PT culpa o próprio PT pela vitória da centro-direita nas eleições deste ano: “Distorção do sistema político”

Publicado em 09/10/2024, às 18h00

Redação

Em nota, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores diz que a vitória da centro-direita nas eleições municipais do último domingo provoca “distorção do sistema político”.

Argumenta o partido que o predomínio do Centrão foi provocado pela ampla distribuição de “emendas bilionárias” ao Orçamento Geral da União, liberadas, ironicamente, pelo presidente Lula, figura mais ilustre do próprio PT.

A análise é da jornalista Vera Rosa:

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“A cúpula do PT atribui o melhor resultado de partidos de centro-direita e direita no primeiro turno das eleições municipais a uma ‘distorção do sistema político’, com a distribuição de ‘emendas parlamentares bilionárias’. Em reunião da Executiva Nacional, dirigentes petistas admitiram ‘eventuais equívocos’ na tática eleitoral, mas destacaram que a avaliação precisa levar em conta a ‘perseguição’ contra o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

‘O resultado do primeiro turno de 2024 aponta o início da recuperação eleitoral do PT nos municípios, num cenário que mais uma vez favoreceu a eleição ou reeleição de candidatos das legendas da centro-direita e direita dominantes no Congresso Nacional, com acesso a emendas parlamentares bilionárias e no comando das máquinas públicas municipais’, diz trecho da nota da Executiva, aprovada nesta terça-feira, 8. ‘O alto índice de reeleições, que beira os 80% nas cidades que mais receberam emendas parlamentares, confirma essa distorção no sistema político’.

Como mostrou o Estadão, o PT decidiu se engajar, neste segundo turno, nas campanhas de outros partidos ‘contra candidatos de extrema-direita, sem vacilações’. A condição exigida é que o nome a ser apoiado não integre a lista de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Centrão, que sai fortalecido das urnas, faz parte da base de sustentação do governo Lula no Congresso.

O documento aprovado também destaca que, “mesmo enfrentando tamanho desequilíbrio”, o PT passou de 183 para 248 prefeitos e vai disputar o segundo turno em 13 cidades, sendo quatro capitais: Fortaleza, Porto Alegre, Cuiabá e Natal. Em São Paulo, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, tem o apoio do PT, com Marta Suplicy como vice da chapa.

Na prática, o balanço feito pela cúpula do partido é positivo, embora dirigentes da chamada esquerda petista tenham observado que era preciso “reconhecer a derrota” sofrida no primeiro turno. O PT amagou revezes importantes na região Nordeste – antigo ‘cinturão vermelho’; no ABC, berço do partido, e em cidades estratégicas de São Paulo, como Araraquara.

Nas eleições de 2020, a sigla conquistou 183 prefeituras, mas, após trocas partidárias, chegou a 265, como consta de documento produzido no mês passado pelo Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE). O número de vereadores passou de 2.668 para 3.118 em chapas compartilhadas com o PV e o PCdoB na federação.

Partidos do Centrão garantiram a hegemonia nas cidades campeãs de emendas parlamentares ao Orçamento, como antecipou o Estadão. Além disso, ministro desse grupo politico também conseguiram emplacar aliados em prefeituras.

 O Piauí foi um dos Estados mais representados no ranking das 50 cidades que mais receberam emendas. Governado pelo PT desde 2015, o Estado também é território do senador Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro da Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro. O PT perdeu a eleição em Teresina, capital do Piauí.

No diagnóstico traçado pela Executiva petista, a extrema direita representada por Bolsonaro só cresceu após ‘a farsa da Lava Jato’ e ‘o golpe contra a presidenta Dilma’ (Rousseff). A nota que passou pelo crivo da cúpula do PT diz que esse período histórico ‘abriu as portas para a extrema direita aliada ao neoliberalismo mais selvagem, que seguem ameaçando o país e o sistema democrático’.

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