Dayane Laet
A reportagem especial "Bullying : Agressão Invisível" colocou em debate um dos grandes problemas da atualidade.
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Após mostrar fortes depoimento de vítimas, muitos internautas começaram a se manifestar nas redes sociais do Portal TNH1, que resolvou publicar algumas histórias, com a autorização expressa de seus autores.
Os depoimentos são sempre fortes, e mostram que trouxeram consequências físicas e psicológicas para as vítimas. As histórias, que você lê abaixo, foram reproduzidas originalmente, sem edições ou correções gramaticais.
"APOSTARAM PRA SABER SE EU ERA TRAVESTI OU SAPATÃO"
Tive uma vida marcada pelo bullyng por não seguir determinados padrões sociais e por não ser a garota mais bonita da escola. Lembro na adolescência de ter ouvido o garoto que eu gostava me chamar de "muito feia" edito isso seguiu-se um "deus me Livre". Saindo da adolescência resolvi me tornar a atleta e sempre tive uma inclinação por esportes considerados masculinos. Capoeira, jiu jitsu, muay thay,e por último o fisiculturismo. Durante a época em que era fisiculturista as pessoas saiam de perto de mim quando eu estava em espaços públicos ou no ônibus. Certa feita um grupo grande de pessoas apostou uma grade de cerveja para quem acertasse se eu era um "travesti" ou "sapatão". O tempo passou, deixei o esporte e como acontece, meu corpo e peso mudaram, e agora, o bullyng é por ter sido atleta de fisiculturismo e agora ser uma "cheinha". As pessoas insatisfeitas com as próprias vidas tendem a agredir gratuitamente, pela cor, pelo jeito, pelo esporte, pelo cabelo, pelo tudo ou pelo nada.
"CRISE DE FALTA DE AR E PERDA DE VISÃO POR PÂNICO",
Me chamo Thaís, tenho 24 anos, casada e mãe de um casal, e fui vitima de bullying na época em que estudei num colégio no qual é conhecido pela "disciplina" que ele oferece ao alunado. Bom, sofri durante cinco anos nesse colégio, sempre fui gorda, não ligava pra vaidade e era feliz assim. Mais passei a dentro desse colégio conheci a pior forma da violência contra alguém. Eram apelidos horríveis onde eram desde GORDA a "catraia"... E com o passar dos anos as coisas só pioraram, tudo era motivo pra gozação, se me destacasse em relação a uniforme, as notas, se levasse uma topada, exatamente TUDO o que fizesse era motivo pras "Brincadeiras", onde chegou no ponto que tais brincadeiras se espalharam pras outras salas, onde teve um episódio em que estava indo pro ponto de onibus onde uma turma de alunos de diversas salas foram gritando apelidos horriveis até o ponto em que eu ficava... No segundo ano do ensino médio, teve uma festinha na sala em que estudei, e um aluno apagou a luz da sala de aula e jogou "farelo" de salgadinho em mim, dizendo que gorda e porca era pra tá daquele jeito mesmo, suja... Foi a gota d'agua pra mim, comecei a revidar aos insultos, comecei a ter crises de falta de ar e perda de visão por pânico, se visse alguma das pessoas que fazia isso era certo ter uma das duas coisas (Confesso que até hoje isso me atinge, porém meu marido e meus pais me ajudaram a superar), chegou ao ponto de uma vez ao acordar para ir a escola, agarrar nas pernas da minha mãe e pedir que pelo amor de Deus ela não me deixasse voltar pra aquele lugar. E graças a Deus ela atendeu meu pedido junto com meu pai. Saí de lá e vi o quão bem me fez sair de perto de pessoas tão pequenas de espirito!! E mesmo tendo saido de lá ainda era vitima de piadas, aos meus 15 anos engravidei do meu primeiro filho, fruto de um namoro que tive com um também ex aluno do colégio, quando as pessoas de lá souberam as piadas começaram, eram coisas do tipo: "Quem teve coragem de engravidar a catraia?" "Preciso saber quem foi o cara louco que C... a gorda? Cara de coragem!" Minha reação foi, erguer a cabeça e não ligar, pois aprendi que pessoas que fazem isso, são pessoas fracas de espirito. Hoje sou feliz, construí minha familia, sou graduanda em Meteorologia Bacharelado pela UFAL e de bem comigo mesma!
SÓ TENHO UMA DAS MÃOS.. NA ESCOLA ACHARAM QUE ERA CONTAGIOSO
Eu sou deficiente físico só tenho uma das mãos , na escola as outras crianças não se aproximavam de mim porque achavam que era contagioso , que se eles tocassem em mim também ficaria sem a mão depois os adultos me chamavam de cotó, mão de camarão ou braço de radiola eu sofri muito mas criei um objetivo de superação ! Sou estilista alagoano já vesti diversas celebridade é hoje atendo clientes de todo o Brasil é muitos que riam de mim tem orgulho ou inveja.
