Braskem divulga novo laudo: 'CPRM tirou conclusões precipitadas e tremor de terra teve causa natural'

Publicado em 27/09/2019, às 10h20
CPRM -

Redação TNH1

A Braskem divulgou nesta sexta-feira, 27, um novo laudo onde contesta o relatório do Serviço Geológico do Brasi (CPRM), que diagnosticou a extração de sal-gema como causadora da instabilidade no solo dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió. Desde março do ano passado, após um tremor de terra, a região sofre com rachaduras, o que provocou a saída de boa parte dos moradores. 

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No relatório divulgado em maio, a CPRM afirmou que está ocorrendo a desestabilização das cavidades da extração de sal-gema, provocando halocinese (movimentação do sal), e criando uma situação dinâmica com reativação de estruturas geológicas antigas, subsidência (afundamento) do terreno e deformações rúpteis na superfície.

Segundo  a Braskem, "uma nova análise independente de especialistas de São Paulo e Londres confirma e concorda com os pesquisadores da Universidade de Houston: existem inconsistências de metodologias usadas na elaboração do Relatório Síntese da CPRM para explicar os fenômenos geológicos dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió. O relatório aponta também que as propriedades do solo interferiram nos danos dos três bairros", diz o texto. 

O trabalho é assinado por uma equipe de geólogos, geofísicos e engenheiros civis - quatro professores da USP (Universidade de São Paulo) e um professor do Imperial College de Londres.

Segundo os especialistas, o relatório da CPRM apresenta inconsistência de interpretação, com conclusões precipitadas diante das restrições de alguns métodos utilizados.

"Por exemplo: a gravimetria (método utilizado para auxiliar na interpretação da existência de falhas geológicas) feita pela CPRM só permite avaliar estruturas até 400m. Assim, em maiores profundidades o método não tem resolução suficiente para tirar conclusões. A extração de sal-gema da Braskem é feita em profundidade maior que 900m. “Os dados gravimétricos não têm informação quase nenhuma sobre estruturas mais profundas do que 400 m”, afirmam.

Sobre a qualidade do solo, os pesquisadores explicam que a CPRM não explicitou seu efeito sobre os afundamentos e trincas. Eles pontuam que a presença de sumidouros ou de erosão interna do solo é descrita em termos muito superficiais como se ocorressem genericamente em todo o município faltando seu detalhamento ou distribuição preferencial em área.

"Os pesquisadores foram a campo e fizeram uma avaliação detalhada das fissuras dos bairros e constataram que a direção delas não é compatível com a atividade de extração de sal-gema", diz o laudo. 

Tremor de terra

Em relação ao tremor de terra ocorrido em março do ano passado, os pesquisadores ouvidos pela Braskem concluíram que ele é de origem natural, e não provocado por ação humana, como assinala o relatório da CPRM. "A justificativa que consta no relatório da CPRM para essa conclusão foi a verificação de ondas de profundidade rasa. No entanto, os especialistas apontaram que o termo “raso” não foi quantificado", apontam.

"A equipe que participou da elaboração do relatório é coordenada pelo renomado professor doutor em geologia Georg R. Sadowski, conta com a colaboração de outros professores doutores como o geólogo John Cosgrove, o geofísico Marcelo Assumpção, os engenheiros civis Tarcísio B. Celestino e Luiz G. de Mello todos com ampla experiência científica e tendo formações acadêmicas incluindo a Universidade de São Paulo, o Imperial College de Londres, a Universidade de Edinburgh na Escócia e a Universidade de Berkeley na Califórnia", diz o texto.

A Braskem encaminhou os estudos e análises recebidas à Agência Nacional de Mineração (ANM). 

CPRM

Procurada, a CPRM disse que não teve acesso ao laudo e que desconhece o estudo e que, portanto, não irá se manifestar sem antes  conhecer o teor das análises.

Laudo da CPRM foi divulgado em audiência pública

O aguardado laudo da CPRM foi divulgado na audiência pública "Resultado dos Estudos sobre a Instabilidade do Terreno nos Bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió (AL)",  realizada em maio deste ano. O órgão, ligado ao Ministério de Minas e Energia, apontou a relação entre a extração de sal-gema pela multinacional Braskem, que causou uma fragilização do solo da área, que registrou um tremor de terra em março de 2018. 

O relatório aponta que está ocorrendo a desestabilização das cavidades provenientes da extração de sal-gema, provocando halocinese (movimentação do sal), e criando uma situação dinâmica com reativação de estruturas geológicas antigas, subsidência (afundamento) do terreno e deformações rúpteis na superfície (trincas no solo e nas edificações) em parte dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro. 

Na audiência, o assessor de hidrologia e gestão territorial da CPRM, Thales Sampaio, foi taxativo sobre a ligação do trabalho de mineração da Braskem com a situação do bairro. 

"As cavidades foram construídas exatamente na intersecção das estruturas ou em cima delas. Isso não deixou que as cavernas ficassem íntegras, causando a desestabilização das cavidades construídas pela Braskem", disse o especialista.  A audiência foi transmitida pelo TNH1, veja o vídeo.


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