no Conjunto Jarbas Oiticica, em Rio Largo, na tarde da última segunda-feira, 15, quando recebeu uma solicitação e aceitou a corrida que tinha como destino a cidade de Marechal Deodoro. A motorista, que só aceitava corridas solicitadas por mulheres, passava por dificuldades financeiras e tinha o sonho de juntar dinheiro para dar uma festa de aniversário para a mãe.  Ela também era acostumada a aceitar viagens longas e em locais com alto índice de violência, pois os valores das corridas eram mais satisfatórios.

A motorista manda uma localização ao familiares por um app de conversas, no início da noite do dia 15 de agosto, aproximadamente às18 h

Após desconfiar da corrida, Amanda compartilhou a viagem com o esposo e com a família. A motorista também mandou a localização para um grupo de motoristas de transporte por aplicativo. Os colegas de trabalho logo desconfiaram quando a vítima usou um caminho diferente do habitual.  A partir disso, os familiares começariam uma "saga" para tentar localizar a motorista. 

O veículo da motorista é encontrado no bairro de Cidade Universitária, na noite de 15 de agosto, aproximadamente às 20h

Com a localização em tempo real, os familiares chegaram até o carro de Amanda, um Voyage prata, de placa KNS7A89. Ele foi encontrado abandonado no bairro de Cidade Universitária, na parte alta da capital alagoana, na noite da última segunda-feira, 15. Porém, ainda não havia indício do paradeiro da motorista. 

O corpo de Amanda é encontrado no início da madrugada de 16 de Agosto, aproximadamente às 1h30

Após a localização do  veículo, Policiais civis e militares foram mobilizados, assim como um grupo de motoristas de app. Todos atuaram nas buscas pela motorista. O corpo de Amanda foi localizado por volta de 1h30 desta terça, nas proximidades da Avenida Cachoeira do Meirim, e segundo os parentes, não apresentava marcas de tiros ou facadas, o que levanta a possibilidade de a vítima ter sido assassinada por asfixia.

Nome de um dos suspeitos é identificado pela polícia às 8h da manhã do dia 16 de agosto

Após iniciarem o trabalho de investigação, a Polícia Civil alagoana identifica o nome de um dos suspeitos. Equipes da segurança pública deslocaram para o conjunto Jarbas Oiticica, no município de Rio Largo, na Região Metropolitana de Alagoas, local onde ele suspostamente residia.

Motoristas de app fazem protestos e bloqueiam várias ruas de Maceió, na manhã de 16 de agosto

Em protesto pela morte de Amanda, motoristas por aplicativo se organizaram e fecharam grandes avenidas na cidade de Maceió para chamar atenção para os casos de violência vivenciados nos últimos meses. A primeira a ser bloqueada, nos dois sentidos, foi a Avenida Fernandes Lima, em frente ao CEPA, no bairro do Farol. Os profissionais da categoria  queimaram pneus e galhos de árvores, provocando um grande congestionamento em vários pontos da capital alagoana.

Laudo do IML aponta causas da morte da motorista, na tarde de 16 de agosto, às 15h42

A Polícia Científica do Estado de Alagoas informou que as perícias criminais no corpo da motorista de aplicativo, Amanda Pereira dos Santos de 27 anos, e no veículo que ela utilizava quando foi assassinada, foram concluídas e, de acordo o perito médico legista Luiz Mansur, do Instituto de Medicina Legal Estácio de Lima (IML de Maceió), a jovem morreu em decorrência de asfixia por estrangulamento.

Segundo Mansur, o corpo não apresentava evidência de abuso sexual. Também foram colhidos vários vestígios como materiais biológicos para exames posteriores. 

O corpo de Amanda é sepultado, na tarde de 16 de agosto, às 17h

Um grande número de pessoas, entre familiares, amigos e colegas de profissão, esteve no Cemitério Parque das Flores, em Maceió, para prestar a última homenagem à Amanda Pereira. A família de Amanda se dividiu entre o choro pela tristeza de perder um ente querido e os abraços recebidos por quem foi ao cemitério prestar solidariedade. A mãe da jovem, dona Valdice, acompanhou o velório a todo momento perto do caixão da filha.