"O ENSINO MÉDIO QUASE ACABOU COM MINHA VIDA"
Atualmente sou Universitário, mais quem me ver aqui não sabe o que já passei, o ensino médio quase acabou com a minha vida, sofri muito Bullying por causa dos meus olhos pois eu tinha um desvio, eles me batiam praticamente todo santo dia, com brincadeira chatas, me chamavam de tudo, zaroido, oi pro c.., e muito mais. Com o tempo comecei a criar uma trauma de ansiedade, fui ao medico mais não tive coragem de fala a verdade, eu apenas torcia para aquele terror acabar. Nada eu podia fazer, pois todos estavam contra min, derrubavam minha bolsa me faziam buscá-la no chão como um cachorro, já estava cansado daquilo, eu queria algo diferente, então resolvi mudar, fui para o turno da noite, e deu uma melhorada, mais mesmo assim me sentia constrangido por causa do meu desvio, após concluir o médio resolvi fazer a cirurgia, e hoje sinto uma pessoa superada pelo que já passei, atualmente faço faculdade e trabalho como auxiliar de contabilidade. Não guardo rancor de quem me fez sofrer, mais sinto que minha adolescência foi jogada fora por moleques não viam o meu lado e sim o deles. Contudo, desejo boa sorte aqueles que acabaram com a minha adolescência, vocês estão gravados na minha memoria.
"EU TINHA PAVOR REAL!"
Bem, eu sofri na infância e algumas vezes sofro ainda na fase adulta. Na infância sempre fui bem magrinha, tipo abaixo do peso mesmo, e como sabemos, não é apenas as gordinhas que sofrem. Também nunca fui a popular do colégio, sempre fui calada, muito na minha e extremamente tímida. Pois bem, uma menina me atormentava no colégio, eu tinha pavor real!!! Ela me agredia fisicamente e verbalmente, e eu, boba da forma que era nunca me defendia, pois morria de medo. Ela era muito maior que eu e bem mais forte. Um dia não aguentei e cheguei em casa aos prantos. Tinha medo de voltar à escola, porque realmente sempre imaginava o pior, para a minha decepção, quando falei em casa muito valor não tive, acharam que era besteira de criança, enfim, nada foi feito! Ainda cheguei a encontrar essa menina depois de anos, e sinceramente, olhando para ela, vejo o quanto a vida me fez bem e o quanto ela está uma pessoa triste. Pois bem, a outra, por incrível que pareça, ocorre na minha fase adulta, onde por infelelicidade da vida perdi minha audição. Já imagina, né? Varias piadas relacionadas a minha dificuldade de ouvir, no começo a gente relava, mas chega um momento que magoa. Já fiquei triste centenas de vezes, e até já explodi. Mas as pessoas são cegas e pouco se importam se magoam as outras. Enfim, isso só piorou minha timidez e cada vez me afasto das pessoas. Acabei pegando trauma pesado e tenho muita dificuldade de comunicação, enfim. Mais amor!
OBESIDADE MÓRBIDA
Bom,eu tenho 40 anos e ainda sofro Billings tenho um filho de 10 anos e outro de 6 eu deixei de levar eles pra escola é buscar por que os colegas deles ficam zombando deles , até brigas eles já se envolveram por conta disso , tenho obesidade mórbida e ñ quero ver meus filhos passando vergonha por minha causa, é muito triste silêncio a eles a respeitar as pessoas mais me escondo pra ñ ver eles vendo as pessoas ñ me respeitarem , sei que eles me amam como eu sou esse é meu único conforto . Meu nome é Luciana obrigada.
"CABELO RUIM"
Há muitos anos atrás quando estudava na escola jorge assunção sofri muito com esse problema Bullying os meninos pelo fato de ser negra me xingavam de negra do cabelo ruim e atiravam bolas de papel em mim era revoltante.
