Folhapress
"Nos Túmulos Abertos" é o nome do primeiro disco do Força Macabra. Um desavisado pensará se tratar de mais um trabalho de uma banda qualquer dos subterrâneos do underground brasileiro.
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Uma audição atenta, no entanto, levará o ouvinte a notar um sotaque diferente nos gritos que acompanham as guitarras distorcidas. Não, não é português de Portugal, nem de nenhum outro país lusófono.
Os finlandeses do Força Macabra, fundado na cidade de Helsinque, em 1991, tomaram uma decisão inusitada: compor em português. A ideia era homenagear as bandas brasileiras de punk e metal que os influenciaram na primeira metade dos anos 1980, como Cólera, Olho Seco, Ratos de Porão e Armagedom.
"Queríamos recriar o que imaginávamos ser feito uma década antes na cena musical underground brasileira, sobretudo punk, hardcore e metal", diz o baterista Otto Itkonen.
Eles tocam neste sábado (17) no Sesc Belenzinho, às 21h30, com abertura da também finlandesa Kovaa Rasvaa. O Força Macabra vai apresentar na íntegra o seu disco de estreia "Nos Túmulos Abertos", lançado em 1994. Os finlandeses também passam por Curitiba, Campinas, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
A turnê brasileira, promovida pelo coletivo Sinfonia de Cães, conta com a formação original que gravou as primeiras demos, um quinteto com nomes fictícios que remetem, como os aficionados por metal brasileiro dos anos 1980 notarão, a nomes do metal nacional: Taurus no vocal, Anthares e Abutre nas guitarras, Chakal no baixo e Antítese na bateria.
O nome do grupo foi tirado de um verso da música "Força Sinistra", da paulistana Skarnio, que ainda está em atividade e toca com os finlandeses neste domingo (18) em Curitiba.
A extensa discografia da banda inclui um EP em vinil de sete polegadas só com covers de grupos brasileiros.
"São 12 anos desde a nossa última visita ao Brasil. Esperamos encontrar uma nova geração de fãs do Força Macabra", diz Iktonen.
Homenagear bandas brasileiras não foi uma escolha aleatória. Otto conta que os grupos punks brasileiros eram populares na Finlândia nos anos 1980. E o contrário também acontecia. Grupos finlandeses como Riistetyt, Lama e Terveet Kädet foram e ainda são muito influentes entre os punks do Brasil.
"Para nós, as poucas fitas e vinis brasileiros que tínhamos soavam extremamente apaixonados, com muita raiva, e o visual era muito legal também. Acho que os problemas cotidianos de um país de terceiro mundo, com corrupção e ainda sob uma ditadura militar formavam um coquetel muito explosivo musicalmente. E, pelas cartas que trocávamos, víamos que os brasileiros também estavam loucos pelo hardcore finlandês."
Os integrantes do Força Macabra não sabiam falar português em 1991. Todo o contato que eles tinham com o idioma vinha dos discos. Isso, porém, não os desanimou. Nas primeiras composições, um amigo português traduziu as letras para eles. Com o tempo, o vocalista foi aprimorando suas habilidades no idioma de Camões (ou de João Gordo, se preferir), e na virada do milênio eles escreviam suas próprias letras sem a ajuda de tradutores.
Além do amigo português, alguns brasileiros também colaboraram com as composições, no que Otto Iktonen chama de "suporte linguístico". Javier Montecinos, da paulistana Armagedom, é citado como um dos maiores colaboradores.
"Eu acho que é como um círculo completo quando trazemos à vida alguns textos escritos por caras do Brasil que apreciam nosso trabalho. Coisas como essa mostram o poder e a dinâmica da comunidade underground."
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