Um dos suspeitos de matar Amanda é preso pela polícia, no fim de tarde de 16 de agosto, aproximadamente às 17h55

Jackson Vital dos Santos, 27 anos, foi preso em Rio Largo, na Região Metropolitana de Maceió. O homem, que contou ser autônomo e também fazer bicos como ajudante de pedreiro, admitiu que sufocou e estrangulou a vítima até a morte e que agiu com violência porque a mulher havia reagido ao assalto. Jackson também confirmou a participação de um casal, identificado como Yuri Livramento dos Santos e Mari "Estelinha", que, segundo ele, teria planejado o crime. 

Logo após prestar depoimento à Polícia Civil, Jackson Vital conversou com a imprensa e destacou que, com os braços, segurou o pescoço de Amanda, ação conhecida como "mata-leão". Segundo o assassino confesso, a motorista de app teria ficado descontrolada ao ir para o banco de trás, depois de ser rendida, e mordido uma mulher que também havia participado do latrocínio.

Jackson também informou em depoimento que o comparsa usou um simulacro de pistola para anunciar o assalto e deu detalhes do ataque contra Amanda. "O indivíduo preso ficou no banco da frente e o casal no banco de trás. Ao chegar em Marechal Deodoro, eles pediram para que ela parasse o veículo, e nesse momento, o homem que estava atrás dela puxou uma arma de fogo, que segundo o suspeito preso, era um simulacro de pistola, e houve o anúncio do assalto", iniciou o delegado Igor Diego, titular da delegacia de Rio Largo, que participou da detenção do suspeito.

O suspeito também declarou que o material do roubo e cerca de R$ 180 levados de Amanda ficaram com o casal.

Imagens de casal suspeito de participação é divulgada pela polícia, na manhã da quarta-feira, 17

A Polícia Civil intensificou as buscas pelo casal suspeito de participar do crime de latrocínio da motorista da Amanda Pereira dos Santos. Uma operação conjunta foi montada na quarta-feira, 17, para localizar o paradeiro de Yuri Livramento dos Santos e Mari "Estelinha".

A investigação da Polícia Civil apontou que Yuri e Mari teriam sentado no banco de trás do carro da vítima no início da corrida, e o homem anunciado o crime com um simulacro de pistola. Depois ele teria passado para o banco da motorista e dirigido o Voyage. Já Mari e Jackson teriam ficado atrás e agredido Amanda que reagia ao roubo. 

Mari, inclusive, foi a responsável por solicitar a corrida por aplicativo. Ela usou dados pessoais de uma moradora do estado da Bahia para fazer o cadastro de passageiro no aplicativo e se passar por outra pessoa para cometer o crime. Como Amanda só atendia passageiras mulheres, aceitou a corrida que tinha como destino Marechal Deodoro.

Casal se entrega à polícia na manhã da quinta-feira, 18

Yuri Livramento dos Santos e Mari "Estelinha" se entregaram à polícia na manhã desta quinta-feira, 18. Eles se apresentaram no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), de Rio Largo, e estavam acompanhados de um advogado. O representante do casal disse que eles estavam arrependidos do crime. "Eles disseram que estão profundamente arrependidos e choraram muito", disse Anderson Cabral

Justiça decreta a prisão preventiva de casal envolvido no assassinato de Amanda 

A justiça alagoana decretou a prisão preventiva de Yuri Livramento dos Santos e Maristela Santos de Souza na tarde da última quinta-feira, 18. O juiz Carlos Henrique Pita Duarte, responsável pela decisão, considerou que, além do depoimento de Jackson Vital dos Santos, outras pessoas apontaram Yuri e Mary como envolvidos. 

"Como detalhado supra, duas circunstâncias aplicam-se perfeitamente à presente casuística, sendo imperiosa a imediata decretação da segregação preventiva dos acusados como garantia da ordem pública merece ser preservada, uma vez que em liberdade os investigados continuarão a exercer atividade criminosa, abalando a paz e harmonia social, podendo ainda desaparecerem com outras provas ou interferir prejudicando no curso da persecução penal", detalha trecho da decisão na 2ª Vara Criminal da Capital. 

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