'PENSEI EM ME SUICIDAR"
Primeiro quero afirmar minha condição de hetero que sempre fui e sou até hoje. Sou filho de classe média e sofri bullying quando meus pais se mudaram de bairro, eu tinha 12 anos era um garoto normal acostumado a brincar com outras crianças da mesma idade no bairro em que morava, brincadeiras sadias e sem nenhuma maldade, com os amigos que prezo até hoje, uns vivos e outros que já se foram.Em 1972 meus pais se mudaram para esse outro bairro, e aí começou o meu drama, pois encontrei outros costumes garotos pervertidos sexualmente com mais idade e até pedófilos que moravam nessa rua. Pois bem, eu não cheguei a sofrer abuso mas sofri assédio moral e foi o bastante para que eu me isolasse dentro de minha própria casa saindo apenas para o Colégio. Tentei desabafar com alguns colegas mais foi pior, pois a coisa tomou outro rumo e foi aí onde errei, não procurando pessoas certas para me ajudar, eu era apenas um garoto .Mudei meu comportamento, era um menino alegre e a tristeza tomou conta de mim, sentindo- me culpado e amargurado com aquela situação, pois não tinha com quem falar e a vergonha de tocar nesse assunto era tão grande na época que eu pensei até em me suicidar. Os tempos passaram e pessoas maldosas dessa mesma rua, se encarregaram de espalhar boatos sobre mim causando injúrias e difamação que carrego até hoje em olhares irônicos. Estou dando este depoimento para que outros jovens na mesma ou em outra situação quando sofrer qualquer tipo de bullying que converse com seus pais ou outra pessoa de sua inteira confiança para que esse problema não se torne um trauma para toda vida, como aconteceu comigo. É um problema muito sério que pode ser resolvido no início sem deixar seqüelas, mas que pode também prejudicar uma vida toda se não for solucionado
'RETRATO DO CÃO'
Quero relatar o quão cruel foi ter que aguentar perseguições verbais e no início até físicas do meu grupo de “amigos” desde as séries iniciais até a conclusão do ensino médio. Pois bem senhor B, deixa eu descrever da forma que você sempre me viu, a garota esquisita, branquela com sardas no rosto, pouco mais de seis anos de idade na época, meus óculos eram fundos de garrafas, há obrigada pelo meu apelido predileto, é, quatro olhos era fichinha para o que estava prestes a vir, deixa ver se eu lembro! Quatro olhos; Maria doida; Bruxa Queca; Coruja; Supapo; BiriBiri; Cabelo de Fogo; Bola Quadrada; Antena Cênture; RETRATO DO CÃO; Acho que não estou conseguindo lembrar de todos, sou grata por isso, esses já me pesam na memória o suficiente. Eu lembro desses apelidos da mesma maneira que lembro dos tapas que levei no rosto, lembro deles como lembro da vez em que toda escola me encurralou na parede por detrás do galpão para jogarem pedras em mim, acho que tinha uns sete anos ai, lembro de quando e como cortaram meu cabelo contra minha vontade em sala de aula, lembro como riam de toda e qualquer roupa que usava, da forma como eu colocava meu cabelo de lado, lembro de quando abaixaram meu short na aula de física, e lembro de quando aquelas duas garotas maiores esfregaram a bandeja de bolo no meu rosto e jogaram no chão num dia de chuva. Pois é, lembro do leilão que fizeram da minha bolsa e entre tantos outros episódios que não eu não quero relatar. O tema aqui discutido é um tema do qual eu tenho legitimidade pra falar com propriedade, não apenas por ter sentido todas as suas causas e efeitos e carregar algumas marcas não apenas no psicológico, mas no corpo que tantas vezes eu estapeei belisquei e cortei, pra tentar descontar na minha impotência de não conseguir revidar a altura. Por muito tempo me questionei se de fato deveria mudar para me adaptar aos padrões estéticos definidos pela sociedade, a singularidade do meu eu resistiu as imposições opressoras por parte daqueles que não respeitam o estilo de vida diverso ao seu, Contudo, superada essa fase escura de uma infância e adolescência problemática, a garotinha nerd hoje, como estudante do curso de Direito, que embora nunca tenha reagido, esperou o momento certo para falar por toda uma geração que silencia a dor, por medo ou vergonha como acontecia no meu caso, minha mãe só teve conhecimento de tudo quando ingressei na faculdade de história, eu não queria dar a ela mais um problema. Enfim, certo ou errado foi o que aconteceu, então senhor B, deixa eu te dizer uma coisa, nem todos os que provam da sua intensificada investida de fracasso e auto destruição, se rendem, uma boa parte sim, mas eu, há! Eu sobrevivi e vim aqui usando o que desde cedo eu aprendi a fazer pra fugir de você, te dizer que, quando buscamos o direito a justiça prevalece, felizmente você mexeu com a pessoa errada.
"BUJÃO"
Carrego um forte traço genético, a da obesidade. Desde pequenina era motivo de chacota na escola, com apelidos do tipo: " chupeta de baleia", "Inhoma", " Bujão", entre outros, mas minha mãe me preparou para a vida, me fazendo aceitar como sou. Assim cresci sem traumas, participava de tudo na escola, amiga de todos e nunca fui rejeitada de nenhum grupo pelo fato de ser gorda. A questão do bullying está associado de como você é criada: que vc sempre seja a "vítima" ou protagonista de sua história. Se eu me ORGULHO em ser gorda? NÃO! Me orgulho em ter a consciência de que uma fita métrica não mede meu valor ou felicidade.
"NEM SE CHAMAVA DE BULLYNG"
Já faz tanto tempo que ele nem se chamava bullying... as situações eram muito frequentes quando eu ainda estava no ensino fundamental, da 3a para a 4a série. "Amigos" de turma faziam chacotas por conta do meu peso e pelo fato de não fazer parte do padrão de beleza entre as meninas da classe, era chamada de feia, magricela, Olívia Palito, dentre outros. Além disso, por não ter o mesmo gosto musical, era ameaçada de apanhar, e até aconselhada (pelas agressoras) de que levasse kit de primeiros socorros para os passeios escolares, porque "ia precisar". Conversar com diretores e coordenadores não adiantava, pois era lidado como "brincadeiras de crianças". Hoje a gente vê que não é bem assim, e que é preciso ter cuidado. Fiz acompanhamento psicológico e lidar com a autoestima lembrando dos mesmos apelidos da infância é um obstáculo a ser vencido todos os dias. (L.F.)
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