Banco Central reduz Selic em 0,5 ponto, a 12,75%, e reforça importância de cumprir meta fiscal

Publicado em 21/09/2023, às 07h53
Marcelo Casal Jr/Agência Brasil -

Nathalia Garcia/Folhapress

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central seguiu a estratégia anunciada no encontro anterior e reduziu nesta quarta-feira (20) a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. Todos os nove integrantes votaram pelo corte.

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O Copom voltou a mencionar a questão fiscal em seu comunicado, reforçando a importância de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprir as metas estabelecidas. No encontro de agosto, o risco fiscal tinha sido retirado do comunicado pela primeira vez em mais de três anos.

"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", disse.

A equipe econômica tem como objetivo zerar o déficit primário já no ano que vem -meta considerada ambiciosa por economistas e vista com ceticismo até por membros do próprio governo, incluindo ministros, técnicos e congressistas.

O colegiado do BC antecipou que a prevê novos cortes na mesma intensidade -ou seja, de 0,5 ponto percentual- nas reuniões seguintes e disse que esse é o "ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".

Esse foi o segundo corte consecutivo promovido pelo colegiado do BC, que levou os juros ao menor nível em 16 meses. Em maio de 2022, a Selic estava em 11,75% ao ano.

A autoridade monetária iniciou o processo de flexibilização de juros em agosto, em uma decisão com placar apertado (5 a 4), na estreia dos primeiros diretores indicados pelo governo Lula (PT) -Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização).

O ciclo de cortes começou depois de o Copom ter mantido a Selic parada no patamar de 13,75% por um ano, a contragosto do presidente Lula, que disparou uma série de críticas à atuação do BC e fez pressão pela redução dos juros.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que o corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica era a expectativa unânime entre os economistas consultados, com base na sinalização feita pelo próprio BC.

Diante de uma expectativa do mercado financeiro por uma aceleração do ritmo de cortes de juros, o Copom falou em "serenidade e moderação".

"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial [em direção às metas], demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", afirmou.

"O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", continuou.

Segundo o colegiado do BC, a intensidade total do ciclo de flexibilização de juros dependerá de diferentes variáveis.

Ele cita a "evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima] e do balanço de riscos".

Desde o último Copom, a inflação corrente mostrou uma dinâmica mais benigna, com melhora no desempenho de preços de serviços, que estão subindo mais lentamente.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou para 0,23% em agosto, abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro.

A principal pressão no mês passado veio da alta da energia elétrica, enquanto o grupo alimentação e bebidas mostrou nova trégua. Em 12 meses, a inflação acumulada acelerou para 4,61% até agosto.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação subiram. Para este ano, a estimativa saltou de 4,9% para 5% e, para 2024, passou de 3,4% para 3,5%. Para 2025, a estimativa é de 3,1%, ante 3% no encontro anterior.

Quanto à percepção dos economistas, o boletim Focus mostrou interrupção no processo de queda das expectativas. A projeção para o IPCA deste ano passou de 4,84% em agosto para 4,86% na última segunda-feira (18).

Para a inflação do ano que vem, a expectativa oscilou marginalmente de 3,89% para 3,86% e, para 2025, se manteve estável em 3,5% –acima do centro da meta (3%).

O BC mira hoje o objetivo fixado para 2024 e já começa a olhar também para 2025, quando terá início o modelo de alvo contínuo após mudança no sistema de metas.

No próximo ano, a meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que ela será considerada cumprida se oscilar de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

O cenário doméstico também foi marcado pela resiliência da atividade econômica, que levou o Ministério da Fazenda a aumentar sua projeção de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, de 2,5% para 3,2%. Houve ainda alta nos preços do petróleo e depreciação da taxa de câmbio.

Em seu balanço de riscos para a inflação, o BC continuou com a avaliação de que permanecem fatores em ambas as direções. Entre os motivos que puxariam os preços para cima, mencionou a persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.

Na direção contrária, entre os ricos de baixa, o comitê citou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Copom volta a se reunir nos dias 31 de outubro e 1º de novembro para recalibrar o patamar da Selic.

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